sexta-feira, 28 de abril de 2017

O que aconteceria se todos os vulcões do mundo entrassem em erupção ao mesmo tempo?

O que aconteceria se todos os vulcões do mundo entrassem em erupção ao mesmo tempo?
 
O que aconteceria se todos os vulcões do mundo entrassem em erupção ao mesmo tempo? Mesmo sendo muito improvável que aconteça, este é um experimento teórico – e experimentos teóricos são o alicerce do processo cientifico.
Jessica Ball, uma geofísica e vulcanologista do United States Geological Survey (USGS), ponderou muito sobre um fim do mundo induzido por vulcões. Recentemente, ela falou para o Flash Forward sobre como ela previu o acontecimento de uma catástrofe vulcânica, destacando que alguns vulcões seriam muito mais perigosos que outros, e que o clima mundial mudaria, talvez irreparavelmente. Contudo, é possível que as coisas ficassem ainda mais severas do que a vulcanologista sugere.

Lava e nuvens de cinzas
Inicialmente, haveria pânico em massa ao verem todos os vulcões explodirem. Vulcões conhecidos pelas suas erupções mais lentas e calmas – como o vulcão Kilauea, no Hawaii, ou o Erta Ale, na Etiópia – só iriam derramar uma lava quente e liquida em si mesmos, o que seria um inconveniente para quem mora perto. No entanto, a lava se move tão lentamente ao sair destes vulcões, que as pessoas poderiam fugir e se salvar.
Entretanto, os estratovulcões mais altos, como o Monte Fuji, e erupções em fissuras embaixo d’água ou gelo, como as que existem na Islândia, iriam causar mais problemas. Ambos iriam produzir tantas cinzas que o céu ficaria coberto e o mundo ficaria mais escuro, mergulhando-o em um inverno vulcânico congelante, inicialmente. Sem a luz do Sol, a agricultura iria entrar em colapso, assim como a maior cadeia alimentar.
As pessoas iriam morrer de fome, e qualquer um que respirasse aquela cinza iria sofrer paradas respiratórias lentas e agonizantes. Os que estivessem se escondendo em prédios estariam vulneráveis a colapsos infraestruturais, pois a maior parte das cinzas é cinco vezes mais densa do que a água, e a maioria das estruturas não são projetadas para aguentar toneladas de cinzas caindo em cima delas.
Em termos dos Fujis do mundo, a lava e as bombas de lava capazes de esmagar uma pessoa seriam as menores de nossas preocupações. Um grande e catastrófico fluxo piroclástico iriam descer os vulcões a velocidades estrondosas e iriam, quase instantaneamente, matar qualquer um em seu caminho. Os que estivessem tentando escapar em um avião iriam descobrir que os motores estavam derretendo, pois as cinzas entrariam nele e começariam a derreter de novo, voltando ao estado de lava.
Uma crônica de gelo e fogo
Assim como Ball indica, a pior parte viria das consequências que erupções vulcânicas tão grandes iriam trazer para o clima. Como mencionado anteriormente, o mundo iria ser envolvido por um inverno vulcânico, e o conceito de estações desapareceria, como já foi observado após a famosa erupção do Monte Tambora, em 1815. O ano após o desastre ficou conhecido no hemisfério norte como “o ano sem verão”.
Os vulcões livraram o mundo das garras da era do gelo no passado. Neste caso, “era do gelo” se refere a um dos, prováveis, cinco períodos na história da Terra em que o mundo estava extremamente frigido e em que as geleiras prevaleciam. Mas isto não se refere a um máximo glacial, onde a oscilação do eixo da Terra faz com que ela se afaste cada vez mais do sol, o suficiente para que as geleiras invadam até mesmo as latitudes mais baixas.
Durante períodos de quebra continental, quando supercontinentes, como Pangaea ou Rodina se separaram, o vulcanismo entra em ação e quantidades enormes de dióxido de carbono são lançadas na atmosfera. Isso aquece o mundo rapidamente, e a coberta de gelo se retrai em direção aos polos.
Mesmo tendo um esfriamento global inicialmente, quando grandes quantidades de enxofre capaz de refletir a luz solar são lançados no céu, a liberação de dióxido de carbono iria superar este efeito a longo prazo – algo que foi observado imediatamente seguindo a extinção em massa da era permiana a 252 milhões de anos, quando mais de 90% da vida na Terra morreu. Uma tendência similar foi vista quando ocorreu a grande extinção no período cretáceo, 66 milhões de anos atrás, quando os dinossauros não aviários morrem.
Se todos os vulcões do mundo entrassem em erupção de uma vez só, certamente isso seria o que iria acontecer a longo prazo, mas muito mais severamente do que a vida terrestre já experimentou previamente. Não somente isso, mas enormes reservatórios instáveis de metano – um gás de efeito estufa muito potente, mas de curta duração – também seriam liberados de suas prisões congeladas no solo do Ártico.
Isso aceleraria o aquecimento global, consequentemente fazendo com que mais metano escapasse do gelo para a atmosfera, criando um ciclo mortal. Oceanos mais quentes também seguram menos dióxido de carbono, então grandes quantidades dele também iriam escapar em direção do céu.

Um instável mundo pós-apocalíptico.
Considerando tudo, nosso planeta estaria passando por um inexorável ciclo de aquecimento global. Se ele aquecesse ao ponto em que as plantas e árvores não conseguissem sobreviver, um grande depósito de dióxido de carbono morreria com elas. E se o aquecimento chegasse a um ponto em que toda a água evaporasse, o depósito de dióxido de carbono contido no oceano também estaria acabado.
Ao fim, poderíamos acabar parecidos com Vênus, cuja atmosfera é rica em dióxido de carbono, e onde a água é completamente ausente na superfície. Como você pode imaginar este cenário está longe do ideal, mas a condenação pode não terminar ai.
A aproximadamente 3.5 bilhões de anos, Marte experimentou uma erupção vulcânica tão prolongada que acabou arrancando seu próprio manto, a camada parcialmente derretida a baixo da crosta, e o depositou na sua superfície. Este grande desiquilíbrio de massa fez com que a temperatura do planeta vermelho “despencasse” em 20° C, causando uma mudança nos parâmetros de sua orbita. Isso seria como se Paris de repente ficasse no lugar do Polo Norte.
Se todos os vulcões da Terra entrassem em erupção, e a maioria do magma fosse expelida na superfície dos locais mais próximos a vulcões, como o Hawaii e Yellowstone, a Terra provavelmente também se inclinaria.
Como conclusão deste conto obscuro e destrutivo, nos ficaríamos com um planeta queimado, desolado, sufocante, instável e sem vida.
Climatologia Geográfica

