domingo, 7 de junho de 2015

Passeio pelas nuvens em Uyuni

El horizonte desaparece en el salar de Uyuni, en Bolivia
 
Existe uma lenda aimará que fala de três deuses antigos: Tunupa, Kusku e Kusina. Como as pessoas ainda contam no sudoeste da Bolívia, Kusku, o marido de Tunupa, a traiu com Kusina. As lágrimas de Tunupa foram tantas que criaram um grande lago salgado. Passaram-se séculos, mas aquele lago de lágrimas continua exatamente no mesmo lugar, só que está escondido sob um grande estrato de sal. O lago é conhecido como Salar de Uyuni (salina de Uyuni), embora alguns moradores locais prefiram dizer Salar de Tunupa, e é provavelmente uma das paisagens mais incríveis do planeta: o efeito ótico proporcionado pelo sal quando cobre a água com uma camada fina faz com que passear por sua superfície branca seja como fazer um passeio nas nuvens.
Lendas à parte, Uyuni é um imenso oceano mineral que ocupa uma superfície de 12.000 quilômetros quadrados na região boliviana de Potosí. É a maior salina do mundo, usada por cientistas para calibrar os altímetros dos satélites, graças à sua uniformidade interminável e ao céu desimpedido que o cobre. Uma paisagem imensurável situada a mais de 3.500 metros acima do nível do mar.
A profundidade do lago salgado é calculada em cerca de 120 metros, e ela abrange uma dúzia de camadas minerais diferentes com espessura que varia entre dois e 10 metros.  Ao entardecer ocorre o fenômeno do chamado white out, que faz o horizonte perder a nitidez, de modo que praticamente não se consegue distinguir o céu da terra.

Pirâmides de sal

Durante séculos, até a chegada do turismo, a extração do sal foi a ocupação principal dos moradores da região, agrupados principalmente nas vilas de Uyuni, Colchani e San Juan. A cada ano são extraídas estimadas 20.000 toneladas de sal, um número mínimo diante do volume total desta reserva gigantesca. Mas, além do sal, existem outros elementos valorizados no subsolo de Uyuni, especialmente o lítio (acredita-se que seja a maior reserva do mundo), mas também bórax, potássio e magnésio. Ainda hoje é possível encontrar moradores da região —cobertos até as orelhas para fugir do sol forte— trabalhando no local e cuidadosamente formando montículos de sal que depois são transportados para tratamento e posterior venda. Essas pirâmides de sal são uma das imagens mais fotografadas de Uyuni.
A mineração foi uma atividade de grande importância, sobretudo no final do século XIX e início do século XX, tanto que a vila de Uyuni nasceu como importante centro logístico ferroviário do qual hoje só resta um curioso cemitério de trens: máquinas e vagões abandonados, enferrujados e cobertos de pichações. A decadência dessa atividade e seu abandono final fizeram com que o cemitério de trens hoje seja uma parada obrigatória na chegada à salina, existindo até um projeto para sua futura conversão em museu ao ar livre.
É uma dose de originalidade nas frias e panorâmicas noites do altiplano boliviano. Mais insólito ainda é ver-se em um desses lugares com múmias de até 3.000 anos de idade perfeitamente conservadas, graças, novamente, às propriedades do sal.

Cactos milenares

Percorrer a superfície da salina, passando sobre suas figuras geométricas características feitas de sal, é como viajar em direção ao infinito. Mas existem várias ilhas nesse oceano branco e sólido. A mais famosa é Inkawuasi, também conhecida como a Ilha dos Pescadores. Ela tem cerca de 25 hectares e é quase inteiramente coberta por cactos milenares que podem passar de 10 metros de altura. No ponto mais alto da ilha, vê-se uma paisagem espantosa de 360º de horizonte plano, quebrado unicamente, à distância, por vulcões de mais de 5.000 metros de altitude. Desde esse ponto, é possível até enxergar a curvatura da Terra.
Mas o momento “mágico” da salina acontece sem dúvida nos meses de chuvas (de dezembro a março). Nessa época, a água forma uma camada fina sobre o sal, gerando o famoso efeito espelho de Uyuni. O céu é refletido no solo, e o visitante sente que está nas nuvens.

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