domingo, 31 de janeiro de 2016

Tempestade derruba árvores, alaga ruas e causa destruição em Porto Alegre

.No dia mais quente deste verão, com a temperatura chegando a 39 graus em Campo Bom, região metropolitanam de Porto Alegre, e 38 graus em Porto Alegre, um forte temporal atingiu vários municípios do Rio Grande do Sul durante à tarde, derrubando árvores e postes, causando danos à rede elétrica.
Grandes áreas de nuvens carregadas voltaram  a se espalhar sobre o Sul do Brasil trazendo de volta as tempestades. Calor, o avanço de uma frente fria sobre o Rio Grande do Sul e a baixa pressão atmosférica sobre o norte da Argentina e Paraguai geraram as nuvens carregadas que começaram a provocar tempestades na sexta-feira.
O temporal sobre Grande Porto Alegre na noite do dia 29 veio com rajadas de vento de quase 90 km/h derrubando árvores na capital gaúcha. O aeroporto Salgado Filho registrou uma rajada de 87 km/h. Já o Inmet registrou rajadas de 92 km/h em Rio Pardo e de 82 km/h em Cruz Alta.
As áreas de instabilidade se espalharam sobre os três estados do Sul e nuvens muito carregadas se formaram provocando temporais em muitas cidades dos três estados durante todo o fim de semana. Além da chuva forte, os raios, problemas causados pela ventania e também granizo.
Assustador...! Todo este volume d´água em um dia. Sem luz, telefone (dois dias), e muitos estragos em POA...!!!
Algumas imagens:
 
Registro dos estragos provocados por forte temporal que atingiu Porto Alegre. Imagem do bairro Rio Branco
 
 
 Chuva forte provoca alagamentos em Porto Alegre
 
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Pesquisa explica por que pessoas ganham peso diferente comendo a mesma comida

Thinkstock
 
O Weizmann Institute of Science, de Israel, está monitorando mil pessoas em detalhes, minuto a minuto, para ver exatamente como seus corpos reagem à comida - e os primeiros resultados estão reescrevendo as regras da nossa relação com a alimentação.
 
BBC
Médica Saleyha Ashan teve nível de açúcar no sangue monitorado por uma semana.
 
Quando comemos, o nível de açúcar no nosso sangue sobe - e são muito importantes para a nossa saúde tanto a velocidade com que o açúcar atinge seu pico quanto a rapidez com que nossos corpos lidam com isso e voltam ao normal.
Picos constantes podem levar a diabetes tipo 2, nos fazer acumular mais gordura e aumentar o risco de outras doenças.
Os alimentos foram, por isso, classificados tradicionalmente pela sua capacidade de causar um pico de açúcar no sangue - alimentos com alto valor glicêmico seriam ruins para nós, e baixos seriam bons. Qualquer nutricionista diria isso. Mas a pesquisa israelense, liderada por Eran Segal e Eran Elinav, sugere que isso não é tão simples.

A experiência

Quando Saleyha Ashan chegou a Tel Aviv para conhecer o experimento e servir de "cobaia", a equipe não apenas a examinou e pediu seu histórico familiar, como também implantou um pequeno monitor de glicose sob sua pele, que monitoraria seu nível de açúcar no sangue de forma constante pela semana seguinte.
A equipe de nutricionistas preparou menus especiais para ela durante seis dias, com o objetivo de testar a reação de seu corpo a algumas refeições, misturadas a alguns dos alimentos que ela costuma comer.
"Sou uma médica de pronto-socorro, o que certamente tem efeitos na minha dieta. Correr o dia inteiro com padrões de trabalho incomuns significa que nunca tenho um horário para comer - e, ao menos que eu seja super organizada, vivo à mercê da lanchonete do hospital", explica Ashan, que contou um pouco de seus hábitos alimentares.
Ela não costuma comer pão no dia a dia, mas adora uvas. "Posso comer aos montes e me sinto livre de culpa. Elas são o meu lanche saudável. Outra coisa que como sem culpa é sushi". Aquela era a hora de descobrir o que esses alimentos realmente faziam com o corpo dela.
Outros fatores - como nível de estresse, exercício e sono - podem afetar nossa reação de glicose, então os pesquisadores a fizeram anotar tudo que ela fazia durante o dia.
Mas o mais importante foi que, como a pesquisa inicial deles sugeria que pessoas diferentes apresentavam reações diferentes ao mesmo tipo de alimentação, Ashan fez uma dupla com uma outra voluntária do mesmo sexo e da mesma idade que ela - Leila.
"Na semana seguinte, eu e Leila fizemos e comemos exatamente as mesmas coisas - fomos aos mesmos restaurantes e pesamos as refeições com cuidado para ter certeza de que eram o mais idênticas possível. Os livros de nutrição diziam que nossos corpos deveriam respondem a eles de forma semelhante. Os pesquisadores israelenses suspeitavam que isso não aconteceria."

Resultados surpreendentes

Ashan conta que ficou completamente surpresa quando os resultados chegaram.
"Todos os meus 'lanchinhos saudáveis', como uvas e sushi, provocavam em mim grandes picos de açúcar, assim como um sanduíche de frango e cereal. E o menu 'bom' era chocolate, sorvete e refrigerante tipo coca-cola normal", conta ela.
"Para Leila, os resultados foram muito diferentes. Enquanto macarrão era ruim para mim, era ok para ela. Iogurte era bom para mim mas ruim para ela, e nossas respostas a pão com manteiga também eram completamente opostas."
Aparentemente, ninguém havia suspeitado que um grau de variação individual tão grande existia, simplesmente porque um estudo controlado com tantas pessoas nunca havia sido feito antes. Aparentemente, não existem alimentos com "alto" e baixo" nível glicêmico - isso depende totalmente de seu próprio corpo.
Mas por que os corpos variam tanto? A equipe também tem uma ideia sobre isso agora - e a resposta tem implicações animadoras.
Além da bateria de testes, Ashan e Leila também fizeram um exame de fezes e, com isso, o laboratório pôde descobrir a composição dos micróbios de cada intestino.
Todos nós temos milhares de bactérias diferentes, vírus e fungos em nossos intestinos, que não apenas ajudam na decomposição dos alimentos como produzem compostos que nossos corpos absorvem e que podem influenciar em quase todos os aspectos de nossas vidas, do nosso sistema imunológico a nosso metabolismo a neurotransmissores.
Devido a descobertas tecnológicas em sequenciamento de genes nos últimos anos nós começamos a entender a diversidade e a importância dessa flora, que são uma parte importante de "nós".
Ao comparar os micróbios do intestino dos centenas de voluntários do estudo a sua resposta de açúcar, Segal e Elinav conseguiram descobrir que nossos micróbios podem ser a chave para descobrir por que os picos de açúcar no sangue são tão individuais. Os químicos que eles produzem, aparentemente, controlam nossos corpos até aí.

Mudança

O que é animador é que, ao contrário de nossos genes, nós podemos mudar nosso micróbios. E isso é uma ótima notícia para compensar quem descobrir que sua comida predileta é "ruim" para seus níveis de açúcar.
"Quantos aos meus micróbios, no momento eu tenho um misto de boas e más notícias", relata Ashan.
A variedade de tipos de bactéria que eu tenho é limitada e não é a ideal. Pessoas mais saudáveis, aparentemente, têm uma diversidade maior. Mas a taxa das duas principais que eu tenho está em uma categoria boa. Eu também achei interessante que eu tinha muitas bactérias associada a ovário policístico. Foi uma grande surpresa para mim que poderia haver uma ligação entre micróbios vivendo no meu intestino e um problema médico como esse."
 
Thinkstock
 
Elinav e Segal garantiram a Ashan, porém, que ao aderir à dieta "que suas bactérias gostam", ela conseguiria impactos mais profundos na sua saúde e bem-estar.
Então, munida da lista das "boas" comidas para ela, Ashan está entrando em uma segunda fase do estudo.
"Vou ver se consigo mudar a composição das minhas bactérias intestinais. Meus exames mostraram que, apesar de eu ter um bom equilíbrio entre os dois grandes grupos de bactérias, praticamente não tenho um terceiro grupo, que pode ser a chave para um peso mais saudável. Também tenho pouca diversidade microbiana", conta ela.
Ao longo do próximo mês, ela terá de mandar amostras para Israel para análise.
Os pesquisadores do Weismann Institute estão prosseguindo com seu trabalho com um grande estudo de um ano de duração sobre como as pessoas podem melhorar seus micróbios intestinais.
O objetivo deles é que qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, em breve possa mandar uma amostra de fezes para que seja analisada e, sem a necessidade de um monitoramento de açúcar no sangue por uma semana, receba uma dieta personalizada que estabilize seu níveis de açúcar no sangue e melhores seus micróbios intestinais.
Segundo eles, a obesidade difundida e epidemia de diabetes mostram que as atitudes que estamos tomando agora para mudar nossa relação com comida não estão funcionando.
"Então, enquanto eu como meu chocolate com sorvete (embora os pesquisadores enfatizem que uma dieta equilibrada nutricionalmente é importante, como sempre foi), estou ansiosa para saber se consigo perder peso e ficar mais saudável como resultado", diz Ashan.
BBC Brasil

E se eliminássemos todos os mosquitos transmissores de doenças

 
O mosquito é o animal mais perigoso do mundo, carregando doenças que matam um milhão de pessoas por ano, como malária, dengue e febre amarela.
De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, foram notificados 4.180 casos suspeitos de microcefalia até o momento. Destes, 270 foram confirmados, 462 descartados e 3.448 ainda estão sendo investigados.
Mas isso significa que esses insetos - ou ao menos suas espécies mais perigosas para os seres humanos - deveriam ser totalmente exterminados?
Existem no mundo 3.500 espécies conhecidas de mosquitos, mas a maior parte deles não incomoda os humanos, vivendo de plantas e néctar de frutas.
São apenas as fêmeas de 6% das espécies que sugam o sangue de humanos para ajudá-las a desenvolver seus ovos.
Entre elas, apenas metade carrega parasitas que causam doenças em humanos. Mas o impacto dessas cem espécies é devastador.
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  • "Metade da população global corre risco de contrair uma doença transmitida por mosquitos", diz Frances Hawkes, do Instituto de Recursos Naturais da Universidade de Greenwich.
"Eles têm um impacto não reconhecido no sofrimento dos humanos."
Aedes aegypti - transmite doenças como a zika, febre amarela e dengue; originário da África mas encontrado em em regiões tropicais e subtropicais pelo mundo
  • Aedes albopictus - transmite doenças como febre amarela, dengue e febre do Nilo; originário do Sudeste Asiático mas é encontrado em regiões tropicais e subtropicais pelo mundo
  • Anopheles gambiae - também conhecido como mosquito africano da malária, a espécie é uma das maiores transmissoras da doença A bióloga Olivia Judson apoia o extermínio de 30 espécies de mosquitos.
    Ela diz que isso poderia salvar um milhão de vidas e só diminuiria a diversidade genética da família dos mosquitos em 1%.
  • "Deveríamos considerar essa possibilidade", disse ao New York Times.
  • Na Grã-Bretanha, cientistas da Universidade de Oxford e a empresa de biotecnologia Oxitec modificaram geneticamente os machos do Aedes aegypti, fazendo com que carregassem um gene que faz com seus filhos não se desenvolvam corretamente.
    A segunda geração morre antes de se reproduzir e começar a transmitir as doenças.

    Experiências

    Cerca de três milhões desses mosquitos geneticamente modificados foram soltos nas Ilhas Cayman entre 2009 e 2010.
    Segundo a Oxitec, houve uma redução de 96% no número de mosquitos se comparado a áreas próximas.
    Uma experiência semelhante que está sendo feita na cidade de Jacobina, na Bahia, reduziu a presença do mosquito em 92%, de acordo com a empresa.
  • Mas existe algum efeito colateral decorrente da eliminação de mosquitos?
    Phil Lounibos, entomólogo da Universidade da Flórida, acredita que sim. Para ele, um amplo processo de erradicação seria "perigoso e poderia ter efeitos indesejados".
  • Primeiro, porque os mosquitos, que se alimentam principalmente de néctar de plantas, são polinizadores importantes.
    Depois, porque eles também servem de alimentos para pássaros e morcegos e suas larvas são consumidas por peixes e sapos.
    Por isso, sua erradicação poderia ter efeitos em toda a cadeia alimentar na avaliação de Lounibos.
    Há quem acredite que esses dois papéis dos mosquitos - na cadeia alimentar e como polinizadores - poderiam ser rapidamente ocupados por outros insetos.
    "Não ficamos em uma 'terra arrasada' toda vez que uma espécie desaparece", diz Judson.
  • Para Lounibos, porém, o fato desse nicho ser preenchido por outra espécie é parte do problema.
    Ele alerta para a possibilidade de os mosquitos serem substituídos por insetos "igualmente ou ainda mais indesejados do ponto de vista de saúde pública".
    E diz que, no caso, a substituição poderia até disseminar mais doenças, e de forma mais rápida do que ocorre hoje.

    Conservação

    Na avaliação do escritor de ciência David Quammen os mosquitos ajudam a limitar o impacto destrutivo dos homens na natureza.
    "Mosquitos fazem florestas tropicais serem praticamente inabitáveis para os humanos", diz.
    Ele lembra que essas florestas, que abrigam um grande número de espécies de plantas e animais, estão sob forte ameaça de destruição.
  • "Nada fez mais para retardar essa catástrofe nos últimos 10 mil anos que a ação dos mosquito", diz Quammen.
  • Além disso, destruir uma espécie não é um assunto apenas científico, mas também filosófico.
    Há quem argumente que é inaceitável eliminar deliberadamente uma espécie apenas porque ela é perigosa para os humanos, quando os humanos são perigosos para tantas espécies.
    "Nessa linha, (eliminar os mosquitos) seria moralmente errado", diz Jonathan Pugh, do Centro Uehiro de Ética Prática da Universidade de Oxford.
    Ele lembra, porém, que esse não é um argumento que possa ser aplicado a todas as espécies.
    "Quando erradicamos o vírus da varíola, nós comemoramos muito. Então acho que precisamos nos questionar se ele (o mosquito) tem algum valor. Se é sensível e, por isso, tem capacidade de sentir dor. Segundo cientistas, mosquitos não têm uma resposta emocional a dor como a nossa", diz Pugh.
  • "Também, (precisamos nos perguntar) se temos uma boa razão para nos livrarmos deles. Bem, os mosquitos são os principais transmissores de diversas doenças."
    Toda essa discussão hoje é hipotética, pois apesar de experiências recentes terem conseguido reduzir o número de mosquitos em algumas áreas, muitos pesquisadores dizem que eliminar completamente uma espécie seria impossível.
    "Não tem solução milagrosa", diz Hawkes. "Pesquisas de campo com mosquitos geneticamente modificados tiveram sucesso moderado mas exigiram a liberação de milhões de insetos para cobrir uma pequena área", diz.
    "Conseguir fazer com que todas as fêmeas cruzem com machos estéreis em uma grande área seria muito difícil. Deveríamos tentar combinar isso com outras técnicas."
  • Outras técnicas
  • Há diversos projetos sendo desenvolvidos pelo mundo para reduzir a transmissão de doenças por mosquitos.
    No Kew Gardens, em Londres, cientistas estão desenvolvendo um sensor que pode distinguir cada espécie de mosquito de acordo com o bater de suas asas.
    Eles pretendem distribuí-los em áreas rurais da Indonésia para ajudar a detectar mosquitos transmissores de doenças.

  • Na London School of Tropical Medicine, cientistas descobriram como mosquitos fêmea são atraídas por certos cheiros, gerando esperanças de repelentes mais eficazes.
    Outra estratégia promissora explorada por pesquisas com mosquitos geneticamente modificados é torná-los resistentes a parasitas que causam doenças.
    Na Austrália, o programa "Eliminar a Dengue" está usando bactérias para reduzir a capacidade de mosquitos de passar dengue para pessoas.
    "Essa é uma abordagem mais realista para diminuir a transmissão de doenças por mosquitos", opina Lounibos.
    Nos EUA, cientistas criaram um mosquitos transgênico com um novo gene de laboratório que o torna resistente ao parasita da malária.
  • "Estamos jogando um jogo evolucionário com os mosquitos", diz Hawkes. "Espero que ganhemos a batalha nos próximos 10 ou 15 anos."
  • BBC Brasil

     

     


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  • sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

    Adeus ao cenário de "O exterminador do futuro"