Língua islandesa em risco: computadores não conseguem entendê-la

Língua islandesa em risco: computadores não conseguem entendê-la
 
Quando um cidadão da Islândia chega a um escritório e vê a palavra “solarfri”, ele não precisa de mais nada para explicar por que o lugar esta vazio: a palavra significa “quando os funcionários ganham uma tarde de folga inesperada para aproveitar o clima bom”.
Os povos desta ilha acidentada do Atlântico Norte, estabelecidos por homens nórdicos à 1.100 anos, possuem um dialeto de antigas línguas nórdicas adaptadas para a vida na beira do Ártico.
“Hundslappadrifa”, por exemplo, significa “nevasca pesada com grandes flocos de neve, ocorrendo em vento calmo”.
Mas a língua islandesa reverenciada, vista por muitos como uma fonte de identidade e orgulho, está sendo exterminado pela difusão da língua inglesa, tanto por causa do turismo em massa, como também pelos dispositivos de inteligência artificial controlados por voz que estão entrando em voga.
Especialistas em linguística, estudando o futuro de uma língua falada por menos de 400.000 pessoas em um mundo cada vez mais globalizado, se perguntam se este não seria o começo do fim da linguagem islandesa.
A ex-presidente Vigdis Finnbogadottir disse ao The Associated Press que a Islândia deve tomar algumas atitudes para proteger a sua linguagem. Ela esta particularmente envolvida no desenvolvimento de programas que facilitem o uso da língua em tecnologias digitais.
“Caso contrário, a língua islandesa irá ter o mesmo fim que o latim,” ela avisou.
Professores já estão sentindo uma mudança entre os estudantes no âmbito de seus vocabulários, leituras e compreensões quanto à língua islandesa.
Anna Jonsdottir, uma consultora de ensino, disse que ela frequentemente escuta os jovens falando inglês entre eles quando ela visita escolas na capital da Islândia, Reykjavik.
Ela disse que estudantes de 15 anos de idade não recebem mais como tarefas um volume da Saga dos Islandeses, a literatura medieval que conta a história dos primeiros colonizadores da Islândia em forma de crônica. Os islandeses já não se orgulham de serem capazes de ler com fluência os contos épicos originalmente escritos em pele de bezerro.
Muitas escolas de ensino médio também estão esperando até o último ano para dar como conteúdo a leitura das obras de Halldor Laxness, o ganhador do prêmio Nobel de literatura de 1955, que descansa em um pequeno cemitério perto de sua fazenda no oeste da Islândia.
Numerosos fatores se combinam e fazem do futuro da linguagem islandesa incerto. O turismo explodiu em anos recentes, se tornando o maior empregador do país, e analistas do Banco Arion disseram que um a cada dois novos empregos está sendo preenchido por trabalho estrangeiro.
Isso aumenta o uso do inglês como um comunicador universal e diminui o papel da língua islandesa, segundo especialistas.
“Quanto menos útil a língua islandesa se tornar no dia a dia das pessoas, mais perto nós, como uma nação, ficamos de desistir de usá-la,” disse Eirikur Rognvaldsson, um professor de linguagem na Universidade da Islândia.
Ele embarcou em um estudo de três anos com 5.000 pessoas, que será o maior inquérito já feito sobre o uso de uma linguagem.
“Estudos preliminares sugerem que crianças ao longo de sua primeira aquisição linguística não são expostas o suficiente à língua islandesa para criar uma base forte,” ele disse.
As preocupações quanto a língua islandesa não são novas. No século 19, quando o seu vocabulário e sintaxe eram muito influenciados pelo dinamarquês, movimentos independentes lutaram para reviver a língua islandesa como a linguagem comum, usando como afirmação central que os islandeses eram uma nação.
Desde que a Islândia se tornou independente da Dinamarca em 1944, os seus presidentes têm defendido ferozmente a necessidade de proteger a linguagem.
Asgeir Jonsson, um professor de economia da Universidade da Islândia, disse que sem uma linguagem própria a Islândia poderia passar por uma drenagem cerebral, particularmente entre certas profissões.
“Uma cidade britânica com uma população do tamanho da Islândia têm muito menos cientistas e artistas, por exemplo,” ele disse. “Eles simplesmente se mudaram para a metrópole.”
O problema se agravou por que muitos dispositivos computadorizados novos são projetados para reconhecer a língua inglesa, mas não entendem a islandesa.
“Não poder falar em islandês para geladeiras ativadas por voz, robôs interativos e dispositivos similares seria outro campo perdido,” disse Jonsson.
O islandês se encontra entra as mais fracas e menos apoiadas línguas em termos de tecnologia digital – junto com gaélico irlandês, letão, maltês e lituano – de acordo com uma reportagem pelo Multilingual Europe Technology Alliance avaliando 30 linguagens europeias.
O ministro da educação da Islândia estima que 1 bilhão de coroas islandesas, ou $8,8 milhões de dólares, seriam necessárias para o financiamento de um banco de dados de acesso livre para ajudar desenvolvedores de tecnologia a adaptar o Islandês como uma opção de idioma.
Svandis Svavarsdottir, um membro do parlamento islandês do Movimento de Esquerda Verde, disse que o governo não deveria medir custos quando a herança cultural da nação está em risco.
“Se esperarmos, talvez seja tarde demais,” ele disse.
 

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Sonda Cassini se aproxima de seu "Grande Final" em Saturno


 
 
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Cassini

Após 13 anos em órbita, a sonda Cassini-Huygens já está enviando informações para a Terra após ter feito seu primeiro "mergulho" entre os anéis de Saturno - são 22 planejados para os próximos cinco meses.
A Cassini começou a executar a manobra - considerada difícil e delicada - na última quarta-feira e restabeleceu contato com a Nasa (agência espacial americana) na manhã desta quinta.
A sonda se movimenta a 110 mil km/h, tão rapidamente que qualquer colisão com outros objetos - mesmo partículas de terra ou gelo - poderia provocar danos.
Por esse motivo, a Cassini usou sua antena maior como escudo e ficou inacessível durante o mergulho.
Os mergulhos programados para chegar bem perto de Saturno têm por objetivo obter informações de qualidade máxima.
Em sua melhor resolução, as imagens dos aneis poderão captar itens menores, de até 150 metros.
A equipe da Cassini já começou a divulgar no site da Nasa algumas imagens recentes e não tratadas de Saturno .

Sonda Cassini em Saturno

"Nenhuma sonda conseguiu chegar tão perto assim de Saturno antes", disse Eral Maize, da equipe de programadores da Cassini.
"Nós só podemos nos planejar de acordo com previsões, baseadas em nossa experiência com outros anéis de Saturno, de como pensamos que esse espaço entre Saturno e os anéis podem ser. Sinto orgulho de dizer que o mergulho de Cassini nesse espaço foi tão bom quanto planejamos e que a sonda voltou sem sofrer danos."
Outros 21 mergulhos semelhantes serão feitos a partir de agora - o próximo está programado para terça-feira. Mas a Cassini tem limitações de combustível e não poderá continuar na missão por muito tempo.
A Nasa chama esses mergulhos de "grand finale" por causa da ambição do percurso. A missão está prevista para terminar em setembro, quando acabar o combustível da nave e ela se lançar sobre a atmosfera do planeta.
Os últimos passos da sonda prometem imagens em resolução sem paralelo e dados científicos que podem desvendar o quebra-cabeça sobre a criação e a história do enorme planeta.
"Vamos terminar essa missão com muitas informações novas, dados incríveis nunca antes descobertos", diz Athena Coustenis, do Observatório de Paris em Meudon, na França. "Esperamos conseguir (dados sobre) composição, estrutura e dinâmica da atmosfera, além de informações fantásticas sobre os anéis."
Um objetivo central é determinar a massa e, portanto, a idade dos anéis - formados, acredita-se, por gelo e água. Quanto maior a massa, mais velhos eles podem ser, talvez tão antigos quanto Saturno.
Os cientistas pretendem descobrir isso ao estudar como a velocidade da sonda é alterada enquanto ela voa entre os campos gravitacionais gerados pelo planeta e pelas faixas de gelo que giram em torno dele.

Órbitas da Cassini

As órbitas terão uma inclinação de 63 graus em relação ao equador de Saturno e prometem as observações em melhor resolução já feitas no interior dos anéis e das nuvens do planeta.
Cassini também deve medir o campo gravitacional de Saturno a apenas 3 mil km da camada mais externa de nuvens, aumentando significativamente os modelos atuais de medição da estrutura interna do planeta e de seus ventos na atmosfera.
Os cientistas também esperam poder medir separadamente a gravidade do planeta, sem contar a influência exercida pelos anéis sobre a espaçonave, o que representaria uma precisão sem precedentes.
"No passado, não conseguimos determinar a massa dos anéis porque Cassini estava voando fora deles", explica Luciano Iess, da Universidade Sapienza de Roma, na Itália.
"Somos capazes de estimar a velocidade de Cassini com uma precisão de poucos microns por segundo. Isso é fantástico se você considerar que estamos a mais de um bilhão de quilômetros de distância da Terra."
No entanto, saber a massa exata do planeta pode não necessariamente resolver a questão da idade, afirma Nicolas Altobelli, cientista da Agência Espacial da Europa, parceira da Nasa na missão.

