segunda-feira, 16 de julho de 2012

Perda da biodiversidade pode causar danos à saúde

González-Zorn, professor do Centro de Vigilância Sanitária Veterinária da Universidade Complutense de Madri (Espanha), afirma que a biodiversidade "é sábia para preservar a saúde humana e transcendental por muitos motivos. Quando diminui a biodiversidade, a esperança de vida do ser humano diminui, não apenas do ponto de vista ecológico, mas também de recursos".
"Na natureza precisamos ter muita biodiversidade para encontrar novos antibióticos, novas moléculas que nos ajudem a lutar contra as doenças, por exemplo. Definitivamente, precisamos dela também do ponto de vista de utilidade", diz González-Zorn.
O cientista se lamenta que por um uso abusivo dos antibióticos, um dos desafios que temos é a resistência a eles. "O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou uma campanha denominada '20 novos antibióticos para 2020', porque se deram conta de que lutar contra a resistência dos antibióticos às doenças é uma necessidade primordial", disse.
A extinção de vegetais e espécies animais é uma das consequências da mudança climática global. Os cientistas advertem que este desaparecimento está relacionado com o aumento de doenças infecciosas em humanos. Trata-se de uma das consequências menos conhecidas da deterioração do meio ambiente.
Cientistas dos Estados Unidos comprovaram que as espécies mais sensíveis, e portanto, mais expostas às mudanças de seu entorno, ajudam a frear a expansão de certas doenças infecciosas. Pelo contrário, aquelas que são mais resistentes à poluição, costumam ser as que possuem uma maior capacidade para transmitir microorganismos a outros seres vivos, incluindo os humanos.
Efeitos do desaparecimento do equilíbrio
O professor explica este processo: "As bactérias, vírus e fungos, principais produtores de doenças, estão adaptados a viver e sobreviver em um nicho determinado (espaço constituído pelas variáveis biológicas e funcionais de uma comunidade onde uma espécie pode viver com sucesso), e enquanto esse nicho existir, bactérias e vírus viverão em uma simbiose perfeita".
A transformação destes microorganismos em agentes patogênicos causadores de doenças acontece porque, segundo o professor, "o microorganismo vive nesse reservatório em um equilíbrio gerado durante milhões de anos, mas quando uma espécie começa a desaparecer ou se modifica, quando, por exemplo, mudam as condições ambientais, esse delicado equilíbrio no qual se encontrava desaparece".
"Então, bactérias, vírus e fungos não se conformam a extinguir junto de seu hospedador (organismo que abriga outro organismo) e aumentam sua variabilidade genética para, dessa forma, conquistar novos hospedadores. Durante o tempo de adaptação se tornam patogênicos para esse hospedador", ressalta.
Somente quando transcorreu muito tempo da mudança de "casa" desses organismos acontece o comensalismo (interação biológica na qual um dos envolvidos obtém um benefício, enquanto o outro nem é prejudicado nem beneficiado).
A importância da biodiversidade para a vida
O cientista explica que "no intestino há centenas de bilhões de bactérias que não produzem doenças, mas se os humanos são extintos e essa bactéria passa a viver, por exemplo, em um cachorro, onde não está acostumada a permanecer, se transforma em patogênica. Assim, as novas relações estabelecidas entre hospedador e bactéria ou vírus acabam em doença".
A diversidade genética (biodiversidade) é transcendental para o desenvolvimento de todas as espécies e dela dependem os seres humanos em nossa vida cotidiana. "De maneira indireta, as mudanças nos serviços dos ecossistemas afetam os meios de ganhar o sustento, a renda e a migração local, e em algumas ocasiões podem inclusive causar conflitos sociais", afirma relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
González-Zorn afirma que a biodiversidade "é sábia para preservar a saúde humana e transcendental por muitos motivos. Quando diminui a biodiversidade, a esperança de vida do ser humano diminui não apenas do ponto de vista ecológico, mas também de recursos, inclusive para poder ter espécies que estejam adaptadas a um nicho ecológico. Por exemplo, necessitamos ter animais - como as vacas - que estejam adaptados a diferentes tipos de clima. A biodiversidade é transcendental em todos os sentidos".
A OMS afirma que, além disso, "a diversidade biofísica de microorganismos, flora e fauna oferece amplos conhecimentos que geram benefícios importantes para a biologia, para as ciências da saúde e a farmacologia".
"Na natureza precisamos ter muita biodiversidade para encontrar novos antibióticos, novas moléculas que nos ajudem a lutar contra as doenças, por exemplo. Definitivamente, necessitamos da biosiversidade também do ponto de vista da utilidade", diz González-Zorn.
Duas são as formas de desenvolver novos remédios, segundo o professor "uma é a sintética, independente do meio ambiente, e a outra mediante a utilização ou combinação de elementos naturais para que a biodiversidade se torne transcendental".
A perda de biodiversidade se transforma para a medicina em um desafio constante. O cientista se lamenta que por um uso abusivo dos antibióticos, um dos desafios que temos é a resistência a eles. "O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou uma campanha denominada '20 novos antibióticos para 2020', porque se deram conta de que lutar contra a resistência dos antibióticos às doenças é uma necessidade primordial", disse.
O ser humano é um dos maiores responsáveis pela destruição do meio ambiente, mas segundo explica González-Zorn, apesar de esta ação agressiva ser a causa do aumento das doenças infecciosas, "não é responsabilidade do homem a existência das doenças, porque os microorganismos patogênicos tendem a se desenvolver e conquistar novos espaços ecológicos em novas espécies e novos ecossistemas".
"Quando falamos em biodiversidade, não devemos excluir os microorganismos que produzem doenças. Bactérias, vírus e fungos tentarão sobreviver em qualquer meio ambiente, embora não estejam no homem. Ou seja, os humanos não são criadores de doenças, a doença é inerente à vida", conclui Bruno González-Zorn.

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