quinta-feira, 28 de julho de 2011

Engolir sapos...

Por que toleramos ou ficamos calados diante de algo ou alguma coisa que nos desagrada?
"Posso ter sido qualquer coisa, menos blasfemador" -, o teólogo e filósofo italiano Giordano Bruno teria pronunciado essas palavras no dia de sua execução, 17 de fevereiro de 1600, em Roma. Ele se recusou a negar suas opiniões religiosas e a teoria do astrônomo alemão Johannes Kepler de que a Terra girava em torno do Sol. Por isso foi condenado, preso e ainda queimado vivo.
Dezesseis anos mais tarde, foi a vez de o astrônomo Galileu Galilei ser perseguido pela igreja Católica. Depois de construir um telescópio para observar o céu, Galileu confirmou a teoria heliocêntrica e foi parar diante do tribunal do Santo Ofício. Para escapar das acusações de heresias e da fogueira da Inquisição, negou suas descobertas. Apesar de muito longe na História, o dilema enfrentado por Giordano Bruno e Galileu se mantém atual.
Mesmo sem correr o risco de acabar na fogueira, continuamos a enfrentar a questão: defender nossas posições com unhas e dentes, sem temer as consequências, ou... engolir sapo (que significa tolerar coisas ou situações desagradáveis sem responder, por capacidade ou conveniência), segundo o professor Ari Riboli - autor do livro O Bode Expiatório.
Pois, quem vive engolindo sapos sofre muito: tem dificuldade de dizer não, fica calado ou concorda com o outro em situações polêmicas só para evitar conflitos, ignora os próprios desejos para não magoar. Depois vem aquela sensação de impotência e frustração por não conseguir expressar os sentimentos. E lá ficamos nós, nos sentindo incompreendidos e manipulados, remoendo uma mistura de raiva e culpa enquanto pensamos no que deveríamos ter dito naquele momento que já passou. Como consequência, nossa autoestima e confiança despencam no mesmo ritmo com que perdemos o respeito dos outros, que passam a não nos levar mais em conta.
Muitas vezes o engolidor de sapos se esconde atrás da figura de bonzinho, aquele sujeito sempre preocupado em agradar - para ser aceito e querido (o perfeito "puxa-saco").
Na verdade, as atitudes do bonzinho são alimentadas por uma expectativa de reciprocidade: ele se posiciona passivamente na situação, sendo agradável e condescendente, esperando que o outro faça o mesmo. Quando isso não acontece, a raiva aparece.
Se engolir sapos pode ser considerado uma estratégia de proteção, precisamos saber que sofremos consequências por não defendermos nossas posições.
Engolir sapo é o mesmo que engolir a raiva, uma emoção protetora, ela estimula uma ação. O estrago físico, emocional e mental de quem não põe isso para fora é arrasador com o passar do tempo, favorecendo diversas doenças físicas.
Às vezes você sai de uma reunião com uma enorme dor de cabeça, termina um almoço com dor de estômago e não percebe que isso está associado ao fato de não ter se posicionado como gostaria. Quando chega em casa, pensa em tudo que poderia ter falado e não teve coragem naquele momento. E se sente muito mal por isso.
De acordo com o psicanalista Ricardo Prado da Universidade Federal de São Paulo, "todo fenômeno que se passa com o ser humano é psicossomático porque a psique está todo o tempo presente".
No entanto, ainda são poucas as pessoas que percebem essa associação.
Existe redenção para um costumaz engolidor de sapos? Adiantaria descontar a raiva contida, reverter a situação de desvalia? Valeria a pena aprender a reagir na mesma moeda? As respostas passam pela compreensão do conceito de assertividade. Quem é assertivo diz o que pensa com confiança e firmeza, consegue se expressar e defender suas posições sem perder a simpatia das pessoas. É alguém que não engole sapos - mas também não faz ninguém engolir.
"O comportamento assertivo é firme, focado na solução do problema, enquanto o não-assertivo é focado no culpado do problema", afirma Vera Martins, especialista em medicina comportamental.
Mas qual o caminho para atingir a assertividade? Como deixar para trás o comportamento passivo? Para começar, é preciso autoconhecimento. Quem tem o hábito de fazer as coisas para os outros e acredita que o que deseja não é relevante, pode ser muito difícil descobrir o que realmente importa.
Ninguém tem a obrigação de ler seus pensamentos se você não se posiciona. Para ser assertivo é preciso, antes de mais nada, reconhecer que muitos sapos já foram engolidos, mas olhando para eles de outra maneira, transformará seu cotidiano. Para cada sim dito contra a vontade, diga um não. Para cada desaforo que levar para casa, exponha suas opiniões. Assim de sapo em sapo, você estará aprendendo a ser assertivo.
Não é fácil, mas certamente é bem menos indigesto!

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