Cassini

"Ainda precisamos entender a composição dos anéis de Saturno. Eles são feitos de água e gelo. Se são assim tão velhos, formados na mesma época que Saturno, como podem parecer tão inteiros considerando que são bombardeados o tempo todo por pedaços de meteoritos?", questiona.
Uma possibilidade é que os anéis na verdade sejam bastante jovens, talvez as sobras de um cometa gigante que tenha chegado perto demais de Saturno e se partido em inúmeros fragmentos.
BBC Brasil
 

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Efeito do aquecimento global será dobrado nas cidades se comparado com campo

Aquecimento global — Fotografia de Stock #10272403
 
O aumento das temperaturas derivadas da mudança climática afetará muito mais as cidades do que o entorno rural, e se seguir o ritmo atual de aquecimento, nos próximos 50 anos o impacto das ondas de calor pode se multiplicar por quatro.
Essa é a principal conclusão de um estudo da Universidade de Lovaina (Bélgica), cujos primeiros resultados foram apresentados nesta segunda-feira durante a assembleia que a União Europeia de Geociências realiza em Viena.
"O efeito negativo da mudança climática, no que se refere à temperatura, será dobrado nas cidades se comparado com o campo", resume para Agência Efe Hendrik Wouters, um dos autores de um relatório que está ainda em fase de revisão e que será apresentado em breve.
Embora a temperatura nas cidades seja maior que no entorno rural, especialmente durante a noite, efeito conhecido como "ilha de calor", este estudo quantifica pela primeira vez até que ponto as cidades sofrerão mais do que o campo com os efeitos do aquecimento global.
O pesquisador belga afirmou que há estudos sobre como as ondas de calor aumentam os investimentos nos hospitais, diminuem a produtividade, elevam os danos às infraestruturas e, em casos extremos, disparam inclusive a mortalidade, como aconteceu em Paris no verão de 2003.
Este estudo analisou como este efeito interage com as ondas de altas temperaturas derivadas da mudança climática.
Os pesquisadores utilizaram medições de temperaturas dos últimos 35 anos na Bélgica, comparando a frequência e a intensidade das que disparam os limites de alerta de temperatura, a partir dos quais são esperados efeitos como, por exemplo, problemas de saúde.
Nesse período, as ondas de calor foram muito mais intensas nas cidades do que no campo, um fenômeno que deve se agravar no futuro.
Usando simulações e modelos gerados com supercomputadores, as primeiras estimativas preveem que para o período 2041-2075, o impacto do calor nas cidades se multiplicará por quatro.
Essas ondas de calor, medidas tanto em sua frequência como em sua duração e intensidade, serão duplamente mais graves nas cidades que no entorno rural.
Segundo explicou Wouters, essas previsões correspondem a um cenário médio e reconhece que há muitos fatores que podem afetar os cálculos, desde quantos gases de efeito estufa continuarão sendo jogados na atmosfera ou quão grande será o crescimento das cidades.
Assim, o pior cenário possível é o de ondas de calor que excederiam em até 10 graus centígrados os níveis de alerta e se prolongariam durante 25 dias no verão.
Pelo contrário, em um cenário no qual as emissões de gases se reduziram drasticamente, o efeito das ondas de calor nos próximos 50 anos seria parecido com o atual.
Embora os cálculos tenham utilizado medições na Bélgica, Wouters indica que se forem exploradas outras regiões de latitudes média, por exemplo o sul da Europa, seriam esperados resultados similares.
O pesquisador assegura que, as cidades terão que desenvolver medidas de adaptação e mitigação.
Medidas que, assegurou, as cidades do norte de Europa podem copiar de zonas mais meridionais onde as pessoas já estão adaptadas ao calor há gerações.
Contudo, Wouters se referiu à necessidade de um "redesenho" das cidades, apostando por exemplo pelo crescimento vertical, a redução das emissões e por "dar às pessoas infraestruturas para que possam mudar sua forma de vida".

domingo, 23 de abril de 2017

A madeira: o material do qual o mundo é feito

Sauna Grotto. O estúdio Partisans trabalhou com uma técnica japonesa – Shou Sugi Ban – que corrói a madeira dando-lhe uma aparência escultural. Como uma caverna escavada, esta sauna de Toronto (Canadá) está formada por painéis de cedro encaixados.

A arquitetura mais ancestral, que remete às árvores e ao acaso, foi construída pelo clima, furando as montanhas, ou a casualidade, unindo copas de arbustos. A madeira é um material primário e, no entanto, carregado de futuro. Sendo o componente mais cálido de tantos edifícios, é também renovável e reciclável. Dizem que a madeira vive porque range, tem cheiro e responde ao clima e ao passar do tempo, mudando sua densidade e firmeza. William Hall, autor do livro Wood (Phaidon), avalia que, além disso, é também um ingrediente inteligente: a tecnologia acrescentou resistência física à sua impagável capacidade isolante, acústica e térmica.
 Uma casa medieval de carvalho diz tanto sobre a sociedade do século XIV quanto as coníferas com as quais foi construída. A própria natureza definia então o tamanho das vigas, das treliças e das colunas com as quais os edifícios eram construídos. Hoje a madeira é submetida a processos de transformação e resistência. O maior edifício construído com esse material está em Tillamook, no Estado do Oregon (EUA). O Hangar B, que funciona como um museu do ar, foi construído em 1943, depois do ataque a Pearl Harbor. Um primeiro Hangar A funcionou como aeroporto até um incêndio ocorrido em 1992. Hoje isso poderia ser evitado: tratamentos à prova de fogo permitiram restaurar a construção com bambu de países tropicais.

Fundação Cerezales Antonino y Cinia. Feito com madeira de larício, tem una superfície de 2.700 m2 em forma de cinco naves.

A madeira está cada vez mais resistente. Em Sevilla, Jürgen Mayer construiu uma gigantesca pérgola de bétula laminada exposta ao sol e à chuva sobre a Praça de la Encarnación. Uma brincadeira da comunidade batizou o Metropol Parasol de Os Cogumelos. A anedota revela como vanguarda e tradição convivem nos edifícios construídos com madeira.
Embora algumas macroestruturas, como o topo da abadia de Westminster ou a do terminal portuário Yokohama, de Alejandro Zaera, tenham sido construídas com tábuas, talvez a arquitetura de madeira mais famosa seja a menor. Le Corbusier construiu sua Cabanon en Cap-Martin por volta de 1952. Naquela época, o autor do Parlamento de Chandigarh havia redefinido a arquitetura doméstica e estava a um passo de repensar religiosa. No entanto, para si mesmo, escolheu três metros quadrados de madeira junto ao Mediterrâneo. O arquiteto aparece nas fotos como um primitivo cosmopolita: se lavando com uma mangueira e comendo no restaurante L'Étoile de Mer.
A inteligência que torna a madeira resistente também é demonstrada pelo inexpugnável Castelo de Himeji. Embora seus ailerons ornamentados desenhem uma silhueta delicada, o famoso forte japonês do século XVII nunca foi atacado. A inteligência o defendia mais do que a força: era o rangido da madeira que devia alertar sobre a invasão do inimigo e o labirinto de escadas que ajudava a evitá-la.

Fundação Cerezales Antonino y Cinia. Este projeto de Alejandro Zaera, inaugurado este mês ganhou o I Prêmio de Construção Sustentável de Castela e Leão.

Instinto e inteligência determinam a construção com um material que associamos com a tradição e com a falta de pretensão. Mas é sua capacidade de transmitir idêntico calor nas cabanas mais tradicionais e nas coberturas mais modernas o que torna a madeira o material mais humano.
 

O tesouro em minerais raros encontrados em montanha submarina no Oceano Atlântico

Em uma montanha submarina, nas águas do Oceano Atlântico, está um tesouro de raros minerais.
Uma equipe de investigadores do Centro Nacional de Oceanografia (NOC, na sigla em inglês) do Reino Unido identificou um crosta de rochas extremamente rica em minerais raros nas paredes desse monte, a 500 quilômetros das Ilhas Canárias.
Amostras trazidas à superfície detectaram a presença de uma substância rara conhecida como telúrio em concentrações 50 mil vezes mais elevadas que as já identificadas na terra. O telúrio, comum em ligas metálicas, é usado também em um tipo avançado de painel solar.
A montanha também contêm minerais e terras-raras usados na fabricação de turbinas eólicas e em dispositivos eletrônicos.
A descoberta levanta uma questão delicada: se a busca por recursos alternativos de energia pode impulsionar a exploração mineral no fundo do mar.

Controvérsia

O monte submarino, cujo nome é Tropic, tem três mil metros de altura e seu cume fica a 1 mil metros da superfície.
Os pesquisadores do Centro Oceanográfico Nacional (NOC na sigla inglesa) do Reino Unido usaram robôs submarinos para investigar a crosta de grãos finos que cobre toda a superfície da montanha e tem espessura de quatro centímetros.
Bram Murton, líder da expedição que explora a Tropic, contou à BBC que esperava encontrar minerais em abundância no local, mas jamais imaginou que as concentrações dos mesmos seriam tão elevadas.
"Esta crosta é incrivelmente rica e é isso que faz com que essas rochas sejam incrivelmente especiais e valiosas do ponto de vista de recursos", explicou.
 