    O melhor pôr-do-sol de Los Angeles não estava na praia, nem nas colinas de Hollywood. Para muitos, a melhor foto da cidade estava sobre uma ponte com dois arcos metálicos e desenho futurista, uma das 13 que cruzam o rio de cimento de Los Angeles e comunicam os bairros proletários da zona leste com o centro da cidade. Essa foto já não poderá mais ser feita. A ponte da rua 6 foi fechada ao tráfego na última terça-feira à noite, e ninguém mais voltará a cruzá-la. Será demolida nos próximos nove meses.
    Não é preciso ter pisado nessa ponte para ter estado ali. Milhões de pessoas passaram por cima ou por baixo dela em O Exterminador do Futuro 2, O Máskara, Drive, no clipe da canção Happy e no game Grand Theft Auto. O primeiro episódio da série Fear the Walking Dead é uma das últimas produções locais nas quais figurou. O túnel pelo qual se acessa o rio, local exato da corrida de carros de GreaseNos Tempos da Brilhantina, ainda está aberto para passear.
    Em outubro, um festival de despedida da ponte reuniu uma multidão ao entardecer, com os edifícios ao fundo. Não foi adeus suficiente. Na noite de terça, após a notícia de que ela seria fechada para sempre, centenas de pessoas ocuparam espontaneamente a ponte para fazer uma última foto. Apareceram por ali carros de coleção da cultura low-rider dos hispânicos dos anos cinquenta. A multidão interrompeu o trânsito, e a polícia precisou intervir.
    Construída em 1932, em plena expansão otimista de uma cidade que nadava em petróleo e celuloide, tem 1.066 metros de comprimento – a mais longa da cidade – e é uma das joias arquitetônicas de Los Angeles. Oito décadas depois, este ícone da cidade está jurado de morte. Tem uma doença no cimento que o torna excessivamente frágil para uma região sísmica como o sul da Califórnia. Os especialistas calculam que tem 70% de possibilidades de ser destruída em um terremoto forte, que cedo ou tarde ocorrerá. Em 2011, a cidade decidiu que a única solução era uma ponte nova.
    A demolição vai demorar nove meses. A nova ponte só será inaugurada em 2019. As obras custarão 449 milhões de dólares (1,8 bilhão de reais), que a prefeitura obteve junto aos Governos federal e estadual. O novo projeto, escolhido num concurso internacional, foi realizado pelos escritórios HNTB e Michael Maltzan Architecture. Terá 10 pares de arcos iluminados à noite, ciclofaixa e um centro de artes no seu interior. É diferente. Um jornalista perguntou ao engenheiro-chefe da Prefeitura, Gary Lee Moore, se as autoridades não haviam cogitado construir uma ponte idêntica à atual. “Se você precisasse refazer a sua casa depois de 85 anos, a faria igual?”, respondeu. Seus criadores aspiram a que a nova ponte se torne um cartão-postal da cidade, tanto quanto sua antecessora.
    Após os estudos necessários e o concurso internacional para o novo projeto, chegou na quarta-feira a data prevista para o começo das obras. Pela manhã, o prefeito Eric Garcetti concedeu entrevista coletiva junto à ponte para explicar as consequências viárias da obra. A rodovia 101, que cruza todo o centro da cidade e passa também sob a ponte, precisará ser interrompida entre 5 e 7 de fevereiro, e já se busca uma palavra que descreva essa confusão no trânsito. Em obras semelhantes cunhou-se o termo Carmageddon, às vezes se fala de Jamzilla [mistura de jam, congestionamento, com o monstro Godzilla]; quando o presidente vem à cidade e é preciso interromper o trânsito para a passagem da comitiva, fala-se em um Obamageddon.
    Nessa entrevista coletiva também estava o vereador José Huizar, que representa esse distrito. A ponte da rua 6 “era uma atração em si mesma”, recordou Huizar, que cresceu no Boyle Heights, o coração chicano de Los Angeles, comunicado com o progresso justamente por essas pontes. Huizar recordou que, quando criança, cruzava a ponte de bicicleta pela manhã para apanhar o fardo de jornais que depois distribuía pelo bairro. “A ponte representava esperança e oportunidade para muita gente”, disse.
    O ato do prefeito para dar início às obras, na manhã de quarta-feira, tinha um tom otimista, de olhar para o futuro e renovação urbana. “Mal posso esperar para voltar dentro de alguns anos e cortar a fita”, disse. Mas Huizar, ao saudar os operários, perguntou meio de brincadeira: “Por que está todo mundo tão triste?”.
     

    Por que zica vírus foi identificado em humanos nos anos 1950 mas só virou epidemia agora?

     
    Descoberto em humanos pela primeira vez em Uganda, na África, em 1952, o zika vírus se espalhou pela Ásia e pelo Pacífico até chegar às Américas. O primeiro caso registrado no continente foi na ilha de Páscoa, no Chile, em 2007, mas a maior epidemia já registrada ocorre atualmente no Brasil.
    Apesar de existir há mais de meio século, por que somente agora o zika espalhou-se de forma ampla?
    Especialistas ouvidos pela BBC Brasil apontam um alinhamento de fatores que permitiram a popularização do vírus a níveis "alarmantes", com casos reportados em mais de 24 países nas Américas, como definiu a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan.
    Estimativas da organização apontam que haverá entre 3 e 4 milhões de casos de zika somente no continente durante este ano. Desses, de 500 mil a 1,5 milhão ocorrerão no Brasil.
    "Há diversos determinantes para isso", explica Antoine Flahault, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra. A popularização das viagens internacionais é um dos motivos. "O aumento dos deslocamentos com aviões ajuda na disseminação do vírus. É muito fácil exportar casos de zika, dengue e chikungunya."
    Outro aspecto é a popularidade do vetor. "Há ampla presença do mosquito. O Aedes aegypti está praticamente em todos os lugares do mundo e é muito difícil erradicar esse mosquito", continua Flahaut.
    Segundo ele, em contraste com o mosquito transmissor da malária, Anopheles, o Aedes aegypti se adapta muito bem ao meio urbano e isso contribui para inflar ainda mais a epidemia.
    Em países onde houve desenvolvimento econômico levando comunidades a migrar do campo para a cidade foi registrada uma diminuição nos casos de malária. Mas o mesmo fenômeno não se aplica à zika, justamente pela alta adaptabilidade do mosquito, explicou à BBC Brasil.
    O aquecimento global também poderia estar contribuindo para a propagação do vírus. "Já foi comprovado por climatologistas o impacto (das mudanças climáticas) no surto de chikungunya no Oceano Índico em 2005 e eu suponho que, embora ainda não comprovado, isso também se aplique ao zika", disse Flahault.

    Mudanças

    O diretor do departamento de vigilância e resposta do ECDC, Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, órgão da União Europeia responsável por questões de saúde, Denis Coulombier, aponta que a maior circulação de pessoas não é a única justificativa para o dramático aumento dos casos.
    "Sim, há um aumento nas viagens, mas você não pode excluir que houve uma mudança no vírus, o que ocorreu ao longo do tempo. Houve também uma mudança no mosquito. Sabemos que as populações de mosquitos mudam com o tempo, se adaptam. Isso é claramente multifatorial", aponta Coulombier.
    Ele diz acreditar que as mutações sofridas pelos organismos envolvidos no ciclo da doença – o vírus e o vetor – contribuíram decisivamente para a propagação atingir o "ponto limiar".
    É um efeito de ponto limiar. Por muitos anos houve pequenos surtos que não resultaram em uma grande fogueira, mas de repente um caso irá mais adiante e resultará em um grande incêndio, que é a epidemia", continua.
    Para Coulombier, a América Latina é especialmente suscetível por não ter sido anteriormente exposta ao vírus. Segundo ele, as populações não possuem anticorpos de resistência à doença.
    "Sabemos que nesses casos a primeira onda de infecções é a que registra maior número de casos, porque o vírus está chegando a uma população completamente virgem."

    Alarmante

    Em declaração no plenário do encontro executivo da OMS, a diretora-geral da organização, Margaret Chan, reforçou que o vírus mudou rapidamente de perfil, passando de uma "ameaça moderada" para uma de "proporções alarmantes".
    Alguns aspectos que preocupam a comunidade internacional são justamente os pontos levantados por Flahault e Coulombier: a dispersão internacional do vírus e a falta de imunidade na população.
    Margaret Chan ainda destacou o fenômeno climático El Niño como catalisador da popularização do mosquito.
    Esses e outros pontos de preocupação internacional serão abordados numa reunião emergencial convocada para a próxima segunda-feira.
    Também estarão na pauta do encontro a associação – ainda não completamente desvendada – entre o vírus e a má-formação de bebês, a ausência de vacina e de diagnóstico imediato e a busca de um alinhamento a respeito de eventuais alertas internacionais emitidos a viajantes.

    quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

    "El Niño" e zika vírus se aliam contra o continente americano

     
    As temperaturas extremas que o fenômeno "El Niño" gerou nos últimos meses acionaram os alarmes no continente americano por favorecer com altas temperaturas e umidades a reprodução do mosquito transmissor do zika vírus.
    O fenômeno natural, originado em águas do Pacífico e de um poder destrutivo que pode provocar desde inundações até secas, elevou os termômetros a níveis históricos e também o temor de que seu impacto chegue ao registrado entre 1997 e 1998.
    Nos Estados Unidos, as autoridades meteorológicas assinalam que a principal consequência foi um menor número de furacões no Atlântico na temporada passada, assim como o fato de que 2015 tenha sido o ano mais quente para a Terra desde que começaram os registros climáticos há 136 anos.
    Na América Latina, as autoridades vincularam essa ascensão das temperaturas com as condições para a propagação do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como zika, dengue, chicungunha e febre amarela, que cresce e se reproduz em climas tropicais e áreas com água parada.
    A Organização Mundial da Saúde (OMS) teme que entre três milhões e quatros milhões de pessoas sejam afetadas pelo atual surto de zika na América durante 2016, razão pela qual convocou para a próxima segunda-feira um comitê para determinar se a situação se trata de uma emergência internacional.
    O Brasil sofre há meses persistentes secas no nordeste e fortes chuvas no sudeste que causaram inundações e mobilizaram cerca de 220.000 soldados que reforçarão as campanhas de prevenção de doenças.
    Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, as chuvas geraram condições para a aparição de criadouros do mosquito Aedes aegypti.
    No país teme-se que o zika vírus esteja associado aos quase 4.200 casos de bebês com microcefalia, doença que acarreta um crescimento deficiente do crânio nos recém-nascidos.
    Na Colômbia, o mais recente boletim epidemiológico fala de um total de 16.419 casos de zika, dos quais 890 são de mulheres grávidas.
    Segundo o governo colombiano, 57,5% dos casos dessas doenças foram registrados em áreas de clima tropical afetadas pelas elevadas temperaturas, que no caso da capital Bogotá chegaram ao recorde histórico de 25,6 graus centígrados.
    "El Niño" também afetou com força o Cone Sul, onde as inundações deslocaram milhares de pessoas e geraram reservatórios de água propícios para a aparição de insetos.
    A Argentina sofreu com as enchentes dos rios na região nordeste do país - conhecida como El Litoral -, que provocaram fortes inundações durante o último Natal e obrigaram 30.000 pessoas a receber o Ano Novo longes de suas casas.
    A região nordeste é agora também a mais castigada pela dengue, com duas províncias (Misiones e Formosa, fronteiriças com Paraguai e Brasil) em situação de emergência por um "surto epidemiológico" de pelo menos mil casos diagnosticados.
    O Ministério da Saúde argentino apontou que as elevadas temperaturas e as chuvas provocaram a antecipação neste ano das semanas de maior incidência da dengue, que normalmente são em fevereiro e março.
    As incomuns precipitações também fizeram aumentar o volume do rio Paraguai, que alagou bairros inteiros de Assunção, onde fizeram com que cerca de 100.000 pessoas abandonassem seus lares.
    O Paraguai, onde as temperaturas alcançaram 40 graus centígrados, decretou um alerta epidemiológico após registrar 4.298 casos de chicungunha desde 2015 e detectar a circulação do zika vírus em áreas fronteiriças com o Brasil.
    "El Niño" mantém até agora uma intensidade forte na região andina, especificamente no Peru com um aquecimento anômalo da temperatura do mar que chega até 3 graus acima da média histórica, embora não tenha gerado chuvas.
    O Equador previu o aumento na intensidade e na frequência das precipitações de forma progressiva, durante fevereiro e março de 2016, e confirmou 17 casos (nove autóctones e oito importados) de pessoas afetadas pelo zika vírus.
    Na Bolívia pelo menos 15 pessoas morreram e 22.541 famílias foram afetadas pelas chuvas e a seca nos dois últimos meses como consequência de "El Niño".
    Cuba viu também um aumento das chuvas durante o mês de janeiro, superiores em mais que o dobro da média histórica do mês, apesar de tratar-se da estação seca do ano.
    Segundo dados do Centro do Clima do Instituto de Meteorologia, "El Niño" contribuiu para que 2015 fosse o ano mais quente em Cuba desde 1951.
    Na América Central, as autoridades panamenhas responsabilizam o fenômeno pela severa seca que assola o país, uma das piores nos últimos 100 anos.
    El Salvador, por sua vez, está sofrendo um aumento médio de temperaturas de 0,3 graus centígrados em virtude de "El Niño" e o volume dos rios poderia diminuir, entre janeiro e abril, até 85%.
    Já as autoridades da Nicarágua disseram que não estão preocupadas pelos efeitos de "El Niño", ao contrário de produtores agrícolas e várias ONGs que mostram certo receio pelo que possa acarretar um terceiro ano com seca por causa deste fenômeno.
    Na Guatemala, se estima que as famílias afetadas por "El Niño" sejam entre 150.000 e 170.000, mas se está trabalhando para implementar um plano de "contingência" em março que permita atenuar a situação, e advertiram que o impacto do zika vírus será "potencialmente muito forte" de junho até outubro devido ao aumento das chuvas.
     

    Em busca dos mistérios da antimatéria

    
Instalações da colaboração Alpha no Cern: carga do anti-hidrogênio é neutra até o bilionésimo da carga do elétron
Foto: Cern
     
    De acordo com as teorias mais aceitas atualmente, o Big Bang, a grande explosão que se acredita ter dado origem ao nosso Universo há cerca de 13,8 bilhões de anos, deveria ter criado quantidades iguais de matéria e antimatéria que logo se aniquilariam mutuamente, deixando para trás um deserto de energia. Mas nós, e todos os planetas, estrelas e galáxias, aqui estamos, então algo aconteceu para que houvesse uma assimetria na formação ou interação da matéria e da antimatéria na origem do Cosmo. A causa disso é um dos maiores mistérios da ciência hoje, e novas medidas da neutralidade da carga elétrica do anti-hidrogênio, feitas por pesquisadores no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), aprofundam ainda mais a questão.
    Espelho da matéria “comum” da qual somos feitos, a antimatéria, também segundo a teoria mais aceita hoje — o chamado Modelo Padrão da física de partículas —, deve ter propriedades iguais a ela, mas com algumas características trocadas. Assim, ao próton, de carga positiva, se contrapõe o antipróton, com carga negativa, enquanto ao elétron, negativo, temos o pósitron, positivo. E, assim como um próton e um elétron formam um átomo neutro de hidrogênio, um antipróton e um pósitron compõem um átomo de anti-hidrogênio, também teoricamente neutro.
    Neutro ao bilionésimo
    Apenas recentemente, porém, a Humanidade conquistou a capacidade de produzir esses antiátomos e capturá-los para estudá-los. E, de acordo com as últimas medições feitas no Cern, com uma precisão 20 vezes superior às anteriores, o anti-hidrogênio é de fato neutro até o limite de 0,7 parte por bilhão da carga elementar do elétron.
    — Esta igualdade na neutralidade da carga do hidrogênio e do anti-hidrogênio é prevista na teoria, então, de qualquer forma, não esperávamos ver uma diferença, mesmo neste nível de precisão — conta Claudio Lenz Cesar, professor do Instituto de Física de UFRJ e um dos três brasileiros da
    instituição que integram a colaboração Alpha, o grupo de cientistas responsável pelas últimas medições, publicadas esta semana na revista “Nature”. — Mas, como físicos experimentais, é nossa obrigação testar e medir tudo com a maior precisão possível. Ainda mais porque, se a neutralidade da carga do hidrogênio e do anti-hidrogênio for realmente igual, continuamos sem ter uma explicação para a assimetria entre matéria e antimatéria no Universo e o mistério continua.
    Os cientistas, no entanto, ainda estão longe de desistir de encontrar alguma diferença nas propriedades da antimatéria que possa justificar sua ausência no Universo que vivemos na sua forma primordial, isto é, a que se supõe ter sido criada no Big Bang. Além de planos para estudar em ainda mais detalhes a carga do anti-hidrogênio este ano, chegando ao nível quântico, os pesquisadores da colaboração no Cern pretendem verificar outros parâmetros, como, por exemplo, se a antimatéria “sente” a ação da gravidade da mesma maneira que a matéria “comum”, assim como se as linhas de emissão do anti-hidrogênio no espectro eletromagnético, isto é, sua “cor” e amplitude, são iguais às do hidrogênio.
    Qualquer variação nestas propriedades, mesmo que muito pequena, pode ter implicações tão gigantescas na escala cósmica que explicariam por que a
    matéria comum predomina no Universo. Por outro lado, Cesar lembra que mesmo se não for encontrada diferença alguma nelas, ainda assim isso será um grande avanço para a ciência ao obrigar uma revisão geral das principais teorias cosmológicas atuais.
    — Isso será uma enorme revolução na física, inclusive pelo potencial de derrubar alguns dos principais dogmas da Relatividade Geral, que até agora se mostrou precisa em todas suas previsões sobre como se comporta nosso Universo em grande escala — conclui.
    O Globo.com
     









     

    Como foi formado o solo, essa impressionante fonte da vida



    A terra é crucial em quase todos os aspectos da vida humana, para armazenar e filtrar água, regular o clima, prevenir enchentes, reciclar nutrientes e decompor matéria orgânica.
    A terra sob nosso pés também é uma grande fonte de biodiversidade: algumas estimativas indicam que pelo menos uma quarto de todas as espécies vive dentro ou sobre o solo.
    E ainda estamos descobrindo seus tesouros: em janeiro de 2015, cientistas anunciaram a descoberta do primeiro antibiótico em 30 anos em bactérias do solo.
    "A biodiversidade do solo fica escondida, mas ela é crucial para ecossistemas saudáveis, e basicamente por humanos saudáveis", dizem Tandra Fraser and Diana Wall, da Global Soil Biodiversity Initiative.
     
