quinta-feira, 2 de abril de 2015

A corrente do golfo está parando, com frio recorde no Atlântico Norte

O mapa mostra o aumento de temperatura média da Terra de 1900 a 2013. O trecho em azul no Atlântico Norte é praticamente o único que esfriou (Foto: Rahmstorf )
O planeta está esquentando. As mudanças climáticas vem elevando as temperaturas da Terra ao longo dos últimos 100 anos ou mais. Porém, há um pedaço do globo que se comporta de forma diferente.
O mapa acima mostra o aumento de temperatura desde 1900 até 2013. As áreas em vermelho são onde as médias anuais estão até 2,4 graus centígrados mais altas. As áreas em azul são onde as médias estão até 0,8 graus mais baixas.
A primeira coisa que salta aos olhos é que o aquecimento é maior no Hemisfério Norte. Em especial perto do Polo Norte. Isso tem a ver com a dinâmica do gelo Ártico e da Antártica (que funciona como um lastro de gelo).
A segunda coisa que chama atenção é uma mancha azul no Atlântico Norte. Ali a temperatura média caiu no último século. É praticamente a única região do planeta que esfriou. Por quê?
O pesquisador alemão Stephan Rahmstorf, da Universidade de Potsdam, tem uma tese. Ele estuda clima e oceanos e é co-fundador do blog Real Climate. Segundo um novo estudo feito por Rahmstorf, o Atlântico Norte está esfriando por causa da desaceleração da Corrente do Golfo.
Esse fenômeno já havia sido previsto pelos modelos de mudança climática. A Corrente do Golfo trás as águas quentes dos trópicos para o norte do Atlântico. Graças a ela, a Europa Ocidental é mais amena do que deveria por sua latitude. As ilhas do Reino Unido são especialmente beneficiadas pelo calor da corrente.
Os autores do estudo recente conseguiram evidências de que a Corrente do Golfo está mais fraca do que nos últimos 1100 anos pelo menos. Para isso, o grupo reconstruiu estimativas de temperatura do passado da região desde o ano 900 antes de Cristo. Segundo o estudo, a redução no fluxo da Corrente do Golfo a partir do ano 1975 é única em todo o período observado, com 99% de probabilidade. "Isso sugere fortemente que o enfraquecimento não é derivado de variação natural mas do aquecimento global", escreve Rahmstorf.
Diferença de temperatura entre o Atlântico Norte e o total do Hemisfério Norte nos últimos 1100 anos. A região esfriou sensivelmente desde os anos 1970 (Foto: Rahmstorf)
A imagem acima mostra a diferença de temperatura média entre a região do Atlântico Norte banhada pela Corrente do Golfo e a totalidade do Hemisfério Norte. É possível ver como a região ficou sensivelmente mais fria do que o resto do hemisfério nas últimas décadas.
O ano de 2014 foi o mais quente já registrado. Ficou um grau centígrado mais quente do que a média de 1880 a 1920. Mas a região da Corrente do Golfo ficou de um a dois graus mais fria do que a média histórica.
No último inverno de 2014 para 2015, o Hemisfério Norte teve a média mais quente desde o início das medições em 1880. Mas o Atlântico Norte teve a média mais fria desde o início dos registros.
A desaceleração da Corrente do Golfo pode estar ligada ao degelo da Groenlândia e do norte da América do Norte. A mudança no grau de salinidade do mar na região afeta a dinâmica das correntes oceânicas.
Uma extrapolação irrealista - e irresponsável - do fenômeno inspirou o filme "O Dia Depois de Amanhã". No filme, a Corrente do Golfo para literalmente de um dia para o outro, resfriando não só o Atlântico Norte mas precipitando o planeta numa nova Era Glacial. Diante da repercussão do filme, climatologistas se apressaram a explicar que o arrefecimento da Corrente do Golfo poderia sim reduzir o aquecimento naquela região específica. Mas de maneira alguma compensaria o aquecimento geral do planeta provocado pelos gases de efeito estufa que estamos despejando na atmosfera.
Época.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário