quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Por que estamos numa fase de aceleração do aquecimento global

Temperatura e calor (Foto: Thinkstock Getty Images)
 
Estamos caminhando a passos firmes rumo a um novo recorde global de calor. O ano de 2016 pode fechar, segundo previsões da agência espacial ameriana (Nasa), como o mais quente já registrado. Seria um novo recorde consecutivo. O ano de 2015 foi o mais quente da história. Antes dele, 2014 havia sido o recordista. A Nasa já divulgou que o mês de agosto foi o mais quente desde que começaram as medições, há 136 anos.
Estamos passando por uma fase de aquecimento acelerado. Faz 11 meses seguidos que todo mês bate o recorde histórico de calor. Segundo o pesquisador Gavin Schmidt, da Nasa, há uma chance de 99% de 2016 bater um novo recorde. E não será um recorde qualquer. O pesquisador divulgou uma projeção segundo a qual 2016 pode fechar bem mais quente que os recordistas 2014 e 2015.
Gráfico da Nasa mostra as médias anuais de temperatura e a previsão para 2016 (Foto: Nasa)
Gráfico da Nasa mostra as médias anuais de temperatura e a previsão para 2016 (Foto: Nasa)
 
Isso ocorre porque o aquecimento global – ou as mudanças climáticas, para ser mais exato – não é um fenômeno linear. A temperatura não sobe de forma constante no planeta, ano após ano. O processo se dá mais na forma de degraus. O último período de aquecimento acelerado, entre 1990 e 2000, deu lugar a um período de relativo platô. As médias de temperatura passaram a oscilar num mesmo patamar entre 2000 e 2013. Embora fosse o patamar mais alto já vivido pela humanidade, alguns
céticos passaram a questionar o aquecimento global no meio dessa suposta pausa. Agora a tal pausa acabou. Entramos numa nova fase de aceleração.
Esses períodos de aquecimento acelerado intercalados com platôs têm relação com o comportamento dos oceanos. Mais precisamente, com o Oceano Pacífico. A Terra é um planeta dominado pelo mar. O que ocorre na atmosfera é mera consequência da dinâmica dos oceanos.
Oceano Pacífico passa por fases de absorção ou liberação de calor. Essas fases determinam o que ocorre com o clima na superfície do planeta. O ciclo mais conhecido é o El Niño e La Niña, que ocorre de sete em sete anos aproximadamente. No El Niño, a água do Pacífico fica acima da média na faixa do Equador. Durante a La Niña, é o contrário. Ocorre que o El Niño-La Niña é a manifestação mais visível de outro ciclo, mais longo e mais poderoso. É a Oscilação Decadal do Pacífico. Ela é uma espécie de alternância de fases na força dos ventos que sopram sobre o oceano. Cada fase pode durar uma ou duas décadas. A Oscilação influencia a força do El Niño ou da La Niña. Nas fases de Oscilação positiva, o Pacífico joga calor na atmosfera. Nas fases negativas, ele absorve parte do excesso de calor da atmosfera. Durante o último platô de temperaturas, enquanto as médias aqui na superfície ficavam no mesmo patamar, a temperatura do fundo do mar só subia. Agora estamos numa fase positiva, por isso a aceleração das temperaturas da atmosfera.
Essa fase de aceleração tem consequências. O que estamos vivendo é uma mudança de patamar no clima da Terra. Saímos de um padrão para entrar em outro. Provavelmente, não voltaremos aos níveis anteriores de temperatura. Acontecimentos extremos passarão a ser mais rotineiros. Situações de calor, seca ou enchentes anormais passarão a ser mais comuns.
Infelizmente, as medidas mais radicais para reduzir a emissão de gases responsáveis pelo aquecimento global têm sido postergadas. O Acordo de Paris foi um consenso por ser fraco. Não vai evitar que a temperatura continue subindo. Parece que o apetite para mudanças mais eficazes só aparece diante de catástrofes climáticas, com o Furacão Katrina ou os desabamentos da região serrana do Rio de Janeiro. Nem os recordes de calor associados à crise hídrica em São Paulo serviram para mostrar o tamanho do problema que estamos criando. Será que vamos ter de esperar pela próxima tragédia?
Época.com

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