domingo, 12 de agosto de 2012

Efeito estufa do Hambúrguer

A maioria das pessoas está ciente de que carros, energia elétrica gerada a carvão e até fábricas de cimento afetam negativamente o meio ambiente. Entretanto, até recentemente o alimento que consumimos não entrava na discussão. De acordo com um relatório de 2006 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), no entanto, nossos hábitos alimentares, e especificamente a carne da nossa dieta, têm gerado mais gases do efeito estufa – dióxido de carbono (CO2), metano, óxido nitroso, e outros – lançados na atmosfera que o transporte ou a indústria.
Os gases do efeito estufa aprisionam a energia solar, e assim aquecem a superfície da Terra. Devido ao fato de cada gás do efeito estufa variar de potência, são comumente expressos como uma quantidade de CO2 com o mesmo potencial de aquecimento global.
O relatório da FAO indica que os atuais níveis de produção de carne contribuem com um percentual entre 14% e 22% dos 36 bilhões de toneladas de “CO2-equivalente” de gases do efeito estufa produzidos anualmente no mundo. Isso significa que produzir cerca de 200 gramas de hambúrguer para um lanche, uma porção de carne com a espessura de 1 cm, libera tanto gás de efeito estufa na atmosfera quanto dirigir um carro de 1.360 kg por aproximadamente 16 km.
Na verdade, a produção de cada alimento que se consome, incluindo vegetais e frutas, incorre em custos ambientais dissimulados: transporte, refrigeração e combustível para o cultivo, além de emissões de metano de plantas e animais. Tudo contribui para o acúmulo de gases atmosféricos de efeito estufa. Considere o aspargo: em um relatório preparado para a cidade de Seattle, Daniel J. Morgan, da University of Washington, e seus colaboradores apontaram que cultivar cerca de 0,5 kg desse vegetal no Peru libera o equivalente a 75 gramas de CO2, resultante da aplicação de inseticida e fertilizante, bombeamento de água e utilização de equipamento agrícola pesado com alto consumo de combustível. Para refrigerar e transportar os vegetais até a mesa dos americanos, são gerados outros 125 gramas de gases estufa, totalizando 200 gramas de CO2-equivalente.
Mas isso não é nada comparado à carne. Em 1999, Susan Subak, economista ecológica da University of East Anglia, na Inglaterra, constatou que, dependendo do método de produção, o gado emite entre 156 e 293 gramas de metano por quilograma de carne produzida. Devido ao fato de o metano ter 23 vezes mais capacidade de aprisionar calor que o CO2, essas emissões são equivalentes à liberação na atmosfera de algo entre 3,6 kg e 6,7 kg de CO2 para 1 kg de carne produzida.
A criação de animais também exige uma grande quantidade de alimento por unidade de peso corporal. Em 2003, Lucas Reijnders, da University of Amsterdam, e Sam Soret, da Loma Linda University, estimaram que a produção de 1 kg de proteína de carne exige mais de 10 kg de proteína vegetal, com todas as emissões de gases do efeito estufa que a produção de grãos acarreta. Além disso, fazendas de criação de animais produzem resíduos que dão origem a gases do efeito estufa.
Levando em conta todos esses fatores, Susan calculou que produzir 1 kg de carne bovina em confinamento ou em um sistema de alimentação animal concentrada (Cafo), gera o equivalente a 6,7 kg de CO2. Isso significa que a carne libera 36 vezes mais gás-estufa CO2-equivalente que o emitido pela produção de aspargos. Mesmo outros tipos comuns de carne não igualam o impacto da carne bovina: calculo que a produção de 1 kg de carne suína gera o equivalente a 1,7 kg de CO2, e 1 kg de carne de frango gera apenas 0,55 kg de CO2. O sistema economicamente eficiente de alimentação em confinamento, embora certamente não seja o método de produção mais limpo em termos de emissão de gases CO2-equivalente, é muito melhor que a maioria: os dados da FAO já citados sugerem que a média mundial de emissões para a produção de 1 kg de carne bovina, nos moldes tradicionais de criação, é muitas vezes maior que a da criação confinada.
Soluções do ProblemaO que pode ser feito? Melhorar o manejo de resíduos e os métodos de criação certamente reduzirá as “pegadas de carbono” da produção de carne. Sistemas de captura de metano podem permitir que esterco do gado seja utilizado na produção de energia elétrica, mas esses processos ainda são caros para serem comercialmente viáveis.
As pessoas também podem reduzir os efeitos da produção de alimentos no clima do planeta. Afinal, até certo ponto nossa dieta é uma questão de escolha. Ao optarmos por melhores alternativas, podemos fazer diferença. Consumir alimentos produzidos na região, por exemplo, reduz a necessidade de transporte, embora alimentos transportados de fazendas próximas, por caminhões, em pequenas quantidades, possam surpreender por economizarem pouco em emissões de gases do efeito estufa. Além disso, nos Estados Unidos, como nos demais países desenvolvidos, as pessoas poderiam comer menos carne, especialmente bovina.
As conexões entre a produção de carne bovina e gases do efeito estufa em detalhes preocupantes. A lição é clara: devemos pensar cuidadosamente sobre como a nossa alimentação está contribuindo para aumentar a emissão de gases do efeito estufa.
Scientific American

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