sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os oceanos ficarão corrosivos até o final do século

Quando se fala em mudanças climáticas, pensamos primeiro em aumento de temperaturas. Mas a elevação das concentrações de gás carbônico na atmosfera tem outras consequências, não menos ruins. Uma delas é a acidificação dos oceanos. A maior parte do gás que jogamos na atmosfera é absorvida pelos mares. Graças a isso, a Terra não esquenta tanto. Por outro lado, o incremento de gás carbônico muda a química do mar. E essa alteração pode ter grandes consequências para a vida marinha. Inclusive a que nos alimenta.
Os números mais atuais sobre a tragédia oceânica em curso saíram de um simpósio sobre o tema, patrocinado pelas maiores academias de ciência do mundo e pela Unesco, o braço científico das Nações Unidas. O prognóstico não é bom.
Segundo os cientistas, o grau de acidez dos oceanos caiu 26% desde o início da revolução industrial. As águas dos polos ficam ácidas primeiro porque os mares frios são mais ricos em gás carbônico. Quanto mais quente a água, menor sua capacidade de reter o gás. É por isso que o refrigerante solta mais gás quando sai da geladeira. No ritmo atual de emissões, a acidez do mar deve aumentar em cerca de 170% até o final do século.
Algumas espécies de algas crescem com água mais ácida. Outras sofrem. Com a acidez crecente, as mais frágeis devem se extinguir. Isso vai reduzir a biodiversidade do oceano. Estima-se que a acidez crescente terá efeito negativo para 60% das espécies de moluscos e neutro para as outras. Será ruim para 70% dos peixes e neutra para os outros.
A situação é pior para os corais. Eles estão permanentemente construindo estruturas de calcário. Dependem de uma baixa acidez para crescerem. Se as altas emissões continuarem na atmosfera, o mar tropical ficará desfavorável para os corais crescerem em 2100. Mesmo com uma redução radical nas emissões, 50% do mar será ácido demais para os corais. O cenário fica mais complicado quando se soma outro fator negativo: o aquecimento da água. Os oceanos têm ficado mais quentes década após década. Além de tornar os furacões mais fortes e destrutivos, o calor da água causa a morte dos corais. Somando a acidez com o calor, os pesquisadores estimam que os corais parem de crescer no mundo em meados deste século. Isso têm grande impacto porque essas estruturas são o principal berçário do mar. Várias espécies de peixes, inclusive de valor comercial, dependem da saúde dos corais.
Em algumas regiões mais polares, o mar já está corrosivo demais para o crescimento de conchas de organismos marinhos. É caso de partes do Oceano Ártico.
Os pesquisadores estimam que em 2100 a decadência dos moluscos gere perdas de US$ 130 bilhões no mundo, se as emissões continuarem no ritmo atual. No caso dos corais, o prejuízo é orçado em US$ 1 trilhão no ano de 2100.
A acidificação atual do mar não tem precedentes na história conhecida da Terra. Não há nenhum evento parecido pelo menos nos últimos 300 milhões de anos. O único acontecimento comparável foi a grande extinção de 55 milhões de anos atrás. Mesmo assim, naquele período, o ritmo de acidificação do mar era só um décimo do atual. A nova velocidade acelerada de transformação do mar, dificulta as previsões do que pode acontecer com os ecossistemas marinhos. E conosco, que dependemos deles.
Época.com

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