segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sonda robótica New Horizons desperta de sono profundo para começar missão em Plutão

New Horizons se aproximando de Plutao

Depois de nove anos e uma viagem de quase 5 bilhões de quilômetros, a sonda robótica New Horizons da NASA despertou de sua hibernação, preparando-se para sobrevoar Plutão e outros corpos celestes no Cinturão de Kuiper.
No sábado, um despertador pré-configurado tirou a New Horizons de seu modo de hibernação. Devido à extrema distância, a NASA só recebeu a confirmação seis horas depois que isso aconteceu.
 

A pesquisadora Silvia Giuliatti Winter, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), vem explorando  a possibilidade de detritos se acumularem em certas regiões do espaço nas vizinhanças de Plutão e de suas luas por onde deve passar a sonda espacial New Horizons, em 2015 e o risco que isso implica.
O estudo liderado pela brasileira foi o primeiro a chamar a atenção para o perigo que a nave, lançada em janeiro de 2006 pela agência espacial norte-americana (Nasa), pode correr ao atravessar uma dessas regiões. É que a sonda viaja a 14 km/s e seus instrumentos podem ser danificados por uma colisão com essas pequenas rochas espaciais. “Esse trabalho tem sido extremamente relevante. Temos seguido de perto as publicações deles.”, afirma o astrônomo Harold Weaver, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (EUA), um dos líderes do projeto da New Horizons.
Em janeiro de 2015, a sonda deve acionar seus oito instrumentos científicos, entre eles um detector de poeira interplanetária e um telescópio ultrassensível, próprio para a escuridão que reina nessa região do espaço, 40 vezes mais distante do Sol do que aquela em que se encontra a Terra. Em 14 de julho de 2015, a New Horizons fará sua aproximação máxima de Plutão. Passará entre o planeta-anão e a sua maior lua, Caronte, registrando imagens com resolução de até 100 metros das superfícies desconhecidas de ambos os corpos celestes. Ao menos, esse era o plano inicial.
Tudo parecia sob controle quando a Nasa lançou ao espaço essa sonda rumo a sua jornada de nove anos com destino a Plutão, reclassificado naquele ano como planeta-anão. As coisas começaram a se complicar quando a vice-chefe científica da missão New Horizons, a astrônoma Lesley Young, do Instituto de Pesquisa Southwest, no Colorado, soube do trabalho da equipe da Unesp. O estudo mostrava pela primeira vez que, entre Plutão e Caronte, existe o que os especialistas chamam de regiões com órbitas estáveis. Nessas regiões do espaço, corpos celestes menores podem permanecer orbitando corpos maiores indefinidamente.
Planeta-anão e lua com pequena diferença explica anomalias
Os pesquisadores da Unesp são especialistas em determinar o movimento de corpos celestes interagindo simultaneamente pela força da gravidade. Eles conseguem prever as trajetórias desses corpos por meio de simulações computacionais.
O par Plutão-Caronte representou um desafio único. A diferença de tamanho entre o planeta-anão e sua maior lua é pequena: o diâmetro de Plutão é de 2.300 quilômetros, e o de Caronte, 1.200 quilômetros. Por terem dimensões próximas, eles se comportam diferentemente de outros pares do Sistema Solar, como a Terra e a Lua.
Em novembro de 2011, Silvia e  seu marido, o pesquisador Othon Winter, foram convidados para participar de um evento especial da equipe da New Horizons, em Boulder, no Colorado. Era um workshop dedicado a discutir o risco de a sonda colidir com objetos nas proximidades de Plutão. O cientista-chefe da missão, Alan Stern, pediu então que eles estudassem melhor as regiões estáveis. Eles analisaram também as órbitas fora desse plano e obtiveram uma ideia melhor de sua forma e localização.
As órbitas estáveis se concentram em algumas faixas próximas de Plutão e outras de Caronte e em uma região entre os dois astros batizada de veleiro, por ter o formato de um barco à vela, por onde a New Horizons pode passar. Estimativas iniciais sugerem que o risco de colisão não é desprezível, mas falta quantificá-lo.
Nasa já tem planos B e C
É possível que nos próximos meses seja preciso rever o plano de mitigação de danos para a New Horizons aprovado em junho. Weaver explica que, após avaliarem toda a informação relevante, ele e seus colegas concluíram que a probabilidade de um impacto capaz de terminar a missão em sua trajetória original é menor que 0,3%.
Isso porque a sonda deve passar por uma região instável próxima a Caronte. Se não surgirem novas evidências de perigo, a sonda deverá seguir o caminho estabelecido antes de o risco de colisões ter sido levantado pelo grupo da Unesp. De qualquer forma, a equipe da Nasa tem dois planos de emergência.
Um é reorientar a sonda para usar sua antena de comunicação como um escudo contra os detritos. O outro é aproximar a sonda ainda mais de Plutão, fazendo-a passar a 2.200 quilômetros de sua superfície, de modo a usar a atmosfera do planeta-anão como proteção contra as partículas.
“A trajetória original foi planejada para otimizar os ganhos científicos e qualquer mudança vai resultar em perdas”, explica Weaver. “Mesmo que haja perdas, a missão revolucionará nosso entendimento de Plutão e do cinturão de Kuiper.”

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