domingo, 7 de julho de 2013

Céu mais limpo mais tempestades

Entre os itens da lista cada vez maior de acontecimentos produzidos pelos seres humanos que parecem ter alterado o planeta podemos acrescentar mais um: a poluição do ar. Ela pode estar influenciando significativamente a diminuição dos ciclos de tempestades do Atlântico Norte.
Essa descoberta foi publicada esta semana em um artigo que sugere que a poluição industrial produzida pela América do Norte e Europa durante grande parte do século 20 pode ter modificado as nuvens causando o esfriamento da superfície oceânica. Esse fato, por sua vez, pode ter contido as tempestades e os maiores furacões, até que alcançassem um nível impossível de ocorrer em um ambiente natural.
Se os autores estiverem corretos, a diminuição das tempestades nas duas últimas décadas talvez não seja uma casualidade. Ao contrário, essa diminuição talvez seja, em parte, resultado da Lei do Ar Limpo, que reduziu a poluição ao redor da bacia do Atlântico Norte, fazendo com que os ciclos de tempestade retornassem a um estado próximo do natural.
Esse possível impacto sobre as tempestades foi revelado por novas análises climáticas realizadas por computadores sofisticados, que procuram levar em conta os efeitos indiretos de partículas presentes no ar. Um conhecimento científico de última geração, que pode ou não obter atenção no longo prazo.
“Nossos resultados mostram que o papel da mudança nos níveis de poluição talvez tenha sido maior do que pensávamos”, afirmou Nick J. Dunstontido, pesquisador do serviço meteorológico britânico e principal autor do novo artigo. Entretanto, ele reconhece que “esse fato é bastante novo” e o conhecimento científico permanece incerto.
Muitas pessoas se lembrarão da calmaria no Atlântico Norte nos anos 1970 e 1980, principalmente em relação aos grandes furacões, que criou a falsa sensação de segurança e estimulou o desenvolvimento da região costeira. A partir dos anos 1990, porém, as tempestades aumentaram bastante. De acordo com o novo estudo, esse aumento talvez se deva a entrada em vigor da Lei do Ar Limpo.
Estudos anteriores sugeriram que a poluição poderia exercer papel significativo sobre as tempestades, mas o novo artigo investiga com mais detalhes do nunca esse possível mecanismo. O estudo foi publicado online no periódico Nature Geoscience.
O conceito que a maioria dos climatologistas defende há bastante tempo, de que a variabilidade das tempestades do Atlântico Norte depende de oscilações naturais amplas nas correntes oceânicas, é a alternativa para essa nova perspectiva.
Cinco cientistas que não estiveram envolvidos no novo estudo afirmaram acreditar que as descobertas são, a princípio, verossímeis – “totalmente plausíveis”, nas palavras de Kerry A. Emanuel, especialista em atmosfera do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Entretanto, diversos especialistas acrescentaram: mesmo que o efeito da poluição sobre as tempestades seja real, é possível que seja inferior ao proposto no novo artigo.
O principal efeito nos padrões de tempestades teria se originado de partículas de dióxido de enxofre que entram no ar pela combustão de combustíveis com essa substância, como o carvão e o óleo diesel. A água pode condensar junto a essas partículas e o excesso delas no ar pode alterar a propriedade das nuvens tornando menores as gotículas de que são compostas.
Isso, por sua vez, pode clarear a nuvem, fazendo com que sua superfície superior reflita mais luz solar para o espaço, o que diminui a quantidade de luz que chega à superfície terrestre para aquecê-la.
Inserir uma representação acurada desse processo em programas de computador que criam modelos climáticos tem sido um trabalho árduo para os pesquisadores e, por essa razão, as evidências de um possível efeito sobre as tempestades estão surgindo neste momento.
Os autores do novo artigo estão trabalhando no Reino Unido com um dos mais avançados modelos climáticos. A pesquisa recente, que usa esse modelo, sugere que um aumento enorme da poluição ao redor da bacia do Atlântico Norte em meados do século XX resfriou a superfície a ponto de alterar a circulação atmosférica em larga escala impedindo a ocorrência de tempestades.
Em uma entrevista, Dunstone enfatizou não apenas a necessidade de realizar mais estudos, mas que a descoberta de sua equipe não representa um motivo para interromper a limpeza do ar. A poluição gera efeitos graves para a saúde dos seres humanos e para o meio ambiente e acredita-se que a Lei do Ar Limpo tenha poupado muitas vidas.
IG

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