segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Lama de barragem da Samarco chega ao mar



A lama de rejeitos de minério que vazou da barragem da Samarco - cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton - em Mariana (MG) já chegou ao mar, neste domingo (22), após passar pelo trecho do Rio Doce no distrito de Regência, em Linhares, no Norte do Espírito Santo, segundo o Serviço Geológico do Brasil.
O rompimento da barragem aconteceu no dia 5 de novembro e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas Gerais.
Desde então, a onda de rejeitos seguiu pelo Rio Doce e atingiu três municípios capixabas: Linhares, que não usa as águas do Rio Doce para abastecimento da cidade; Baixo Guandu, que passou a usar as águas do Rio Guandu; e Colatina, que tinha o rio como única fonte de captação e há cinco dias suspendeu o uso da água.
A água com tonalidade turva começou a desaguar na praia de Regência no fim da tarde deste sábado (21). Com a chegada da parte com elevada turbidez ao mar, a equipe do Serviço Geológico do Brasil encerrou os serviços em terras capixabas.
Segundo um dos engenheiros, eles recolheram uma última amostra da água do Rio Doce em Regência na manhã deste domingo (22), para análise em Belo Horizonte (MG).

Máquinas contratadas pela Samarco tem realizado a abertura da boca da barra no sentido Norte, em Regência, fazendo a manutenção do canal, para facilitar o escoamento da lama. O objetivo é que ela corra para o mar e se dilua. O serviço é acompanhado pela Prefeitura de Linhares.
Bóias de contenção A água com elevada turbidez ultrapassou as bóias de contenção da barreira de 9 km instalada por uma empresa a pedido da Samarco, na Foz do Rio Doce. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, isso já era esperado, porque as bóias são para conter óleo e não lama.
Entretanto, a Samarco informou que o esperado com a instalação é isolar a fauna e a flora que vivem no entorno, mas que as bóias conseguiram também conter a parte mais grossa da lama.
Praias A Prefeitura de Linhares emitiu um alerta para que as pessoas não entrem nas praias de Regência, Povoação e Pontal do Ipiranga, porque a água está imprópria para banho.
Justiça Na  quarta-feira, a Justiça Federal deu um prazo de 24 horas para a Samarco apresentar um plano de emergência para diminuir os impactos da lama no estado. Na quinta-feira à noite, a empresa entregou um relatório com o que vinha fazendo e o que planejava fazer, mas o Ministério Público Federal achou as medidas insuficientes.

Risco de contaminação De acordo com o presidente  do Ibama,  com a chegada ao oceano, a lama pode afetar os animais marinhos. “No percurso que está desenvolvendo agora, a lama afeta a fauna, causa um processo de congestão nos peixes, por causa da densidade do rejeito que está na água. Chegando ao estuário, ela poderá afetar a questão da nidificação das tartarugas, afetar também a ictiofauna marinha”, disse.
Segundo o biólogo André Ruschi, a chegada da lama no oceano pode ter um impacto ambiental equivalente à contaminação de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro. Ele acredita que, se nada for feito, o prejuízo ambiental do 'tsunami marrom' pode demorar 100 anos para ser revertido.

Entretanto, o engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Rosnan, os possíveis estragos estão sendo superdimensionados pelos órgãos ambientais.
“No mar, eu creio que não será nada relevante. Haverá só uma mancha colorida muito grande que se dispersará normalmente, como se dispersam as manchas que saem dos rios em épocas de grandes chuvas”, falou o engenheiro.
A preocupação inicial era de que a lama pudesse chegar ao Arquipélago de Abrolhos, que fica há 250 km do litoral.
Abastecimento de água Segundo a prefeitura de Linhares, o abastecimento de água não será afetado pela chegada da lama, já que a principal fonte de abastecimento do município é o Rio Pequeno, canal entre a Lagoa Juparanã e o Rio Doce.

Para evitar que a água do Rio Doce tenha contato com a do Rio Pequeno, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Linhares ampliou a barragem construída em outubro deste ano.

Com o abastecimento garantido, a prefeitura de Linhares está enviado caminhões-pipa com água potável para Colatina, que está com o abastecimento de água interrompido há mais de três dias por causa da onda de lama.

O Ministério Público chegou notificar a Prefeitura de Colatina na sexta-feira (20) após tumultos na distribuição de água mineral fornecida pela Samarco a população. O órgão solicitou 100 postos de distribuição.
Em Baixo Guandu, a captação de água do Rio Doce foi cortada desde segunda-feira (16). A prefeitura abriu um canal do Rio Guandu até uma estação de bombeamento e está utilizando a água do rio para abastecer a população.
Barreiras A Samarco está construindo barragens para isolar a fauna e a flora que vivem no entorno nas duas margens do rio e em algumas ilhas localizadas no estuário, nove mil metros de barreiras continuam sendo instalados em sentido longitudinal. A empresa esclareceu que essas barreiras não têm a função de impedir a chegada da pluma ao mar.

A instalação das barreiras teve início na parte sul da foz, em Regência, e segue até Povoação, na região de Linhares. Um mapeamento das áreas e ecossistemas foi realizado na região da foz para determinar o tipo de barreira a ser utilizado em cada ponto.

Prefeitura de Linhares A prefeitura de Linhares acompanha a construção das barragens e monitora a chegada da lama no mar. Segundo a administração, o município tem feito um trabalho de levantamento dos pescadores para saber quais deles sobrevivem essencialmente da pesca e garantir que a Samarco forneça auxílios para essas famílias afetadas pela chegada da lama no mar.
Samarco Em nota, a Samarco disse que está tomando as providências necessárias. “Como forma preventiva, o projeto Tamar, recolheu os ovos de tartarugas na praia de Comboios e os levou para uma parte mais alta da costa. Uma equipe coleta amostras da água antes e depois da chegada da pluma. Outra ação foi a instalação de 9 mil metros de barreiras, para isolar a fauna e a flora. Também há o monitoramento aéreo”, diz a empresa.
A Samarco ainda diz que “a Defesa Civil recomenda, por precaução e em caráter temporário, que a população não tome banho de rio e mar nessas regiões, já que, com a chegada da pluma, a cor da água fica mais escura. Reiteramos que a pluma de turbidez não é tóxica”.
Infográfico: rompimento da barragem de Mariana (MG) (Foto: Arte G1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário