segunda-feira, 7 de maio de 2012

O relógio de 10 mil anos

Uma colossal obra humana começa a adquirir forma no interior de uma montanha de calcário do Texas. Ela vem atender a uma demanda que por ora inexiste e é incerto que venha a existir. Mas, se porventura algum bípede estiver de passagem pelo ano 12012 e quiser saber a data e as horas, terá onde se informar. Basta que se desloque até uma localidade desértica na fronteira com o México e descubra como dar corda num gigantesco relógio mecânico que encontrará à sua espera.
Três meses atrás foi montada a primeira peça da engrenagem: um conjunto de vinte rolamentos de 2,4 metros de diâmetro, de aço inoxidável, que acionará dez sinos. Estes, por sua vez, foram programados pelo músico Brian Eno para jamais produzirem a mesma melodia ao longo de 10 mil anos. Serão perto de 3,5 milhões de sequências únicas do carrilhão.
A empreitada toda é uma espécie de volta ao futuro. Numa época em que nossa civilização, ansiosa e apressada, vive obcecada por velocidade – hoje, tudo tem de funcionar em nanossegundos, como se qualquer pausa ou respiro fosse pecado mortal –, a equipe do arrojado projeto de engenharia humana optou pelo caminho oposto. “A civilização precisa pensar a longo prazo para poder entender problemas que se estendem através de séculos”, acredita o chefe do projeto Alexander Rose.
Existem outras obras recentes da engenharia humana construídas para durar milhares de anos. O imponente Banco Mundial de Sementes, enterrado desde 2008 na ilha norueguesa de Spitsbergen, a 150 metros de profundidade, é uma delas. Os depósitos de lixo atômico nas minas de sal de Gorleben, na região da Baixa Saxônia, Alemanha, também foram criados para ter durabilidade milenar. Mas nenhuma dessas estruturas é máquina programada para funcionar ininterruptamente.
O Relógio, patenteado com letra maiúscula, nasceu da mente inquieta de Danny Hillis, um engenheiro elétrico com três pós-graduações pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma passagem pela Walt Disney Imagineering e cofundador da empresa Applied Minds [Mentes Aplicadas]. Inicialmente, ainda nos idos de 1989, ele imaginou construir um relógio que tiquetaqueasse apenas uma vez por ano, cujo ponteiro de horas avançasse somente uma vez por século e cujo carrilhão desandasse a tocar uma vez a cada milênio. Stewart Brand, o presidente da Fundação criada para abrigar a obra, escreveu um livro detalhando os primórdios da empreitada – O Relógio do Longo Agora, editora Rocco, 2000. Desde então o projeto foi sendo alterado e um protótipo da versão final já pode ser visto no Museu da Ciência de Londres.
Estadão.com

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