    Mas da onde veio o solo, e por que ele é tão fundamental para a vida na Terra?
    Quando o sistema solar nasceu, antes de nosso planeta se formar, os componentes essenciais do solo vagavam insuspeitos na escuridão do espaço. A prova disso são meteoritos conhecidos como condritos carbonáceos, que datam dos primórdios do sistema solar e são ricos em minerais de argila que integravam os primeiros solos terrestres.
     
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    Após a formação da Terra, há cerca de 4,6 bilhões de anos, esses solos ricos em argila se desenvolveram em nosso jovem planeta. Mas as condições eram difíceis: grandes e frequentes meteoros teriam derretido e pulverizado grandes volumes desse antigo solo assim que ele se formava.
    "Há discussões sobre se toda a superfície da Terra derreteu", diz Gregory Retallack, especialista em solos antigos da Universidade do Oregon em Eugene, nos Estados Unidos.
    Ele defende a teoria de que apenas metade da Terra derreteu ao mesmo tempo.
    Há cerca de 3,8 bilhões de anos, as condições na Terra começaram a se estabilizar. O constante bombardeamento por meteoros que até então atormentava o planeta começou a se acalmar, e a água líquida pôde condensar, formando lagos e oceanos. Isso marcou um ponto importante na história do solo.
    A água desgastou e erodiu a rochosa crosta da Terra, gerando matéria mineral e formando mais solos permanentes.

    Formas de vida

    A primeira forma de vida na Terra pareceu, provavelmente, um pouco depois, cerca de 3,5 milhões de anos atrás; algumas das evidências mais antigas disso vêm de fósseis que se formaram em litorais rochosos e lembravam tapetes microbianos chamados estromatólitos, que ainda são encontrado na Terra hoje.
    Praticamente desde o momento em que surgiu, a vida começou a influenciar o solo - e vice-versa. Por exemplo, esses primeiros tapetes microbianos eram feitos de organismos que faziam fotossíntese, que podia produzir grandes volumes de material orgânico usando energia do sol.
     
     
    Essa matéria orgânica gradualmente se acumulou na linha costeira, onde se misturou com os minerais liberados pela erosão das rochas para criar o que pode ser considerado o primeiro solo de verdade.
    Mas isso não era a terra como conhecemos hoje. Esse solo era fraco na tarefa de acumular água e nutrientes que mantém a vida. A capacidade do solo de acumular água depende de poros que se formam entre os grãos; mas a estrutura simples dos solos primordiais fazia com que eles escoassem rapidamente, levando nutrientes no processo.
    Por causa disso, a terra permanecia um habitat inóspito, e a vida estava restrita à costa, onde a água estava disponível de forma imediata.
    Nenhum organismo individual tinha as adaptações necessárias para se distanciar da costa e colonizar completamente solos de baixa qualidade. A chave para colonizar a terra foi a cooperação – mais especificamente, o surgimento dos liquens, entre 700 e 550 milhões de anos atrás.

    Trocas benéficas

    Liquens são organismos impressionantes. Seu tecido é formado por uma interação entre algas e fungos, que às vezes envolve bactérias – organismos representando três reinos diferentes. Os liquens são extremamente resilientes e se adaptam facilmente devido a essa relação simbiótica única.
    Algas podem fazer fotossíntese, dando energia ao liquens, enquanto os fungos coletam água, impedindo a desidratação dos liquens. Os fungos têm filamentos longos e finos, que são extremamente bons em recolher água do ambiente, e também conseguem reciclar água durante a respiração. Mais importante do que isso, os liquens contêm bactérias fotossintéticas - chamadas cianobactérias - capazes de capturar nitrogênio do ambiente, liberado quando elas morrem, fertilizando o solo.
     
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    Trabalhando juntos, esses organismos diferentes combinaram suas habilidades para colonizar o solo que cobria a Terra há meio bilhão de anos. Até hoje, os liquens estão entre os organismos mais adaptáveis da Terra.
    "Liquens podem colonizar pedras", diz Paul Falkowski, da Universidade Rutgers em Nova Jersey, nos EUA. "Eles também produzem ácidos orgânicos que aumentam o intemperismo", diz.
    Isso significa que os liquens não apenas se mudaram para os solos primitivos da Terra – eles também o modificaram.
    Ao acelerar o efeito de intempérie nas rochas, os liquens liberam ainda mais nutrientes no solo, tornando-o mais fértil e abrindo caminho para que outras formas de vida se mudassem para a terra.
    "Os liquens foram decisivos para a colonização da terra pelas plantas", diz Falkowski.
    Essa segunda onda de colonização começou há cerca de 440 milhões de anos - e as primeiras plantas terrestres logo começaram a alterar o solo elas mesmas. "Elas criaram uma estrutura de solo mais marcada", explica Retallack, e elas ajudaram a liberar nutrientes como fósforo e potássio no solo. "Isso teve uma efeito de fertilizar tanto a terra quanto o mar", adiciona.
     
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    Uma das chaves para o poder fertilizador das plantas foram os fungos em suas raízes. Essas micorrizas evoluíram há cerca de 500 milhões de anos, antes mesmo de as plantas desenvolverem raízes.
    Assim como os fungos nos liquens, micorrizas absorvem energia ao cooperarem com plantas que fazem fotossíntese - e também aqui os benefícios são mútuos: as micorrizas têm filamentos que aumentam o alcance das plantas e faz com que elas fiquem mais estáveis, e permitem que elas absorvam nitrogênio e outros nutrientes do solo.
    Filamentos de micorrizas também penetram as rochas, liberando nutrientes como fósforo, cálcio e ferro e aumentando o volume de solo.
    Os cientistas acreditam que essa relação de mutualismo foi essencial para a evolução das plantas terrestres.
    "Essa relação benéfica para os dois ajudou as plantas a colonizar a terra antes de elas terem raízes e antes de o solo ser como conhecemos hoje", explica Katie Field, da Universidade de Leeds, no Reino Unidos.
    "Com o passar do tempo, as plantas evoluíram e viraram estruturas mais complexas, desenvolvendo plantas e sistemas de raízes", completa. Isso trouxe mais matéria orgânica para o solo e ajudou a estabilizá-lo contra a erosão.

    Depósito de água

    Hoje, relações de mutualismo como essas formam a base do ciclo de nutrientes, sem o qual nós passaríamos fome. Mais de 80% das plantas constroem relações entre suas micorrizas e filamentos de fungos, e isso é crucial para liberar nitrogênio no solo.
    Micorrizas também formam grandes redes, que estabilizam a estrutura do solo e permitem que as plantas se comuniquem, dando a elas o apelido de "internet da Terra".
    À medida que as plantas colonizaram a terra e começaram a liberar grandes quantidade de matéria orgânica no solo sua capacidade de estocar água aumentou. O acúmulo e filtragem de água é uma das funções mais importantes do solo até hoje: dependemos disso para água potável e agricultura. Essa capacidade também é importante para reduzir o risco de enchentes, além de ser um proteção contra a seca.
     
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    A água subterrânea forma cerca de 20% do água potável do mundo, embora represente menos de 1% da água da Terra. É um importante reservatório de água potável e de irrigação, com 125 trilhões de litros apenas nos solos dos Estados Unidos.
    Há um capítulo final da evolução do solo moderno. Em algum momento entre 490 e 430 milhões, os primeiros animais começaram a sair dos oceanos e colonizar a terra. Há cerca de 420 milhões de anos, os invertebrados terrestres estavam em ascensão - e, mais uma vez, o solo mudou como consequência disso.
    Esses animais era herbívoros, que devoravam os tapetes de algas e líquen que povoavam a terra e devolviam nutrientes para o solo. Eles também começaram a colonizar o solo e a misturar matéria orgânica morta e outros mineiras nas pedras. Essa ação mudou a estrutura do solo e ajudou as plantas a continuarem seu desenvolvimento.
    A variedade de organismos vivendo no solo aumentou rapidamente. Novos invertebrados apareceram, incluindo embuás, ácaros e ancestrais de aranhas. Há cerca de 360 milhões de anos, os solos já eram muito parecidos com os de hoje, com a mesma variedade que encontramos sob nossos pés atualmente.

