quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sonda vai enviar minilaboratório para pousar em núcleo de cometa

Um projeto concebido há duas décadas está perto de ser concluído, depois de quase dez anos de viagens pelo Sistema Solar.
A sonda espacial europeia Rosetta, lançada em 2004, deverá sobrevoar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko em 2014, além de enviar um minilaboratório, o Philae, para pousar no núcleo do corpo celeste, um feito inédito.
Cometas são verdadeiros "fósseis" espaciais, surgidos há bilhões de anos e mantendo basicamente a mesma composição química.
Ao passarem perto do Sol, criam a famosa cauda luminosa que os caracteriza, ejetando poeira, água e outras substâncias.
A ESA (Agência Espacial Europeia) já tinha tradição no estudo desse tipo de astro. A sonda Giotto passou a meros 600 km do núcleo do cometa Halley em 1986. Foi um feito impressionante, que deu ímpeto ao ainda mais ambicioso projeto Rosetta.
O nome da sonda é uma homenagem à Pedra de Roseta, encontrada no Egito e que ajudou a decifrar a antiga escrita egípcia de hieróglifos, pois o mesmo texto também está escrito em grego; Philae é uma ilha onde foi achado um obelisco também usado na decifração.
As duas sondas também pretendem "decifrar" os enigmas dos cometas.
 
 

 
A ideia foi aprovada em 1993 e seu projeto começou em 1996, na empresa Astrium, a maior do setor espacial na Europa. Desde então o engenheiro Gunther Lautenschlaeger está envolvido com a missão.
"Em primeiro lugar, estou esperando nervosamente o despertar da Rosetta em janeiro de 2014 e interessado em saber como o 'nosso bebê' sobreviveu a mais de dois anos sem nenhum contato com a Terra", afirmou Lautenschlaeger à Folha.
A Rosetta vai monitorar a passagem do cometa pelo Sistema Solar, com especial atenção para sua atividade ao ser aquecido pelo Sol.
O laboratório Philae vai estudar a composição do núcleo do cometa. O módulo de pouso vai fazer um furo de 20 cm de profundidade para coletar amostras para análise pelo laboratório de bordo.
Graças a novas tecnologias de células solares, a sonda é a primeira a ir além do cinturão de asteroides dependendo apenas de energia solar, em vez dos tradicionais geradores térmicos.
A 800 milhões de quilômetros do Sol, o nível de radiação é apenas 4% daquele que atinge a Terra.
"Nenhuma missão anterior viajou tão longe no espaço profundo, perto de Júpiter, apenas com painéis solares; ela é com certeza uma 'espaçonave verde'", disse o engenheiro, gerente do projeto na Astrium.
A sonda tem dois painéis solares de 14 metros de comprimento cada um. Os 11 instrumentos a bordo ficam concentrados no lado que será direcionado ao cometa e são capazes de medir a composição, a massa e o fluxo de poeira do núcleo, além da interação do cometa com o vento solar de partículas carregadas eletricamente.
"Creio que a sonda vai se encontrar precisamente com o cometa e escoltá-lo chegando mais perto do Sol. Aqui começará a incerteza, com coisas como erupções e poeira. Mas a Rosetta foi projetada para sobreviver", disse Lautenschlaeger, que há dezessete anos aguarda pelo sucesso final da missão.
A parte mais "perigosa" dessa trajetória, no entanto, é o passo final, a ser dado em novembro de 2014: o pouso do minilaboratório Philae no núcleo do cometa.
Segundo o engenheiro, o módulo foi projetado para áreas de pouso extremas, mas a gravidade do cometa, cujo núcleo tem 4 km de diâmetro, é muito baixa. "E ninguém sabe exatamente o que há na superfície", afirmou.
"Pode ser poeira macia, na qual ele vai afundar; ferrita sólida, na qual pode se arrebentar; ou uma superfície de fendas, onde pode cair de lado ou de cabeça para baixo."
O que resta às equipes é cruzar dedos até 2014.
Folha.com

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