Detalhe de uma rocha do Monte Tropic

Debate necessário

Murton calcula que as 2.670 toneladas de telúrio da montanha equivalem a um duodécimo de todo o consumo mundial.
O pesquisador deixou claro que não está defendendo a prática da mineração no mar. A atividade foi recentemente regulamentada pela ONU, mas já provoca controvérsia pelos danos potenciais que pode causar ao meio ambiente marinho.
Ainda assim, Burton quer que a descoberta da equipe dele - parte de um projeto mais amplo chamado MarineE-Tech - provoque um debate sobre de onde devem vir os recursos vitais.
"Se precisamos de energia verde, precisamos de materiais para construir dispositivos capazes de gerar esse tipo de energia [limpa]. E esses materiais têm de vir de algum lugar", disse.
"Ou os tiramos da terra e fazemos um buraco lá. Ou os tiramos do fundo do mar e fazemos ali um buraco comparativamente menor", afirmou Murton, que acredita que esse é um dilema que precisa ser enfrentado por toda a sociedade. "Tudo o que fazemos tem um custo".
Pesquisadores têm pesquisado benefícios e riscos da mineração em terra e no mar.
 
Fundo do mar

Vantagens e desvantagens

De forma geral, a mineração em terra implica em desmatar, remanejar povoados e construir vias de acesso para remover rochas com concentrações relativamente baixas de minerais (ou de minério).
No mar, por sua vez, os minérios são muito mais ricos, ocupam uma área menor e o impacto imediato sobre populações é bem menor. A desvantagem é que a vida marinha nas áreas de extração corre praticamente morre, e esse efeito devastador pode se estender rapidamente e, potencialmente, comprometer uma grande área.
Uma das principais preocupações é o efeito da poeira produzida ao se cavar o fundo do mar, que pode viajar longas distâncias e afetar organismos vivos pelo caminho.
Para entender as possíveis implicações, a expedição britânica realizou um experimento no qual tentou reproduzir os efeitos da mineração para medir a quantidade de pó produzido.
Os resultados preliminares, disse Murton, mostram que a poeira não é facilmente detectada a um quilômetro de distância além da fonte. Isso indica que o impacto da mineração submarina poderia ser mais localizado do que o inicialmente previsto.

Rico como a floresta tropical

Outro estudo, conduzido pelo mesmo grupo, avaliou evidências fornecida pela exploração do fundo do mar em curso e concluiu que muitas criaturas marítimas afetadas se recuperariam em um ano. Poucas, entretanto, voltariam a alcançar seus níveis anteriores, mesmo depois de duas décadas.
Uma pesquisa focou em organismos minúsculos no leito do Oceano Pacífico, na região conhecida como Zona Clarion-Clipperton, ao sul do Havaí.
 
Praia nas Ilhas Canárias
 
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) - uma organização ligada às Nações Unidas - autorizou empresas de 12 países a buscar minerais nas rochas do fundo do mar dessa região.
De acordo com Andy Gooday, professor do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, as rochas do fundo do mar têm uma variedade de organismos unicelulares do tipo xenophyophorea muito maior do que se esperava.
Esses organismos estão nos degraus mais inferiores da cadeia alimentar marinha. Também desempenham um papel importante na formação de estruturas sólidas - como se fossem recifes de coral em miniatura - e fornecem habitats para outras criaturas marinhas.
 
Floresta tropical nublada
 
Para Gooday, a vida identificada nos sedimentos do oceano profundo é comparável à que existe em uma floresta tropical e "é muito mais dinâmica" do que imaginava.
"Se você remover os organismos unicelulares, que são muito frágeis e certamente serão eliminados pela mineração, outros organismos também serão destruídos", disse.
"É difícil de prever e, como todo o oceano está conectado aos efeitos da mineração, precisamos aprender mais. Nós ainda sabemos muito pouco sobre o que está acontecendo lá em baixo", completou.
BBC Brasil

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Cientistas descobrem "Superlua" que pode concentrar busca por vida


Um planeta recém-descoberto pode se tornar o novo local predileto na busca por sinais de vida fora do nosso Sistema Solar.
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Situado a 40 anos-luz de distância, na órbita de uma estrela anã vermelha menor e mais fria que o Sol, o LHS 1140b é maior e tem muito mais massa que a Terra - não por acaso, tem sido chamado pelos cientistas de "Superterra".
Segundo os astrônomos, o planeta provavelmente retém boa parte de sua atmosfera - o que o torna um alvo interessante para futuros estudos.
A descoberta foi feita com a ajuda do Observatório de Genebra, na Suíça, e do Observatório de La Silla, no Chile, entre outros. Os resultados serão publicados na edição da revista científica Nature desta quinta-feira.
De acordo com Jason Dittmann, pesquisador do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambridge (Massachusetts, EUA) e autor principal do estudo, trata-se do planeta "mais interessante que descobrimos na última década".
"Não podíamos desejar um alvo melhor para realizar uma das maiores buscas da ciência - a procura por vida fora da Terra", afirmou.

Menos radiação

De acordo com outro integrante da equipe de pesquisadores, Nicola Astudillo-Defru, do Observatório de Genebra, na Suíça, a estrela anã vermelha LHS 1140 gira mais lentamente e emite menos radiação de alta energia que outras estrelas semelhantes.
Para existir vida tal como a conhecemos, um planeta precisa de água em sua superfície e de uma atmosfera. Um problema é que, quando jovens, as anãs vermelhas emitem uma radiação que pode prejudicar as atmosferas dos planetas em sua órbita.
No caso descoberto agora, porém, cientistas desconfiam que o planeta possa ter possuído um oceano de magma no passado - a lava fervente pode ter alimentado a atmosfera com vapor depois que a estrela passou a emitir brilho constante.
Essas condições assegurariam que o planeta tenha água.
Os pesquisadores envolvidos na descoberta do LHS 1140b estimam que ele tenha pelo menos 5 bilhões de anos de idade e calcularam que seu diâmetro tem quase 18 mil km - 1,4 vezes mais do que a Terra. Já a massa é em torno de sete vezes maior.
A grande densidade do planeta indica que ele deve ser rochoso e ter um núcleo de ferro.
Agora, o telescópio espacial Hubble, da Nasa, irá observar o planeta recém-descoberto para medir exatamente quanta radiação de alta energia ele recebe. Isso é importante para saber mais sobre a eventual capacidade que o planeta tem de suportar vida.
Outros telescópios poderão, no futuro, fazer observações detalhadas das atmosferas de planetas distantes - quando isso acontecer, diz a equipe de cientistas, o LHS 1140b é um candidato excepcional para tais estudos.
BBC Brasil

terça-feira, 18 de abril de 2017

Por que um imperador da Etiópia foi adorado como deus na Jamaica

Quando se fala em rastafáris, provavelmente a primeira imagem que vem à cabeça de muitas pessoas é a do rei do reggae Bob Marley e seus rastas icônicos.
 
Mas além do famoso artista, há outro homem ainda mais importante no coração deste movimento - Ras Tafari. Esse foi o nome do último imperador da Etiópia, nascido em 23 de julho de 1892, mas ele adotou o nome real de Haile Selassie ao ser coroado.
Para os rastafáris, ele é Deus (Jah) encarnado, o messias redentor.
Mas como um imperador da Etiópia, cuja capital está situada a quase 13 mil quilômetros de Kingston, se tornou adorado na Jamaica?
O vínculo entre os dois, na verdade, está relacionado a um grupo de jamaicanos pobres que acreditavam que a coroação de Ras Tafari era o cumprimento de uma profecia e que ele era seu redentor, o messias: o "Rei dos reis, Senhor dos senhores".
Eles acreditavam que seriam libertados pelo imperador, que os tiraria da pobreza no Caribe e os levaria à África, a terra dos seus antepassados e um centro espiritual para os jamaicanos.

Quem era Ras Tafari?

Haile Selassie
 
Tafari era filho de um colaborador do imperador Menelik 2º, um dos governantes mais importantes da história da Etiópia, e casou-se com uma de suas filhas, Wayzaro Menen.
Desde a infância, sua inteligência chamou a atenção do imperador, que o ajudou a seguir carreira política. Quando a filha de Menelik 2º, a imperatriz Zauditu, morreu em 1930, seu protegido foi coroado imperador.
A coroação de Haile Selassie foi um evento esplendido e contou com a presença de autoridades do mundo todo.
Na época, o jornal The New York Times especulou que as celebrações haviam custado mais de US$ 3 milhões (R$ 9,5 milhões, em valores atuais). A revista Time dedicou a capa ao novo imperador, que logo se transformou em um fenômeno global.
Pouco depois da coroação, Selassie encomendou a primeira constituição escrita da Etiópia, que restringia em grande medida os poderes do parlamento.
Na prática, ele era o governo da Etiópia.
Segundo a constituição, a sucessão ao trono se restringia somente aos seus descendentes, e a pessoa do imperador era "sagrada, sua dignidade, inviolável e seu poder, indiscutível".
Mas, na Jamaica, Selassie estava se convertendo em algo mais do que um poderoso imperador.

