sábado, 27 de setembro de 2014

Uruguai poderá alimentar 50 milhões de pessoas

 
Um médico de Nova York entra em um supermercado, vai até o setor de carnes, vê um corte de que gosta, pega o telefone celular, escaneia o código QR na embalagem e o aplicativo mostra quando o animal foi abatido, onde cresceu, que tipo de alimentação teve e até oferece um link caso queira conhecer o local onde o gado foi criado.
Esta tecnologia ainda não está disponível, mas pode ser uma realidade muito em breve, graças a programas como o Sistema Nacional de Informação de Criação de Gado, implementado pelo Uruguai. Por meio desse método, é possível conhecer com precisão cada um dos períodos de criação e processamento do animal, desde sua fazenda no campo uruguaio até um supermercado em Manhattan. Todos esses dados, incluídos em um rótulo, fazem parte da demanda crescente dos países desenvolvidos por mais conhecimento sobre a origem dos alimentos, a forma como são processados e o tratamento dado aos animais cuja carne é consumida.

50 milhões

Essa é uma oportunidade que o Uruguai quer aproveitar. Esse país, com quase três milhões de habitantes, passou de uma produção de alimentos para nove milhões de pessoas, em 2005, para suprir as necessidades de 28 milhões atualmente, e sua ambição é chegar a 50 milhões de consumidores.
O fato de as 12 milhões de vacas que pastam nos campos uruguaios terem um chip na orelha, que permite coletar todas essas informações, é um dos passos que o país deu para se transformar no que as autoridades chamam de “agrointeligente”. O ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Tabaré Aguerre, esteve em Washington para compartilhar esta visão com vários organismos, entre eles o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Aguerre assumiu seu cargo há pouco mais de três anos e se propôs a desenvolver sua gestão sobre três eixos: “Desenvolvimento rural, com políticas diferenciadas para a agricultura familiar, tendo como chave a adaptação à mudança climática e a geração de capacidades para a gestão dos solos”.

Intensificação sustentável

Aumentar a produção explorando mais a terra e desmatando é relativamente fácil e, de fato, é o modelo seguido por outras nações. Mas fazer isso de maneira sustentável, ou seja, com pouco ou nenhum impacto para o meio ambiente, é um autêntico desafio.
“Estamos produzindo 54% mais leite sem aumentar a superfície dedicada à produção de vacas leiteiras”, explicou Aguerre, para exemplificar que é possível alcançar tal meta, fomentar o desenvolvimento e cuidar do meio ambiente, através do que qualifica como “intensificação sustentável”. Segundo explicou o ministro, no Uruguai, 63% dos produtores são “famílias”, mas eles ocupam apenas entre 15% e 20% das terras produtivas. Por isso, sua visão também inclui a participação dessas pessoas nos benefícios de desenvolvimento associados a um país agrointeligente.
“O Uruguai tem uma oportunidade de crescer no mundo, mas tem que gerar oportunidades de inserção competitiva para os produtores familiares, para que a oportunidade que o mundo nos dá seja também uma chance para que esses pequenos produtores se desenvolvam”, acrescentou.
Isso explica por que o Sistema de Informação de Criação de Gado, por exemplo, é gerido pelo Estado, de modo que todos os produtores “desde os que têm 10 vacas até os que têm 2.000 tenham acesso aos mesmos canais de comercialização”, destacou Aguerre.

Satélites contra a erosão

Em relação ao manejo dos solos, o Uruguai criou um sistema totalmente informatizado que obriga os produtores a apresentarem um plano de rotação de cultivos para manter a qualidade dos nutrientes e evitar a erosão. Por meio de imagens de satélite, os especialistas do Ministério podem detectar os lugares com maior risco de erosão e entrar em contato com o produtor responsável para que ele explique os motivos de não ter cumprido seu plano de rotação de cultivos.
Esse aspecto é fundamental no caminho rumo a um Uruguai “agrointeligente”, porque, embora chova muito no país, a maior parte da água escorre e gera erosão. A rotação de cultivos ajuda, precisamente, a diminuir esse risco e a melhorar a qualidade do solo.
Com todos esses componentes e o apoio de parceiros internacionais como o Banco Mundial, a aspiração das autoridades é que a produção agrícola se transforme em uma opção real de crescimento econômico para todos os uruguaios.
“A tecnologia de ponta a serviço dos agricultores uruguaios não beneficia só o campo, mas, além disso, cria oportunidades econômicas sustentáveis para toda a sociedade, tratando-se de consumidores ou produtores, já que de uma maneira ou de outra dependem da agricultura”, disse Jesko Hentschel, diretor do Banco Mundial no Uruguai. Para Aguerre, o objetivo em longo prazo é claro: “Que a pessoa seja produtor agropecuário porque quer e porque lhe convém economicamente, não porque nasceu no campo”, afirmou o ministro.
El País.com

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