quarta-feira, 26 de março de 2014

Há locais na Terra onde não existe vida?

Formações rochosas no deserto do Atacama (Foto: Wikimedia Commons)

Quem visita o Deserto do Atacama, no norte do Chile, tem a impressão que nada poderia sobreviver nesse ambiente de rochas e areia.
Trata-se do lugar mais seco e um dos mais inóspitos do planeta. Algumas regiões podem ficar até 50 anos sem receber uma gota de chuva.
Mas o que também poderia ser a região mais sem vida do mundo pode ainda abrigar microorganismos chamados endólitos, que se escondem nos poros das rochas, onde há água suficiente para a sobrevivência deles.
"(Os microorganismos endólitos) se alimentam dos subprodutos de seu metabolismo", afirmou Jocelyne DiRuggiero, microbióloga da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. "E todos se encontram nas rochas, é muito fascinante."
Para os cientistas, os endólitos são a prova da capacidade incrível de que micróbios têm de encontrar formas de sobreviver. Em quatro milhões de anos de evolução, os microorganizmos tiveram tempo suficiente para se adaptar aos extremos da Terra.
Mesmo assim, ainda fica a pergunta: será que existem lugares no nosso planeta em que nenhuma estrutura viva possa sobreviver?
A BBC preparou uma lista de condições extremas do nosso planeta, explicando os limites que elas impõem à existência de organismos.
Calor

Nos locais mais quentes, o recorde de tolerância atualmente é de um grupo de organismos chamados de metanógenos hipertermófilos, que se desenvolvem em volta das fontes de águas quentes, ou hidrotermais, no fundo do mar.
Alguns destes organismos podem crescer em temperaturas de até 122ºC.
E a maioria dos pesquisadores afirma que, em teoria, o limite de temperatura para que exista vida é de 150ºC. A esta temperatura, segundo os cientistas, as proteínas se desfazem.
Isto significa que os microorganismos podem se desenvolver em volta destas fontes hidrotermais, mas não diretamente em seu interior, onde as temperaturas podem alcançar até 464ºC.
O mesmo acontece com o interior de um vulcão ativo em terra.

"Realmente, acredito que a temperatura é o parâmetro mais hostil", disse Helena Santos, fisiologista microbiana da Universidade Nova de Lisboa e presidente da Sociedade Internacional de Extremófilos.

"Quando as coisas ficam muito quentes (a vida) é impossível, já que tudo é destruído", disse.
Pressão

Por outro lado, aparentemente as altas pressões oferecem menos problemas para a existência da vida.
Com isto, pode-se concluir que é o calor, e não a profundidade, que provavelmente, limita a que distância abaixo da superfície da Terra onde se prode ter vida.
A temperatura de 6000ºC, do centro da Terra, impede toda forma de vida, apesar de a profundidade a que se encontra essa temperatura ainda esteja sendo investigada.
Cientistas descobriram que um microorganismo chamado Desulforudis audaxviator a cerca de 3,2 quilômetros de distância da superfície da Terra, em uma mina de ouro da África do Sul.
Este microorganismo provavelmente não teve contato com a superfície durante milhões de anos e sobrevive extraindo nutrientes das rochas que passam por desintegração radiativa.
Frio

A vida também pode existir em outro parâmetro extremo, o frio.
As bactérias do gênero Psychrobater podem viver normalmente abaixo dos -10ºC na Sibéria e na Antártida.
Há pouco tempo foram encontradas células vivas em um lago subglacial abaixo do gelo da Antártida. O lago hipersalino Deep Lake abriga espécies halófitas únicas, que sobrevivem a -20ºC.
Para sobreviver nestes ambientes, os microorganismos têm características como membranas e estruturas proteicas adaptadas e moléculas anticongelantes dentro de suas células.
Levando-se em conta que a Terra já ficou coberta de gelo várias vezes desde que o surgimento da vida no planeta, "um lago coberto de gelo na Antártida não parece tão extremo", disse Jill Mikucki, microbióloga da Universidade do Tennessee, Estados Unidos.
Radiação

A radiação também não impede a proliferação de microorganismos. Desde que eles não estiverem expostos diretamente a uma explosão atômica, eles podem se desenvolver. E isto já aconteceu em recipientes que guardavam resíduos radioativos ou perto do epicentro do desastre de Chernobyl, na Rússia.
O Deinococcus radiodurans, um dos organismos mais resistentes à radiação, já sobreviveu a viagens no espaço e pode suportar doses de até 15 mil grays (a medida padrão para medir radiação absorvida).
Humanos morrem com apenas 5 grays.
Outros organismos podem sobreviver em ambientes onde estão presentes elementos ou compostos químicos tóxicos, como o mercúrio e outros metais pesados e cianetos.
Nas águas termais de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, por exemplo, vários microorganismos metabolizam o enxofre ou o monóxido de carbono.
"É difícil encontrar uma substância química que possa matar todo tipo de vida", disse Frank Robb, microbiólogo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
BBC

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