A profecia de Marcus Garvey

Marcus Garvey
 
"Olhem para a África, onde um rei negro vai ser coroado, anunciando que o dia da libertação estará próximo". Essa é a profecia que deu início a toda história, e foi feita por Marcus Garvey.
Ele era um ativista jamaicano que lutou pela mudança política e social em uma ilha que havia sido um centro importante durante o período da escravidão.
Depois da abolição, em 1833, a vida não melhorou muito para os antigos escravos, nem para seus filhos ou para as gerações seguintes.
Ainda não está claro se o "rei negro" a quem Garvey se referia era uma pessoa real, mas o mais provável é que se tratasse de uma figura simbólica.
Mas, quando as notícias da coroação de Haile Selassie em 1930 chegaram à Jamaica, muitos dos seguidores de Garvey fizeram uma associação que lhes parecia lógica: Ras Tafari era rei, e, portanto, o dia da libertação estaria próximo. Isso significava que eles deveriam se preparar para um êxodo para a África.
Apesar de Marcus Garvey nunca ter sido um rastafári, ele é considerado um dos profetas do movimento, e suas ideias formaram a filosofia rastafári.
"O 'garveyismo' se converteu em um tipo de nacionalismo militante que deu aos negros um sentido de identidade com o conjunto da África, numa época em que a independência estava em evidência", afirma Jabob Bauman, em uma publicação da Universidade do Estado de Washington, nos EUA.
Atualmente, as crenças dos rastafáris são muito diferentes.
Enquanto os primeiros seguidores da religião procuravam um retorno à África, declaravam que seu único deus era Haile Selassie e que a Etiópia era o verdadeiro Sião (sinônimo de terra de Israel, ou terra prometida), hoje muitos dão mais importância a um retorno "espiritual".
Segundo o autor da Enciclopédia Global das Religiões, Stephen Glazier, o movimento rastafári se converteu em parte a um estilo de vida, mais que uma religião, e as práticas também variam muito. Entre elas, se destacam o consumo ritual da maconha (ganja) e o reggae.

Visita à Jamaica

Selassie
 
Poucos anos após a coroação de Haile Selassie, a Etiópia se envolveu em uma guerra terrível. Em 1935, o líder italiano Benito Mussolini invadiu o país e Selassie partiu para o exílio.
Ele ficou cinco anos fora do país e somente em 1941 foi restituído como imperador, com a ajuda da Grã-Bretanha.
Em 21 de abril de 1966, ele finalmente visitou a Jamaica - e mesmo 36 anos depois de sua coroação, o entusiasmo dos rastafáris seguia intacto, com uma nova geração de adeptos que cultivavam a ideia de um êxodo para a o continente africano.
Selassie foi tomado pela recepção eufórica, e não fez nada para dispersar crenças sobre sua suposta condição divina. Garvey já estava morto, e suas críticas a Selassie por deixar o país em tempos de guerra já haviam sido esquecidas na Jamaica.
Mas no resto do mundo o julgamento sobre ele não foi unânime - embora Selassie quisesse projetar uma imagem de um imperador progressista, ele também enfrentou acusações de ser um ditador ganancioso.
Entre a multidão que apareceu para honrar e receber seu "Redentor", estava a esposa de um músico jamaicano de 21 anos, que tinha acabado de formar uma banda chamada The Wailers.
Seu nome era Robert Nesta Marley.

O rasta mais influente

Rastafaris
 
Bob Marley foi o rastafári mais influente da história.
Ele nunca se classificou como profeta, embora muitas suas canções fossem consideradas com um caráter profético, e também nunca foi um líder, embora os seguidores o tratassem como tal.
Dois dos discos mais importantes da carreira de Marley - Catch a Fire, de 1973, e Natty Dread, de 1975, foram sucesso de vendas e estavam cheios de símbolos e motivos do rastafarianismo.
Na época do lançamento de Rastaman Vibration, em 1976, havia rastafáris em quase todas as cidades britânicas e em muitas partes dos Estados Unidos.
Jovens negros usavam o cabelo com os mesmos dreadlocks de Marley e vestiam roupas com as cores da bandeira etíope: verde, amarelo e vermelho.
Enquanto seus pais eram na maioria cristãos, jovens negros em cidades como Londres começaram a ser atraídos por uma teologia diferente, que incorporava a crítica política.

'Mentiras de Babilônia'

Selassie
 
Enquanto isso, as coisas se complicavam para Selassie na Etiópia. Em 1973, uma forte crise de fome matou cerca de 200 mil etíopes.
Um ano depois, um grupo de militares do Exército com uma agenda marxista chamado Derg destronou o imperador após um golpe militar. Ele morreu em 1975, doente e encarcerado.
Sua morte dele foi descrita por seus seguidores como uma "desaparição", já que eles se negavam a acreditar que Selassie havia morrido.
E quando se falava sobre ele, a comunidade rastafári usava frequentemente a frase "mentiras de Babilônia". Muitos acreditavam que a estrutura dominada por brancos - chamada por eles de "Babilônia", havia espalhado uma mentira para tentar debilitar o crescente movimento rastafári.
Outros simplesmente rechaçaram a notícia afirmando que Jah, o nome rastafári para Deus, havia apenas ocupado temporariamente o corpo de Selassie. A morte "corporal" do imperador era tida como um sinal de que Jah não era apenas um ser humano, mas também um ente espiritual.
Uma terceira interpretação - e a mais aceita entre os rastafáris - se refere ao conceitos sobre a unidade essencial de toda a humanidade. Segundo esse princípio, ainda que habitemos corpos distintos, todos estamos unidos espiritualmente.
Pode ser que Haile Selassie já tivesse partido, mas vê-lo como um único deus é uma interpretação errônea do significado do rastafári: seu espírito está em todos nós e não pode ser extinto.
Segundo eles, desde que nascemos, somos todos corpos efêmeros, mas nossas almas seguem vivendo.
.BBC Brasil

Como um imenso rio desapareceu em 4 dias no Canadá.

O Slims é um rio imenso que se alimenta da água da geleira Kaskawulsh, no noroeste do Canadá. Em suas partes mais largas, ele pode se estender por até 150 metros.
Mas talvez devêssemos dizer "podia", já que em apenas quatro dias, em maio de 2016, o rio desapareceu subitamente da face da terra.
Seu inesperado e violento sumiço foi produto de pirataria fluvial, fenômeno pelo qual o leito de um rio é repentinamente desviado até outro curso d'água.
Isso pode ocorrer ao longo de milhares de anos pela erosão, por causa de movimentos da crosta terrestre ou de deslizamentos de terras.

Rio Kaskawulsh

Mas o que aconteceu no Canadá, segundo os pesquisadores que fizeram a descoberta, está diretamente ligado à mudança climática - ou seja, é produto da atividade humana.

Aquecimento

O derretimento intenso da geleira Kaskawulsh durante a primavera do ano passado fez com que a água, em vez de se desviar para o norte (e alimentar o rio Slims, que se une ao rio Yukón e desemboca no mar de Bering), se desviasse para o sul, aumentando o leito do rio Alsek, que desemboca no oceano Pacífico.
Ou seja, a água do degelo criou um novo canal e desviou seu curso, indo parar a milhares de quilômetros de seu destino original.

Cânion criado por desvio da água

De acordo Dan Shugar, geocientista da Universidade de Washington Tacoma, nos Estados Unidos, e autor principal da pesquisa, essa é a primeira vez que se registra um caso de pirataria fluvial na atualidade.
É possível encontrar registros geológicos do fenômeno há milhões de anos, "mas não no século 21, onde isso está acontecendo diante dos nossos narizes", disse o cientista.
"Fomos para aquela região com a intenção de continuar com nossas medições no rio Slims, mas encontramos o leito do rio mais ou menos seco", disse James Best, geólogo da Universidade de Illinois e coautor do estudo.

Plantas e poeira

Após examinar o terreno, os pesquisadores observaram as mudanças dramáticas na paisagem.
O leito do Slims ficou descoberto - onde antes havia água, agora cresce pasto.