    Futuro

    E a história do solo continua a se desenvolver como consequência de nossas ações nos últimos séculos.
    Desde a década de 1960, o uso de fertilizantes de nitrogênio aumentou cerca de 800%. E o excesso de nitrogênio é carregado pelas águas das chuvas para rios e correntes de água, onde pode causar fenômenos como "marés vermelhas", levando à liberação de óxido de nitrogênio, uma gás de efeito estufa perigoso para a saúde humana.
    Alterações no solo provocadas pela ação humana preocupam porque ele responde lentamente a mudanças - danos podem levar décadas e até séculos para serem consertados.
    Alterações no solo provocadas pela ação humana preocupam porque ele responde lentamente a mudanças - danos podem levar décadas e até séculos para serem consertados.
     
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    O solo também pode ser uma fonte de gases de efeito estufa. Ao acumular matéria orgânica, ele se torna um grande depósito de carbono, impedindo que este se transforme em CO2 na atmosfera.
    Mas quando, por exemplo, turfa é queimada, o carbono consegue sair para a atmosfera, como ocorreu no incêndio ocorrido na Indonésia no ano passado, que liberou diariamente mais gases de efeito estufa que os EUA e passou a ser chamado de "o grande desastre ambiental do século 21".
    Práticas modernas de agricultura também são prejudiciais para as micorrizas, reduzindo a capacidade das plantações de obter nutrientes vitais e degradando o solo no processo.
    Na verdade, nossa agricultura está revertendo bilhões de anos de evolução do solo e tornando solos mais vulneráveis à erosão. Metade da camada superior do solo, sua parte mais ativa e importante, se perdeu nos últimos 150 anos.
    Solos erodidos seguram menos água e nutrientes, tornando difícil plantar nestes locais e deixando a terra mais vulnerável a enchentes e secas. Os sedimentos do solo têm que ir para outros locais, então a erosão também entope nossos rios, matando os organismos que vivem ali.
    O problema pode ficar pior. A intensificação da agricultura está destruindo solos em todo o mundo, e com a previsão de que a população chegue a 9 bilhões em 2050, a segurança alimentar do futuro está em jogo.
    A boa notícia é que se começarmos a tomar conta da terra podemos aproveitar sua capacidade de estocar carbono, entre outras coisas, e usar isso para combater a mudança climática.
    BBC Brasil
     

    quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

    Fundação Mata Atlântica diz que água do rio doce é de "péssima" qualidade

    Um estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica concluiu que a condição ambiental do Rio Doce é considerada “péssima” em 650 km de rio. Na comparação, a distância em linha reta entre as cidades de Brasília e Belo Horizonte é de 620 km. A fundação analisou 18 pontos em 29 municípios afetados pela tragédia ambiental na Barragem do Fundão, em Minas Gerais.
     
    Passagem da lama pelo Rio Doce após o rompimento de duas barragens em Mariana, Minas Gerais
     
    De acordo com os dados, 29 amostras de lama e água foram coletados para análise. “A condição do Rio Doce é de qualidade de água péssima, imprópria pra uso desde Bento Rodrigues [em Minas Gerais] até Regência [no Espírito Santo]”, afirmou à Agência Brasil a coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.
    Nas amostras coletadas foram encontrados níveis de magnésio, cobre, alumínio e manganês acima do permitido pela legislação. Malu pede à população das regiões afetadas para não consumir a água diretamente do Rio Doce, não nade ou ofereça água do rio para animais, mesmo fervendo antes. A recomendação é consumir água da torneira, desde que tratada pelas companhias de saneamento.
    Os níveis de turbidez da água apresentaram resultados muito superiores aos aceitáveis. A turbidez variou de 5.150 NTU (sigla para Nephelometric Turbidity Unit, unidade matemática utilizada na medição da turbidez) na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, à 1.220 NTU em Ipatinga (MG), aumentando gradativamente na região da foz, em Regência (ES). O nível máximo de turbidez aceitável é de 40 NTU.
    A coordenadora da fundação também disse ser “praticamente impossível” determinar um prazo de recuperação do Rio Doce neste momento, uma vez que a Samarco ainda não apresentou o plano de recuperação. Malu lembrou que só a recuperação da mata ciliar, que “sofreu uma perda de 17 campos de futebol”, vai levar no mínimo cinco anos.
    Para a coordenadora, a recuperação das águas do Rio Doce em dez anos, prazo mínimo estimado pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, depende do esforço dos responsáveis. “É possível em dez anos, mas várias técnicas precisam ser implementadas simultaneamente. Não vimos o plano. A Samarco tem de apresentar o plano.”
    Segundo Malu, existem outras barragens em situação semelhante à de Mariana. “Mais importante agora é retirar os rejeitos da região de cabeceira que correm o risco de romper. Esse acidente tem de servir pelo menos como alerta. Que o licenciamento ambiental seja mais rigoroso. Que segurança temos de que outras barragens não vão se romper, se elas são mantidas com o mesmo sistema?”
     

    Infestação de escorpião pode aumentar 70% em dois anos

    Escorpião amarelo
     
    Durante o verão, é comum ouvir casos de pessoas que se depararam com escorpiões amarelos no jardim, na janela ou na pia da lavanderia.
    No entanto, o pequeno animal (que cabe até na palma da mão de uma criança) tem se reproduzido em uma proporção fora do que é considerado normal.
    Segundo Randy Baldresca, biólogo e pesquisador, o número de bichinhos andando pelas ruas deve aumentar até 70% nos próximos dois anos.
    Publicidade

    “Se o acúmulo de lixo permanecer nas ruas, a população continuar mal informada em como lidar com o animal e o número de edificações for ampliado, a situação vai se agravar”, diz Baldresca. 
     
    E a população já começa a sentir esse efeito. Na cidade de São Paulo, por exemplo, moradores de um bairro nobre relataram que em apenas uma semana, cerca de cem escorpiões foram capturados. 
    No fim do ano passado, o Tityus serrulatus (seu nome científico), também foi responsável por desclassificar uma estudante de Campinas (SP) no vestibular da Fuvest, prova que dá acesso à Universidade de São Paulo (USP). Pouco antes de iniciar o exame, ela passou mal e teve que deixar o local. 
    Casos como estes figuram numa série de relatos notificados desde o início deste ano. Consultada por EXAME.com, uma empresa especializada no controle de pragas informou que só nas duas primeiras semanas de 2016, mais de 60 infestações de escorpiões foram controladas pelos biólogos da equipe da Grande São Paulo. 
    Só para se ter ideia da gravidade, a empresa registra cerca de 80 casos de infestação no período de um ano.
    O Ministério da Saúde estimou a quantidade de acidentes por escorpiões em 2015. E o número assusta: aproximadamente 74,5 mil pessoas picadas em todo o Brasil – um aumento superior a 24% no período de quatro anos. 
    Vale ressaltar que a picada do escorpião amarelo pode matar. O governo do Estado de São Paulo informou que, no ano passado, cinco óbitos foram notificados. 
    Adaptabilidade e reprodução
    “Esse animal é completamente adaptável ao ambiente urbano. Ele consegue se instalar em uma residência por até um ano sem precisar se alimentar”, diz Baldresca. “E os inseticidas usados para combater insetos não funcionam para controlar escorpiões”. 
    O biólogo explica que o escorpião amarelo se reproduz até duas vezes ao ano. Porém, quando esse animal sofre um stress (como quando jogamos veneno ou o cutucamos), ele entra em um processo de reprodução assexuada. 
    “Ou seja, quando provocado, ele se autoreproduz fora de época e libera de 20 a 30 filhotes no ambiente”, explica.
    Prevenção 
    Se tratando da terceira espécie de escorpião mais perigosa do mundo, é preciso saber como se prevenir. As principais vítimas, e as que correm o maior risco, são as crianças de até 12 anos e os idosos.
    Sendo assim, o biólogo recomenda que os jovens utilizem calçados nos jardins e que o ambiente de casa esteja sempre limpo e livre de sujeira.
    “Evite deixar louça na pia da cozinha, retire o lixo do banheiro antes que ele acumule e tampe todos os ralos e pias”, diz. “Assim, você diminui a presença de baratas, que é a principal fonte de alimentação dos escorpiões e grande responsável por seu aparecimento nas residências”. 
    Como reagir
    É importante lembrar que quanto mais próximo um local for de um cemitério, terreno baldio, trem ou riacho, maior é o risco de presença desse aracnídeo.
    Como o veneno não ajuda e não mata o bicho, o recomendado é que ao se deparar com um, seja feita uma ação mecânica que mate o animal. Na prática, a pessoa deve usar uma faca ou algum objeto que esmague ou corte o escorpião ao meio.
    Caso mais de um seja identificado no local, especialistas recomendam que empresas controladoras de pragas sejam contactadas imediatamente. No site da Associação dos Controladores de Pragas, você encontra mais informações sobre os biólogos e empresas especializadas no combate do escorpião amarelo. 
    Exame.com

