sábado, 20 de agosto de 2011

Uma cortina de ferro às avessas

Vinte anos após colapso da USRR, ex-repúblicas soviéticas se blindam contra a influência do comunismo e a ideologia entra em declínio.
No dia primeiro de agosto de 1991, o famoso monumento a Karl Marx, que se eleva sobre o centro da cidade de Moscou, apareceu com os seguintes dizeres em tinta vermelha: "Proletários do mundo, perdoem-me!".
Era uma irônica alusão ao chamado aos trabalhadores contido no manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848 na Alemanha por Marx e Friedrich Engels.
A ideia do comunismo concebida originalmente pelos intelectuais europeus encontrou abrigo espiritual na Rússia - que se tornou "a pátria do proletariado mundial".
Os comunistas que viviam na "casa da revolução mundial" se orgulhavam de seu papel na história e no cenário geopolítico.
Vinte anos após o colapso do maior país comunista do mundo, o Partido Comunista permanece um dos mais influentes do país. Em número de parlamentares, só fica atrás do Partido Rússia Unida, dos últimos ocupantes do Kremlin, Dimitri Medvedev e Vladimir Putin.
Mas a maioria dos analistas está de acordo com a opinião de que o partido não tem futuro político na Rússia.
Os filiados do PC de hoje pertencem a um setor determinado, mas em envelhecimento, da população. Se tudo continuar como está, os simpatizantes da sigla tendem a desaparecer.
A maioria dos simpatizantes da oposição na Rússia é nacionalista ou a favor de ideias ocidentais.
Existe, sim, muita nostalgia na Rússia pela antiga União Soviética, mas não na igualdade indiscriminada, das filas  da doutrinação política: os cidadãos sentem falta do tempo em que a União Soviética era uma nação poderosa, respeitada e temida em todo o globo.
Muitos especialistas crêem que os comunistas poderiam ter retomado o poder nos anos 1990, quando a Rússia se encontrava em meio à turbulência política, se tivessem um líder carismático.
Entretanto, a firme liderança de Genady Ziuganov assegurou o estabelecimento do capitalismo e de um sistema de democratização na Rússia.
Os eventos históricos que se desenrolaram na "casa da revolução" determinaram o destino do comunismo no resto do mundo.
Nos países que conformavam as ex-repúblicas sob a batuta de Moscou, o que há de comum é a tentativa de evitar a influência da ideologia comunista.
A única ex-república soviética a manter o comunismo é a Moldávia.
Mas mesmo seus seguidores não são comunistas linha-dura no sentido tradicional: não desejam o retorno à vida soviética. Parte dos ativos do país foi privatizada e a melhor definição da estrutura sócio-econômica do país é capitalistalismo com toque pós-soviético.
O país que mais preservou os valores e o estilo dos soviéticos é Belarus, a "linha de montagem" do antigo bloco comunista.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o país amargou a ocupação nazista, inflando sua desconfiança em relação à influência ocidental da psique nacional.
Na Ucrânia, nos países do Cáucaso e nos Bálticos, o comunismo já não é digno de menção. As disputas políticas continuam, mas por forças inteiramente distintas.
No leste europeu -, onde o comunismo foi implantado à força, a ocupação e a humilhação nacional -, a maioria das populações nunca apoiou a ideologia.
A União Soviética provia os recursos para os seus "satélites" e permitia, neles, um grau de liberdade mais que em seu próprio solo. Mesmo assim, as tentativas de se livrar do jugo de Moscou só foram suprimidas com a intervenção do Exército Vermelho na ex-Alemanha Oriental, a Hungria e a ex-Tchecoslováquia.
Há partidos pós-comunismo em todos os países do antigo Pacto de Varsóvia, que advogam uma plataforma de esquerda moderada e europeia. Esses partidos têm tido espaço na Polônia, Hungria, Romênia, Eslováquia e Bulgária, mas não há possibilidade de voltar ao sistema socialista de outrora.
Fonte: BBC.com

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