Rio Slims

O ar, antes límpido, em determinados momentos se transforma em uma poeirada criada pelos fortes ventos que arrastam os sedimentos do rio.
Enquanto isso, o rio Alsek, que levou as águas do Slims, tornou-se entre 60 e 70 vezes maior do que costumava ser e tem uma vazão muito maior.
Apesar de os arredores do Slims não serem muito habitados, uma mudança tão drástica terá consequências enormes para os ecossistemas naturais e pode chegar a afetar o abastecimento de água na região, dizem os cientistas.
De acordo com os pesquisadores, a mudança climática causará mais eventos como este no futuro, e seremos testemunhas da pirataria fluvial como consequência do derretimento das geleiras do Kilimanjaro, em outras regiões do Canadá e do Alaska, assim como dos Andes.
BBC Brasil

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Lua de Saturno tem elementos para abrigar vida, diz Nasa

 
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A Nasa anunciou na tarde desta quinta-feira que uma das luas de Saturno tem todos os elementos necessários para abrigar vida. A lua em questão é a Enceladus, uma das 62 luas do planeta. Os dados que servem como base para o estudo foram coletados pela sonda Cassini.
À primeira vista, Enceladus é uma lua com superfície coberta de gelo. Novas evidências, no entanto, apontam para a possibilidade de existência de mares líquidos no subterrâneo do planeta.
A sonda Cassini, da Nasa, capturou, de acordo com a agência espacial, algumas evidências de que reações química acontecem abaixo da superfície do planeta. A teoria dos cientistas é que isso criaria um ambiente capaz de abrigar vida microscópica.
“Isto é o mais próximo que já estivemos, de longe, de identificar um lugar com igredientes necessários para um ambiente que pudesse ter vida, disse Thomas Zurbuchen, da Nasa, em comunicado.
O estudo foi capaz de encontrar evidências que jatos de vapor expeliam hidrogênio (na forma H2). A única hipótese para explicar a origem desse hidrogênio seria a partir de uma reação entre rochas quentes e água sob a superfície congelada, afirmam os pesquisadores.
Esse hidrogênio poderia servir como fonte de energia para formas de vida–assim como acontece na Terra. Caso alguma forma de vida existisse na lua e consumisse esse hidrogênio como “combustível”, acabaria expelindo metano. Vale dizer que o metano também foi encontrado saindo da Lua.
Exame.com

A NASA quer que você "adote" um pedaço do planeta

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A NASA colocou nosso planeta para adoção. Em comemoração ao Dia da Terra, em 22 de abril, a agência preparou um hotsite especial em que você pode "adotar" um pedaço de nosso planeta e saber mais sobre aquele pedaço de terra (ou mar), explorando dados especificamente relevantes para aquela área.
Para ganhar o seu pedacinho da Terra, tudo o que você precisa fazer é acessar o site Adopt the Planet, escrever seu nome, e a NASA lhe entregará uma área só sua, com aproximadamente 88,5 quilômetros de largura. As vagas, é claro, são limitadas, em 66 mil pedaços, para ser mais exato. Ao fim da contagem, o número zera, para que mais pessoas possam participar da brincadeira.

Eu fui designado com o lote #34451, uma pequena área no Mar das Filipinas longe de qualquer pedaço de terra, mas talvez você tenha mais sorte que eu. Ainda assim, pude saber a umidade relativa, a temperatura da superfície do mar e a altura das nuvens mais altas da região, por exemplo. O tipo de informação exposta pelo site varia bastante de acordo com o que é relevante para o local alocado a você.
 
Após saber mais sobre o pedaço aleatório da Terra que você adotou, é possível explorar também o planeta, escolhendo qualquer ponto do globo para saber mais sobre suas condições, desde sua casa até os seus pontos turísticos favoritos. A NASA recomenda ainda o Worldview, onde você pode mergulhar fundo em dados de qualquer lugar do globo e visualizar imagens destacando medições de qualidade do ar ou a quantidade de vegetação, por exemplo.
Embora simples, o projeto é um jeito criativo de chamar a atenção para a Terra e sua diversidade, exibir o planeta "de um jeito que você nunca viu", como destacou a NASA, e pensar um pouco mais sobre a mudança climática e seus efeitos nos diferentes ecossistemas. 


 

terça-feira, 11 de abril de 2017

Mudanças climáticas devem aumentar turbulência em voos

Cinto de segurança de avião
Turbulências devem se tornar mais frequentes por causa das mudanças climáticas, indica um estudo publicado na última edição do periódico Advances in Atmospheric Sciences. O maior impacto será na ocorrência de turbulências severas – capazes de derrubar passageiros sem cinto de segurança e provocar a queda de objetos –, que se tornarão duas vezes e meia mais comuns até o fim do século.
“Nosso novo estudo traça o quadro mais detalhado até agora de como a turbulência nos aviões vai responder às mudanças climáticas”, afirma em comunicado Paul Williams, da Universidade de Reading, no Reino Unido, que conduziu o estudo. “Mesmo os passageiros mais experientes devem alarmar-se diante da perspectiva de um aumento de 149% na ocorrência de turbulência severa, que frequentemente hospitaliza viajantes e comissários de bordo ao redor do mundo.” Os resultados da pesquisa apontam para a necessidade de adaptações nos aviões, a fim de evitar e suportar turbulências mais intensas no futuro.
A turbulência pode acontecer por diversas razões, incluindo trovoadas, nuvens, mudanças na pressão atmosférica ou o choque entre diferentes temperaturas do ar. Porém, às vezes, ela é imprevisível e ocorre quando o céu está completamente claro e limpo – quando isso acontece, normalmente é porque a aeronave atravessou um ponto de encontro entre jatos de vento verticais de diferentes velocidades. Segundo Williams, devido às mudanças climáticas essa instabilidade nas correntes de ar vai se tornar cada vez mais intensa e frequente.

Maior turbulência

Para avaliar qual seria o impacto das mudanças nas correntes, Williams conectou os dados de 21 modelos de turbulência  em um supercomputador, tomando como referência um avião que realiza um voo transatlântico a uma altitude de 12.000 metros. Depois, simulando o cenário que está previsto para o fim deste século, ele projetou o dobro da quantidade de CO2 presente na atmosfera hoje em dia. Comparando os resultados, percebeu que todos os graus de turbulência, desde as mais leves até as mais extremas, aumentaram.
De acordo com os dados obtidos pela equipe, além do acréscimo expressivo na ocorrência de turbulência severa, a média da frequência de turbulências leves vai aumentar 59%, a de leves a moderadas, 75%, a de moderadas, 94% e a de moderadas a severas, 127%.
“Minha principal prioridade para o futuro é investigar outras rotas de voo ao redor do mundo”, diz Williams. Segundo ele, também é preciso expandir o estudo, avaliando diferentes modelos climáticos e cenários de aquecimento global com altitudes e estações variadas.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Cientistas dizem ter achado pela primeira vez atmosfera ao redor de planeta ao redor de planeta semelhante à Terra

Cientistas dizem ter detectado pela primeira vez uma atmosfera ao redor de um planeta parecido com a Terra.
Em um estudo publicado no Astronomical Journal, elesdizem que o planeta GJ 1132b, que tem 1,4 vezes o tamanho da Terra e fica a 39 anos-luz de distância, na constelação de Vela, é encoberto por uma espessa camada gasosa de água, metano ou uma mistura de ambas as substâncias.
Descobrir e identificar a composição de uma atmosfera é um passo importante na busca por vida fora do Sistema Solar. Mas é improvável que o GJ 1132b seja habitado: a temperatura em sua superfície gira em torno dos 370 ºC.
"Até onde sabemos, a temperatura mais alta que a vida suporta na Terra é 120 ºC", diz John Southworth, pesquisador da Keele University, na Grã-Bretanha.
Sinais químicos
A descoberta do GJ 1132b foi anunciada em 2015. Apesar de ter um tamanho similar ao da Terra, ele orbita uma estrela menor, mais fria e menos brilhante que o Sol.
Usando um avançado telescópio do Observatório Europeu do Sul (OES), no Chile, pesquisadores estudaram o planeta ao analisar como ele bloqueia a luz de sua estrela quando passa em frente a ela. "Isso faz com que a estrela fique menos brilhante. É uma boa forma de encontrar planetas", afirma Southworth.

Artist's impression of planet GJ 1132b

Mas as diferentes moléculas na atmosfera de um planeta (caso tenha uma) absorvem a luz de formas distintas, o que permite buscar por sinais químicos de sua composição.
As análises apontam que o GJ 1132b tem uma atmosfera de vapor e/ou metano. "Uma possibilidade é que seja um 'mundo aquático'", disse Southworth.