    Vacina contra o zika vírus só poderá ser usada em três anos

     
    Brasil e Estados Unidos fecharam um acordo para acelerar a produção de uma vacina conjunta contra o zika vírus. Mas, no cenário mais otimista, o produto estará no mercado somente em três anos.
    Nesta quarta-feira, 27, em Genebra, na Suíça, o chefe da delegação brasileira nas reuniões da Organização Mundial da Saúde (OMS), Jarbas Barbosa, reuniu-se com representantes do governo americano. O acordo foi de que haveria um compromisso de ambos os lados para "acelerar" os trabalhos por uma vacina entre as instituições de pesquisa dos dois países. A iniciativa havia sido antecipada com exclusividade pelo Estado em sua edição de terça-feira, 26.
    Mas, segundo Barbosa, uma vacina apenas poderia começar de fato a ser usada em três anos. "Normalmente, vacinas podem levar até dez anos para serem produzidas. Nossa meta é a de encurtar esse prazo de forma importante", disse o chefe da delegação brasileira, que também é presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
    Um primeiro grupo de especialistas brasileiros vai à Universidade do Texas na semana que vem. Segundo Barbosa, trata-se de pesquisadores do Instituto Evandro Chagas. "Já estamos iniciando a cooperação", disse. "Tanto do lado brasileiro como americano, existe a esperança de que isso acelere e que possamos ter, em um tempo muito menor, mais essa arma contra o zika vírus", afirmou.
    Questionado sobre prazos, Barbosa apontou que o cenário é de três anos até que todos os testes sejam feitos. "É difícil estabelecer um prazo exato. Mas, com esse esforço conjunto, estamos falando em um tempo de 30%, 40% ou 50% inferior a um desenvolvimento normal. Podemos talvez falar num universo de três anos para ter uma vacina desenvolvida", explicou o brasileiro.
    IstoÉ.com 

    terça-feira, 26 de janeiro de 2016

    Brasil deve se preparar para zika endêmica, dizem cientistas

    Agentes de saúde aplicam inseticidas contra o mosquito transmissor do zika no Sambódromo, no Rio de Janeiro.

    O Brasil deve se preparar para que o zika vírus se torne uma doença endêmica tanto em território nacional como em outros países de América Latina, em um cenário semelhante ao que ocorre com a dengue - que desde os anos 1990 teve o número de casos multiplicados na região.
    O aviso vem de cientistas ouvidos pela BBC Brasil para analisar os possíveis desdobramentos no surto que já atingiu mais de 20 Estados brasileiros e pelo menos duas dezenas de países no continente. Entre eles o entomologista e médico Andrew Haddow, neto de Alexander Haddow, um dos três cientistas que em 1947 isolaram pela primeira vez o zika.
    A projeção é de um cenário preocupante diante da possível relação do zika com os 4 quatro mil casos sendo investigados de possível microcefalia no Brasil.
    Para os especialistas, o país apresenta condições ideais para um proliferação ainda maior do vírus do que a registrada até agora.
    O principal fator é a resistência do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da doença, e que voltou a infestar centros urbanos no Brasil depois de duas vezes erradicado nas últimas décadas.
    Dados do Ministério da Saúde mostram o avanço dengue no país. Foram 40 mil casos registrados em 1990. No ano 2000, o total saltou a mais de 135 mil casos, e superou 1 milhão em 2010. Em 2015, foram mais de 1,5 milhão de casos.
    A segunda questão é o fato de que a população brasileira não tem o organismo "preparado" para um vírus que, até o atual surto, não tinha sido registrado fora de países de África, Ásia e Oceania.

    'População inocente'

    "A velocidade transmissão do zika no Brasil não é surpresa porque o vírus tem o Aedes aegypti como o principal vetor de transmissão, e o país tem o que se pode chamar de 'população inocente', que não não foi anteriormente exposta. Parece-me bastante improvável que o Brasil e outros país da América Latina afetados livrem-se do zika, que tende a se tornar endêmico na região", afirmou Haddow, em entrevista por telefone, à BBC Brasil.
    Uma endemia se refere a uma doença típica e frequente em uma determinada região, por vezes em algumas épocas do ano.
    Haddow, que trabalha como pesquisador da Divisão de Virologia do Departamento de Defesa dos EUA, classificou o surtro brasileiro como um "grande alerta" para necessidade de mais estudos sobre o zika, em especial por causa da possível correlação do vírus com a má-formação em bebês.
    Em 2012, o cientista fez uma apresentação em uma conferência virologistas nos EUA em que argumentou que o vírus estaria prestes a se espalhar.
    "Estava claro que havia a possibilidade de uma distribuição geográfica ainda maior do que apenas a África e a Ásia, mas acredito que muitos casos de zika, inclusive no Brasil, tenham sido diagnosticados erroneamente como dengue por causa dos sintomas semelhantes entre as duas doenças. Os casos de microcefalia no Brasil, ainda que não tenham sido definitivamente provados como consequência do zika, mudarão esse cenário", completou o americano.

    'Endêmica e epidêmica'

    A epidemologista Jane Messina, da Universidade de Oxford, coautora de um estudo de 2013 sobre o risco de contração de dengue no Brasil durante os meses da Copa do Mundo, também projeta um quadro de expansão do zika em território brasileiro. "Não vejo razão que para que o surto seja diferente do que aconteceu com a dengue no Brasil, ainda que conheçamos pouco sobre o vírus e seja um pouco cedo para se especular".
    Messina também adota essa cautela para discutir as possíveis implicações para mulheres brasileiras e latino-americanas grávidas ou que pensem em engravidar. "Não há solução simples. Além da diminuição da população de mosquitos, tudo o que se pode fazer é seguir as orientações das autoridades nacionais e internacionais de saúde. E avaliar os riscos", completou a epidemologista.
    O diretor da Divisão de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância do Instituto Butantan, Alexander Precioso, também prevê um cenário de zika endêmico.
    "O vírus é muito recente. A maior parte da população não está imune, ou seja, é suscetível ao zika. Vivemos hoje com o mosquito disseminado por todo o país e, mais, pelas Américas. O número de casos vai aumentar progressivamente. Há uma situação ideal para a doença ser endêmica e epidêmica", alerta.

    Desconhecimento

    O que piora a situação é o desconhecimento dos cientistas a respeito do vírus. Não se sabe, por exemplo, se uma pessoa que contraia o zika ficará imune. Também não se pode prever se o virus sofrerá mutações.
    "Evolução vale para todos os organismos", alerta Precioso. "Basta ver o influenza (vírus da gripe), que demanda uma vacina diferente todo ano".
    O pesquisador do Butantan lembra que nem sequer é possível estabelecer com certeza uma relação direta entre o zika e os casos de microcefalia.
    "A hipótese é forte, mas ainda não há uma comprovação (científica). Assim como ainda não se sabe se há tranmissão por contato sexual", diz.
    O americano Haddow elogiou os esforços do Brasil em intensificar as campanhas de combate ao Aedes aegypti, incluindo a mobilização de milhares de homens das Forças Armadas.

    Olimpíada

     "Na minha opinião, as autoridades brasileiras até reagiram rápido, pois o zika nas últimas décadas tinha sido ignorado pelas principais autoridades. O que se pode fazer agora é tentar reduzir as chances de contágio".

    O americano, no entanto, não acredita que a Olimpíada deva ser simplesmente classificada como "de risco"."As pessoas viajam para outros lugares do mundo onde há doenças graves transmitidas por mosquitos, como a malária. Há vírus em outros lugares do mundo que não o Brasil. O surto de zika serve para mostrar como a globalização e as mudanças climáticas estão criando condições para a propagação de doenças ao redor do mundo", finalizou Haddow.

