sábado, 21 de janeiro de 2012

Os chefes dourados do Panamá

No meio de uma campina crestada de sol na região central do Panamá, os objetos de ouro são retirados da terra, pela equipe da pesquisadora Julia Mayo.  Julia e seus colaboradores decidiram, em 2005, realizar levantamentos geofísicos na localidade panamenha de El Caño, assim chamada por causa de uma queda-d’água na região. Nas sondagens, a equipe conseguiu identificar um círculo de túmulos havia muito esquecido.
Em 2010, a arqueóloga e seus colegas cavaram ali um poço com 5 metros de profundidade e recuperaram os restos mortais de um chefe guerreiro recoberto de adornos de ouro – dois peitorais entalhados, quatro braçadeiras, um bracelete com sinetas, um cinto de contas ocas de ouro, 2 mil pequenas esferas dispostas como se antes estivessem costuradas em um cinturão e centenas de contas tubulares que formavam um padrão em ziguezague recobrindo uma das pernas. Tudo isso já seria uma descoberta sensacional, mas na verdade não passava do começo da história. Julia Mayo descobrira um tesouro extraordinário.
No ano passado, sua equipe voltou ao sítio durante a estação seca, de janeiro a abril, e exumou outra sepultura que se mostrou tão opulenta quanto a primeira. Dois peitorais de ouro, um frontal e outro dorsal, quatro braçadeiras e uma reluzente esmeralda não deixavam a menor dúvida quanto à importância de seu ocupante. Ao lado dele havia um bebê também ataviado de ouro – talvez o filho do potentado. Sob os restos mortais de ambos foi encontrada uma camada de esqueletos humanos emaranhados, que, acreditase, eram escravos ou prisioneiros de guerra sacrificados. Testes de carbono 14 situaram o sepultamento por volta do ano 900 – ou seja, na época em que a civilização maia, 1,3 mil quilômetros a noroeste, começava a declinar.
Mal a equipe teve tempo de catalogar os novos achados e outro conjunto de objetos de ouro foi identificado. Reluzentes nas paredes do poço, os artefatos assinalavam os limites de mais quatro túmulos. Como a temporada das chuvas estava prestes a começar, técnicos e cientistas tiveram de apressar-se a fim de retirar todo o tesouro antes que a cheia de um rio próximo inundasse o sítio.
Esse não foi o primeiro tesouro arqueológico encontrado no Panamá. A 3 quilômetros do local em que Julia agora trabalha, escavações no sítio Conte haviam revelado uma das mais espetaculares coleções de artefatos já descobertas no hemisfério ocidental. Essas relíquias vieram à luz no começo do século 20, quando a cheia de um rio arrancou a camada superficial do solo em um pasto. Peitorais, pingentes e outros requintados objetos de ouro começaram a despencar das sepulturas e tombar nas margens.
Atraídos pelas notícias do antigo cemitério, arqueólogos da Universidade Harvard enfrentaram, em um navio a vapor, a travessia de seis dias entre Nova York e a Cidade do Panamá, de onde seguiram até o sítio Conte. Ao longo de quatro temporadas, sufocados por temperaturas que chegavam aos 38ºC, eles exploraram mais de 90 sepulturas, muitas delas “habitadas” por corpos adornados com ouro e outros objetos: cerâmicas, entalhes de ossos de baleia, colares de dentes de tubarão, ornamentos de ágata e serpentinas polidas.
Em relatório divulgado em 1937, o arqueólogo Samuel Lothrop, de Harvard, identificou os antigos ocupantes do Conte como pertencentes a um dos grupos indígenas que tiveram contato com os espanhóis quando estes conquistaram a região no início do século 16. À medida que avançavam através do istmo, os espanhóis escreviam crônicas minuciosas do que encontravam. Na região do sítio, toparam com comunidades pequenas e beligerantes que disputavam o controle de campos, florestas, rios e águas costeiras.
National Geographic.com

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