terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Peru ganha na justiça parte do território marítimo do Chile. Entenda


Peruanos comemoram decisão da Corte Internacional de Justiça de Haia em frente ao palácio do governo em Lima. Decisão de Haia aumentou o território marítimo do Peru e diminuiu o do Chile (Foto: Juan Diego Contreras/AP)
Peruanos comemoram decisão da Corte Internacional de Justiça de Haia em frente ao palácio do governo em Lima. Decisão aumentou o território marítimo do Peru e diminuiu o do Chile.

Após quase dois séculos de disputa, a Corte Internacional de Justiça de Haia finalmente colocou um ponto final na controversa definição de fronteiras marítimas entre Peru e Chile. Com a decisão, o tribunal concede ao Peru parte do mar que, por décadas, estava sob controle do Chile. O resultado do julgamento foi comemorado pelos peruanos, que ganharam cerca de 70% do território que reivindicavam. As autoridades chilenas lamentaram a derrota, mas consideraram que o impacto não será grande para os pescadores de Arica, uma das cidades chilenas que ficam na fronteira.
Entenda o que muda após a histórica decisão de Haia.

A disputa entre Peru e Chile (Foto: Natália Durães/ÉPOCA)
  Quando começou a disputa entre Peru e Chile?
Essa disputa existe desde os tempos coloniais. Algumas décadas após Chile, Peru e Bolívia conquistarem a independência da Espanha, o Chile declarou guerra contra Peru e Bolívia, em 1879. Ao fim do conflito, os chilenos ocuparam toda a costa que antes pertencia à Bolívia e parte do território peruano. No tratado de paz entre Chile e Peru ficou decidido que duas províncias conquistadas pelos chilenos, Tacna e Arica, deveriam passar por um plebiscito em dez anos para decidir em que país ficariam. O plebiscito nunca ocorreu e, em 1929, os dois países assinaram o Tratado de Lima, que definiu que Tacna seria peruana e Arica, chilena. O tratado definiu as fronteiras terrestres, mas a disputa pelo território marítimo continuou em aberto, e piorou em 1947, quando os dois países proclamaram, unilateralmente, que tinham direitos sobre a área em disputa. Em 1952, Chile, Peru e Equador assinaram a Declaração de Santiago, que definiu políticas marítimas na costa do Pacífico. A declaração foi ratificada pelos três países e foi aprovada pelas Nações Unidas.
O que disse o Peru?
O Peru pediu à Corte que definisse a fronteira marítima entre os dois países. Segundo os peruanos, não havia nenhum tratado internacional que justificasse a situação atual. Os peruanos disseram que a Declaração de Santiago não tinha as características de um tratado que definisse fronteiras, e que era apenas uma declaração de políticas econômicas, na época, para a pesca de baleias. Os peruanos argumentaram que a forma como a fronteira estava definida prejudicava o país. Isso porque a fronteira seguia uma linha reta, no paralelo que separava os dois países, a partir de Arica. 
O que diz o Chile?
Os chilenos argumentam que a Declaração de Santiago tinha valor de tratado e definia as linhas da fronteira marítima entre os dois países em uma linha paralela a partir de Arica. Além disso, a defesa chilena apresentou vários acordos comerciais e políticos mostrando que a fronteira existia de fato, e que o Peru não tinha direitos sobre nenhuma área de mar abaixo do paralelo.
Como Haia julgou o caso?
A Corte Internacional analisou cada um dos tratados que, segundo o Chile, provava que os dois países delimitaram uma fronteira marítima e que essa divisão resultava em maior território para os chilenos. Após a análise da Declaração de Santiago, a Corte concluiu que o texto não definiu uma delimitação de fronteiras. Ao analisar demais acordos e tratados dos dois países, os juízes decidiram que só há evidência da existência de fronteira estabelecida a partir da cidade de Arica até 80 milhas náuticas, em vez das 200 milhas náuticas atuais.
Assim, a Corte de Haia decidiu que a fronteira continua como está, em linha reta, mas só por 80 milhas náuticas. A partir desse ponto, ela segue em direção ao sul, formando a faixa equidistante de 200 milhas náuticas em relação ao continente, resultando em ganho de território para o Peru.
A decisão da Corte será respeitada?
Sim. A Corte Internacional de Justiça é a instância judicial máxima da ONU. As suas decisões são finais - não há como recorrer. Antes do julgamento, autoridades e políticos dos dois países prometeram que cumpririam a sentença, seja ela a favor ou contra. Após a sentença, o Chile apenas se limitou a lamentar a decisão. "Foi uma perda lamentável para o país", disse o presidente do Chile, Sebastián Piñera.
Há problemas na decisão de Haia?
O maior problema é que a Corte não estabeleceu as coordenadas precisas da mudança, como reivindicava o Peru. Dessa forma, os dois países ainda precisam acertar como será aplicada a decisão da Justiça. "A corte espera que as partes determinem essas coordenadas de acordo com a decisão e no espírito de boa vizinhança", disse Peter Tomka, presidente da Corte.
Época.com

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