'Prova de conceito'

Ainda que seja improvável que formas de vida sobrevivam às condições deste mundo, a descoberta é animadora na busca por vida extraterrestre.
"Sabemos que planetas que orbitam estrelas de menor massa podem ter atmosferas, e, como há tantos com essas características no universo, isso faz com que seja mais provável que um deles tenha vida."
Marek Kukula, astrônomo do Observatório Real de Greenwich, no Reino Unido, avalia a descoberta como uma "boa prova de conceito (termo usado em pesquisas científicas para designar modelo que possa provar teoria)".
"Se a tecnologia pode detectar essa atmosfera, então, pode vir a detectar e estudar atmosferas de planetas parecidos com a Terra ainda mais distantes no "futuro".
BBC Brasil

Parte da Grande Barreira australiana é irrecuperável

Arrecife descolorido da Grande Barreira australiana
 
Os espécimes da Grande Barreira de Corais que sofreram pelo segundo ano consecutivo o fenômeno de branqueamento provocado pelas temperaturas elevadas não têm nenhuma possibilidade de recuperação, advertiram cientistas australianos.
Em março, pesquisadores anunciaram que os recifes da Grande Barreira haviam sofrido uma degradação sem precedentes. Os temores acabam de ser confirmados por observações aéreas do local, Patrimônio da Humanidade desde 1981.
Este ecossistema, que tem 2.300 quilômetros - o maior do mundo -, sofreu em 2016 o episódio de branqueamento mais grave desde que o fenômeno é registrado, provocado pelo aumento das temperaturas do oceano em março e abril.
"Os corais embranquecidos não estão necessariamente mortos. Mas na parte central (da Grande Barreira) prevemos perdas muito elevadas", declarou James Kerry, biólogo na Universidade James Cook, que coordenou as observações aéreas.
"Será necessário no mínimo uma década para que a recuperação total dos corais que crescem mais rápido", explicou.
"Após dois episódios graves de branqueamento em um intervalo de 12 meses, os recifes danificados em 2016 não têm nenhuma oportunidade de recuperação".
O branqueamento dos corais é um fenômeno de fragilização que é traduzido por uma descoloração, provocado pelo aumento aumento da temperatura da água. Isto provoca a expulsão das algas simbióticas que dão ao coral sua color e seus nutrientes.
Os recifes podem ser recuperados se a água voltar a resfriar, mas também podem morrer se o fenômeno persistir. E esta é a quarta vez que acontece (as anteriores foram 1998, 2002 e 2016).
Entre o 2016 e este ano, 1.500 km de recifes foram afetados pelo branqueamento, o que significa que "apenas o terço sul permaneça ileso", recordou Terry Hughes, da Universidade James Cook.
Ele recordou que a temperatura recorde da água é consequência da mudança climática.

sábado, 8 de abril de 2017

Não é preciso reinventar a roda para salvar o cerrado

O Cerrado brasileiro é único sob diversos pontos de vista.
Flor do cerrado: o ecossistema tem mais de 4 mil espécies endêmicas (Foto: Marcos Cesar Campis/ Wikimedia)
Ele é único quando avalia o fornecimento de água. Chamado de “berço das águas”, 43% de toda a água do país fora da Bacia Amazônica está no Cerrado. Ele contribui para a vazão de oito das 12 regiões hidrográficas do Brasil, alimentando rios da Amazônia, do Nordeste e do Sudeste.
Ele é único quando se avaliam a agricultura e a pecuária. A disponibilidade de água, aliada a solos férteis e planos, gera um ambiente perfeito para a agricultura mecanizada e para a produção de commodities, como soja e cana-de-açúcar. Extensas pastagens foram desenvolvidas ali, e o Brasil é campeão em produção e exportação de alimentos e carne. Outro apelido do Cerrado é “o celeiro nacional”.
Ele é único quando se avalia a biodiversidade. O Cerrado é o lar de mais de 13 mil espécies de plantas, sendo quase metade exclusiva do bioma. Dentre essas espécies, mais de 600 estão ameaçadas de extinção, o que corresponde a 30% de toda flora ameaçada do Brasil. Para animais, os dados também são contundentes: praticamente metade das aves do Brasil (mais 850 espécies) ocorre no Cerrado, assim como metade dos répteis do Brasil e mais de 200 espécies de mamíferos, como o lobo-guará, o tatu-canastra e a onça-pintada.
Ele é único quando se avaliam os impactos ambientais que sofre. Metade da área originalmente coberta pelo Cerrado já foi transformada em algo diferente. O desmatamento no Cerrado é 2,5 vezes maior que na Amazônia. Aliás, desmatamento nem é o termo correto. O melhor seria perda de vegetação nativa, pois o bioma é formado por um complexo de vegetações nativas que vai além das florestas, com campos abertos, campos com arbustos e árvores e até campos cobertos de pedras e cactos. A perda de vegetação é de cerca de 1% ao ano, uma área do tamanho aproximado de todo o estado de Sergipe. Algumas regiões do Cerrado, como a região chamada de Matopiba – por ser o Cerrado encontrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, têm taxas ainda maiores. Só até 2010, 60% do Cerrado existente nessa região já havia sido perdido e transformado em campos de soja. Além disso, não mais que 8% do bioma é protegido por reservas.
Ele é único quando se pensa em soluções ambientais. Uma vez que perder o Cerrado significa perder nossa segurança hídrica e alimentar, as soluções para a conservação do bioma interessam a todos os brasileiros e passam por manutenção e adoção de políticas públicas com foco na região. Em um artigo recente publicado na revista científica Nature Ecology and Evolution(1), um grupo de autores do qual faço parte discutiu tudo isso à luz da importância nacional do Cerrado e das políticas existentes para garantir sua persistência. Felizmente, algumas dessas políticas já estão em andamento, embora precisem de um grande impulso para que sejam mais eficazes ou sejam mais rapidamente implementadas, como discutimos no artigo.
Por exemplo, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) tem ajudado a desenvolver atividades produtivas sustentáveis e a executar o monitoramento e o controle das unidades de conservação. É preciso acelerar o processo de implementação da terceira fase (2016-2020) e orientar novas ações de forma interministerial. Outra política pública muito importante e descontinuada em 2011 é o monitoramento do desmatamento do Cerrado. É necessário acelerar a implementação do Programa de Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros, que prevê monitoramento anual ou bianual de taxas de desmatamento, ocorrência de queimadas e focos de calor e recuperação da vegetação nativa.
Outras políticas, no entanto, precisariam ser adotadas ao longo de toda a extensão do bioma. A Moratória da Soja é um bom exemplo. A moratória é um acordo entre indústria, governo e sociedade civil que impede a comercialização de soja produzida a partir de desmatamento ilegal na Amazônia brasileira. Desde que o acordo foi assinado, o desmatamento da Amazônia caiu 86%. A boa notícia é ue neste ano a moratória foi prorrogada por tempo indeterminado. A má notícia é que ela só se aplica à Amazônia.
Hoje em dia, cerca de 90% e 70% do que resta do Cerrado é adequado para cultivo de soja e cana-de-açúcar, respectivamente. Ambos os cultivos têm previsões de expansão para as próximas décadas. Se estendida para o Cerrado, a moratória da soja poderia eliminar o desmatamento ilegal sem comprometer essa expansão de culturas. Pesquisas recentes já mostraram que a área ocupada por pastagens de baixa produtividade (cerca de 72 milhões de hectares) é duas vezes maior que toda a área necessária para expansão de soja e cana no Cerrado (cerca de 13 milhões de hectares). Aumentar a produtividade dessas pastagens liberaria uma área enorme para a agricultura, e isso já vem sendo discutido nas universidades, ONGs, empresas e no governo.
Como um último exemplo de política já existente, cito a Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012, conhecida como Novo Código Florestal Brasileiro. No Cerrado, a lei pode ser um complicador, uma vez que, com a nova legislação, a necessidade de proteção da vegetação ao longo dos rios e topos de morro (nominadas áreas de preservação permanente – APPs) foi alterada, em muitos casos para menos que o previsto pelo código anterior. Como resultado, 40% do que restou do Cerrado poderia ser legalmente convertido nos próximos anos. Sob amparo legal, seríamos capazes de desmatar o bioma até que apenas cerca de 10%-15% de sua cobertura original fosse mantida.
Entretanto, essa mesma lei prevê a restauração de áreas que foram desmatadas para além do permitido e mecanismos de incentivos para a conservação no caso de proprietários que protegeram mais que o exigido. A real implementação da lei poderia garantir um cenário verde para o Cerrado. Nesse cenário, também apresentado no artigo científico que mencionei, mostramos que, ao aumentar o potencial sustentável das pastagens do Cerrado de 35% (valor atual) para 61% até 2050, seria possível liberar toda terra necessária para expansão de cultivos, além de aumentar a produção de carne em 49% e ainda separar cerca de 6,4 milhões de hectares de terra para restauração – o que é exatamente o déficit atual de áreas de Cerrado nativo que deveriam existir, mas foram convertidas em agricultura no passado, segundo o Novo Código Florestal. Nesse cenário, não há nenhuma necessidade de conversão de novas áreas. Essa combinação de desmatamento zero, restauração e planejamento de áreas para produção agrícola poderia evitar a extinção de 1.140 espécies que só ocorrem ali; um número oito vezes maior que o número oficial de plantas extintas em todo o mundo desde o ano de 1500.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Por que há uma guerra na Síria: 10 perguntas para entender o conflito

Pelo menos seis pessoas morreram após os EUA lançarem 59 mísseis Tomahawk na Síria na noite de quinta-feira. Autoridades americanas dizem que o alvo foi a base responsável pelo ataque com armas químicas que matou dezenas de civis na terça-feira.
 