     

    Diamante revela existência de um oceano sob a superfície da Terra

    
O pesquisador Graham Pearson mostra a ringwoodita
Foto: Divulgação
     
    Um diamante de 5 milímetros de comprimento pode revelar a existência de um oceano gigante sob a Terra — maior que a soma de todos os mares conhecidos. A pedra, encontrada no interior do Mato Grosso, chegou à superfície de um rio há 90 milhões de anos, pegando carona na subida de uma rocha vulcânica.
    O mineral foi encontrado por acaso por mineradores no município de Juína. É feio e, julgando pela aparência, vale no máximo US$ 20. Para a ciência, no entanto, sua contribuição é incalculável. O diamante comprovaria que, a mais de 400 quilômetros de profundidade, estariam guardados um quintilhão de litros de água.
    O segredo da pedra está em um minério em seu interior, conhecido como ringwoodita — nome dado em homenagem ao geoquímico australiano Alfred Ringwood. Cerca de 1,5% de seu peso é formado por água. Sabe-se que este minério pode ser encontrado em meteoritos, mas ele nunca fora visto na Terra.
    Agora, pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, acreditam que há uma imensidão destes minérios a milhares de quilômetros de profundidade.
    — A permanência do líquido dentro do diamante, mesmo depois de ele ter vindo de um local tão profundo, é uma prova de que existe muita água presa abaixo da superfície — explica o pesquisador Gratham Pearson, que assina um estudo sobre o minério publicado hoje na revista “Nature”. — A água estaria distribuída por toda a Terra em uma zona entre 410 e 670 quilômetros de profundidade, mas ainda não sabemos quais seriam os locais mais úmidos.
    A região ocupada pelo líquido é uma zona de transição entre os mantos superior (de 100 a 410 quilômetros sob a superfície) e o inferior (a partir de 660 quilômetros de profundidade) do planeta.
    Segundo Pearson, a presença do líquido nesta região também coincide com estudos sobre condutividade elétrica realizados nos últimos anos por geofísicos.
    O diamante de água pode acabar com uma polêmica que, há 50 anos, divide cientistas que estudam a estrutura interna da Terra. Para alguns, a região de transição entre os dois mantos do planeta seria uma área seca. Outros, no entanto, defendem que a área é repleta de água.
    A região mais reveladora
    Ainda é impossível estudar detalhadamente as características desta zona, porque não existe tecnologia para chegar a uma região tão profunda. Mas não há dúvidas de como o grande e oculto oceano pode influenciar a dinâmica do planeta. A água da zona de transição poderia dissolver o magma e alcançar a parte inferior das placas continentais. Desta forma, ela criaria regiões propensas a vulcões.
    — A água retida pode explicar os padrões irregulares de algumas rochas vulcânicas — ressalta Pearson. — Além disso, a súbita libertação de água a partir desta zona poderia enfraquecer placas tectônicas.
    O estudo foi realizado por cientistas de seis países. Apesar de o diamante ter sido encontrado no Mato Grosso, nenhum brasileiro participou da análise da pedra.
    — Infelizmente ainda não temos cientistas brasileiros na pesquisa, mas esperamos trabalhar com eles, porque a região do Mato Grosso tem diamantes muito interessantes. Em nenhum lugar do mundo encontramos pedras que trazem tantas revelações — ressalta Pearson.
    Ao jornal “Guardian”, Hans Keppler, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Berlim, admitiu sua surpresa com a descoberta do diamante de água.
    — Até hoje, ninguém havia encontrado ringwoodita no manto da Terra, embora os geofísicos tivessem certeza de que ela existia. Muitas pessoas — eu, inclusive — nunca esperavam ver uma amostra.

    O Globo

    É mais saudável comer vegetais crus ou cozidos?

    Vegetais
     
    O ato de cozinhar os vegetais leva necessariamente à redução do teor de compostos bioativos e da atividade antioxidante? Existe uma forma de preparo ideal, capaz de melhor preservar as propriedades funcionais desses alimentos?
    Para responder a perguntas como essas, uma série de estudos vem sendo realizada com apoio da FAPESP no Instituto de Saúde e Sociedade (ISS) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sob a coordenação da professora Veridiana Vera de Rosso.
    “A conclusão a que chegamos até o momento é que não há uma regra válida para todos os alimentos. Depende, por exemplo, se o composto é solúvel em água, como as antocianinas, ou se é lipossolúvel, como os carotenoides. Da forma como está armazenado no vegetal, que no caso de carotenoides pode ser cristaloide, globular-tubular ou de cristal líquido. Se está ligado a outras moléculas, como proteínas, que são desnaturadas pelo calor durante o preparo, podendo facilitar a extração. Depende ainda da textura do alimento, do teor de água e de fibras. Não é possível dizer que um determinado tipo de processamento é melhor para todos os vegetais, assim como não dá para afirmar que é sempre melhor consumir o alimento cru”, avaliou de Rosso.
    No trabalho mais recente, publicado na revista Food Chemistry, o grupo investigou o que acontecia com três classes de substâncias antioxidantes presentes na couve e no repolho roxo quando esses vegetais eram submetidos a três diferentes formas de preparo: cozimento por imersão na água, cozimento a vapor e refogado.
    “Escolhemos as três formas de preparo mais empregadas no Brasil e buscamos deixar os alimentos na textura que seria agradável para a alimentação humana. Em seguida, a extração dos compostos antioxidantes presente nas amostras foi feita em laboratório”, explicou de Rosso.
    No caso dos carotenoides, grupo representado pelos pigmentos que vão do amarelo ao vermelho, todas as formas de preparo levaram a uma redução significativa do teor de compostos bioativos na couve, sendo que a menos prejudicial foi o refogado.
    Enquanto a folha crua apresentou 155 microgramas de carotenoides totais (19 diferentes substâncias dessa classe foram avaliadas) por grama de alimento (μg/g), o número caiu para 35 μg/g na couve cozida por imersão; 43 μg/g na cozida no vapor; e 69 μg/g na refogada.
    Já no repolho roxo, como o teor de carotenoides é naturalmente baixo, a diferença não foi significativa.
    Em relação às antocianinas (pigmentos do vermelho-alaranjado, ao vermelho vivo, roxo e azul) do repolho, o cozimento a vapor até mesmo favoreceu a extração dos compostos em laboratório, proporcionando aumento significativo do teor desses compostos.
    Da folha crua foi possível obter 23,9 miligramas de antocianinas (6 diferentes substâncias dessa classe foram avaliadas) por 100 gramas do vegetal (mg/100g). No repolho cozido por imersão o número caiu para 14 mg/100g; no cozido a vapor ocorreu aumento para 28,9 mg/100g; e no refogado para 25 mg/100g.
    “Como o repolho tem alto teor de fibras, a extração dos compostos é mais difícil quando a folha está crua. O cozimento a vapor promoveu o abrandamento do tecido, favorecendo a extração. Podemos inferir que o mesmo ocorre em nosso organismo, ou seja, o cozimento faz com que esses antioxidantes do repolho fiquem mais biodisponíveis para o processo digestivo. Mas, como as antocianinas são solúveis em água, devemos evitar o cozimento por imersão, pois ocorre uma grande perda durante o processo”, explicou de Rosso.
    A terceira classe de substâncias antioxidantes avaliadas foi a dos compostos fenólicos.
    No caso do repolho, o cozimento a vapor novamente aumentou a quantidade de substâncias extraídas em comparação à folha crua, passando de 49 mg/100g para 91,4 mg/100g.
    O cozimento por imersão reduziu para 23,6 mg/100g e o refogado elevou para 53,3 mg/100g. Já na couve as três formas de preparo causaram redução na quantidade de compostos fenólicos extraída, sendo que nesse caso o cozimento a vapor foi o mais prejudicial (passando de 28,5 mg/100g na folha crua para 18,6 mg/100g) e o refogado o que mais preservou o nutriente (passando para 26,9 mg/100g).
    Ação antioxidante nas células
    O passo seguinte foi avaliar em culturas de células a atividade antioxidante desses dois alimentos, tanto na forma crua como na cozida por imersão, cozida a vapor e refogada.
    “Adicionamos o extrato do alimento no meio celular e esperamos cerca de duas horas para que ele fosse metabolizado. Em seguida, adicionamos à cultura uma substância geradora de radicais livres e também uma outra substância que reage com esses radicais livre formados e torna-se fluorescente. Quanto maior é a capacidade dos antioxidantes dos alimentos de desativar os radicais livres, menos as células ficam fluorescentes”, contou de Rosso.
    Segundo a pesquisadora, de maneira geral, o cozimento a vapor foi o que melhor preservou a atividade antioxidante tanto na couve quanto no repolho roxo, embora as três formas de preparo tenham demonstrado ação antioxidante significativa.
    Os experimentos relatados na Food Chemistry contribuem para elucidar alguns pontos que de Rosso e colaboradores já haviam apontado com baixo nível de evidência em duas revisões de literatura sobre o tema – uma já publicada na revista Food Research International e outra recentemente aceita na revista Critical Reviews in Food Science and Nutrition.
    “Nas duas revisões avaliamos cerca de mil trabalhos da literatura científica e observamos uma controvérsia enorme nos resultados. O que podemos concluir é que os componentes estão armazenados de maneira diferente em cada matriz alimentícia e isso determina se ele é mais ou menos estável quando submetido ao cozimento. Portanto, usando a mesma técnica de preparo podemos obter respostas diferentes para diferentes vegetais”, afirmou.