 
O bombardeio, feito a partir de dois navios de guerra americanos estacionados no mar Mediterrâneo, dá novos contornos ao conflito, que já dura mais de seis anos. A Rússia, aliada do presidente Bashar al-Assad, condenou a medida - ela nega que o governo sírio esteja usando armas químicas.
O ataque dos Estados Unidos foi ordenado por seu presidente, Donald Trump, que até pouco tempo atrás citava Assad como um aliado na guerra contra o terror. Mas tudo mudou após imagens do ataque da terça chocarem o mundo. "Quando você mata crianças inocentes, bebês inocentes, bebês pequenos (...) isso passa dos limites", reagiu o republicano, que classificou o ocorrido como uma "afronta à humanidade".
Entenda, a seguir, os últimos acontecimentos e a origem de um conflito que já deixou mais de 400 mil mortos e provocado um êxodo de mais de 4,5 milhões de pessoas do país, segundo a ONU - o maior da história recente.
 
Enterro de vítimas da tragédia
 

1. O que foi o 'ataque químico' que motivou a reação dos EUA?

De acordo com o grupo britânico de monitoramento do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 86 pessoas - 27 delas crianças - foram mortas no incidente químico em Khan Sheikhoun, na província de Idlib.
Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram que algumas das vítimas apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema nervoso.
 
O ministro da Justiça da Turquia, Bekir Bozdag, disse que as necropsias realizadas nos corpos de três vítimas confirmaram que armas químicas foram usadas e que as forças de Assad foram as responsáveis pelo ataque.
Trinta e duas pessoas foram levadas para a Turquia para tratamento.

2. O que dizem os líderes americanos?

"Eu vou te dizer, aconteceu que minha visão em relação à Síria e Assad mudou muito", afirmou Trump após o ataque. Antes, ele citava o presidente do país em guerra como um aliado na luta contra o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, que controla algumas regiões sírias.
Questionado durante uma reunião com o rei Abdullah da Jordânia na Casa Branca sobre estar formulando uma nova política em relação ao país do Oriente Médio, o americano disse a repórteres: "Vocês verão".
O que se seguiu foi o bombardeio realizado na noite da quinta-feira.
Ao falar da ofensiva, Trump chamou Assad de "ditador" por ter lançado um "ataque com armas químicas terríveis contra civis inocentes".
"É vital para os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos prevenir e dissuadir a propagação e o uso de armas químicas", completou.

Donald Trump durante pronunciamento

3. O que dizem os russos?

A Rússia reconheceu que os aviões sírios atacaram Khan Sheikhoun, mas diz que a aeronave atingiu um depósito que produzia armas químicas para serem usadas por militantes no Iraque.
A "aviação da Síria fez um ataque contra um grande depósito de munição terrorista e uma concentração de equipamento militar nos subúrbios a leste da cidade de Khan Sheikhoun", disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konoshenkov.
O governo russo condenou o ataque americano, classificando o bombardeio com uma "agressão contra uma nação soberana".
Dmitry Peskov, porta-voz do governo, disse que a ofensiva dos EUA "causa um dano significativo às relações entre Washington e Moscou". Segundo ele, o presidente Vladimir Putin vê o ataque como "uma intenção de distrair o mundo pela morte de civis provocadas pela intervenção militar no Iraque".

4. Assad já usou armas químicas antes?

O governo sírio foi acusado por potências ocidentais de disparar foguetes de sarin (composto químico que age no sistema nervoso) em Ghouta, Damasco, matando centenas de pessoas em agosto de 2013.
O presidente Assad negou a acusação e culpou os rebeldes, mas concordou em destruir o arsenal químico da Síria. Apesar disso, a Organização pela Proibição de Armas Químicas continuou a reportar o uso de produtos químicos tóxicos em ataques no país.
Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, voltou a negar esse tipo de ação.
"Reforço mais uma vez que nosso Exército nunca usou e não usará armas químicas", disse ele. "Não apenas contra nossos civis, nosso povo, mas também não usará armas químicas contra os terroristas que estão atacando e matando nossos civis com seus morteiros."
A Síria classificou o ataque americano na quinta como uma ação "tola e irresponsável".
"O que a América fez não é nada menos que uma atitude tola e irresponsável, que só revela sua visão míope e cegueira política e militar em relação à realidade", informou o gabinete de Bashar al-Assad.

5. Qual era a situação na Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?

Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se estendiam pelos países árabes.
Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas - matando vários deles -, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad.
A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad.

6. Como começou a guerra civil?

À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões.
Assad prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos.
Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo.
O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele - adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente.
 

Destruição em Homs, na Síria

Isto arrastou as potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra dimensão.
Em junho de 2013, as Nações Unidas informaram que o saldo de mortos já chegava a 90 mil pessoas.

7. Quem está lutando contra quem?

A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente desde suas origens.
O número de membros da oposição moderada secular foi superado pelo de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.
Também combatem o Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.
Desde 2014, os EUA, junto com o Reino Unido e a França, realizam bombardeios aéreos no país, mas procuram evitar atacar as forças do governo sírio.
Já a Rússia lançou em 2015 uma campanha aérea com o fim de "estabilizar" o governo após uma série de derrotas para a oposição.
A intervenção russa possibilitou vitórias significativas das forças sírias. A maior delas foi a retomada da cidade de Aleppo, um dos principais redutos dos grupos de oposição, em dezembro de 2016.
Os rebeldes moderados têm requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas.

8. Qual é o envolvimento das potências internacionais?

Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder como pré-condição para a paz.
Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um aliado nessa batalha. Após o aparente ataque químico ocorrido na última terça, porém, seu discurso mudou.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país.
O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias.
Estima-se que os iranianos já tenham desembolsado bilhões de dólares para fortalecer as forças sírias, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo.

Raqqa, o norte do país, sob controle do 'EI'

Contrapondo-se à influência do Irã, a Arábia Saudita, principal rival de Teerã na região, tem enviado importante ajuda militar para os rebeldes, inclusive para grupos radicais.
Outro aliado importante dos rebeldes sírios, a Turquia tem buscado limitar o apoio dos EUA às forças curdas, que acusam de apoiar rebeldes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão).
Os rebeldes da oposição síria têm ainda atraído apoio em várias medidas de outras potências regionais, como Catar e Jordânia.

9. Por que a guerra está durando tanto?

Um fator chave é a intervenção de potências regionais e internacionais.
Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta.
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.

Combatente rebelde na Síria

A escalada de terror causada por grupos jihadistas como o EI - que aproveitou a fragilidade do país para tomar o controle de vastas partes de território no norte e leste - acrescentou outra dimensão ao conflito.

10. Qual é o impacto da guerra?

O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou que a guerra já matou 400 mil pessoas.
Para a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediada em Londres, até setembro a cifra de mortos passava de 465 mil.
Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas.
Segundo a ONU, até fevereiro de 2016 mais de 5 milhões de pessoas haviam fugido do país - a maioria mulheres e crianças.
O êxodo de refugiados, um dos maiores da história recente, colocou sob pressão os países vizinhos - Líbano, Jordânia e Turquia.
Cerca de 10% deles buscam asilo na Europa, provocando divisões entre os países do bloco europeu sobre como dividir essas responsabilidades.

E as estatísticas terríveis não param por aí.
A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas - incluindo seis milhões de crianças - no país.
Além disso, 70% da população não tem acesso a água potável, uma em cada três pessoas não consegue suprir as necessidades alimentares básicas, mais de 2 milhões de crianças não vão à escola e uma em cada cinco indivíduos vive na pobreza.
As partes em conflito têm complicado ainda mais a situação ao recusar o acesso das agências humanitárias aos necessitados.

Ataque aéreo na Síria
Fonte: BBC Brasil