segunda-feira, 21 de junho de 2010

Para entender (e não esquecer) o "Apartheid" - Parte I

Como a África, neste período de Copa, tornou-se o centro das atenções do mundo, vamos relembrar os acontecimentos (vergonhosos!) que deram origem ao "apartheid".
 No século 17, descendentes de holandeses, franceses e alemães chegaram à África para construir uma sociedade perfeita. Acreditando terem sido escolhidos por Deus, os "africânderes", como ficaram conhecidos, lutaram contra o maior império do planeta, isolaram-se do mundo e criaram uma política segregacionista que resistiu até os anos 90.
É uma história de opressão, de um povo que foi oprimido, mas que também perseguiu outros em nome de sua supremacia. Mobilizados por uma incrível obsessão de preservar sua cultura, língua e religião, os "africânderes" lutaram contra a tirania. Eles se insurgiram contra o domínio britânico na primeira guerra anticolonialista do século 20. Mas foram capazes de criar o "apartheid", o regime de segregação racial que se tornou um dos episódios mais vergonhosos da história recente da humanidade.
Os "africânderes" (não confundir com africâner, que é o idioma falado por eles) são descendentes dos holandeses que chegaram ao ponto extremo sul da África, o cabo da Boa Esperança, a partir de 1652, a serviço da Companhia das Índias Orientais. A maioria dos imigrantes eram fazendeiros. Criavam gado e produziam alimentos para abstecer os navios da companhia que rumavam para o Oriente. "Eles se organizaram em comunidades patriarcais muito fechadas, formada por famílias numerosas. Dentro de cada propriedade, o fazendeiro tinha completa autonomia, inclusive para utilizar trabalho servil e escravo", diz o representante do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo (USP). O isolamento deu origem a um novo idioma, o africâner. Hoje uma mistura de 70% da língua holandesa e o resto de francês, português, alemão e inglês.
Além de cultura e língua próprias, os bôeres, como também ficaram conhecidos, criaram um tipo de calvinismo muito particular, que originou a Igreja Reformada Holandesa. E foi nessa religião que os recém-chegados apoiaram seus argumentos para justificar a ocupação e expulsar seus antigos habitantes, os negros. Os "africânderes" partiam do princípio de que eram os eleitos de Deus, o que legitimava sua supremacia e seu direito sobre os outros indivíduos. Não eram só eles. No século 17 os puritanos que ocuparam a América do Norte, por exemplo, acreditavam na mesma coisa e não pensavam duas vezes em sacar tais argumentos e atirar contra os "peles-vermelhas".
A chegada dos britânicos, em 1806, fez com que os bôeres passassem da condição de colonialistas à de colonizados, perdendo o poder e os privilégios que desfrutavam. Insatisfeitos com as leis britânicas, que davam direitos aos negros e mestiços, eles se organizaram em caravanas e partiram rumo ao norte. No êxodo, que ficou conhecido como a "grande jornada" e durou de 1835 a 1843, 12 mil fazendeiros ultrapassaram os limites da colônia, demarcados pelo rio Orange. Os líderes da viagem diziam que os britânicos os colocavam injustamente no mesmo nível da população negra.
Alguns dos imigrantes chegaram até onde hoje é Angola. Outros fundaram duas repúblicas independentes, a do Transvaal e o estado Livre de Orange. A Constituição do Estado do Transvaal, marca a institucionalização de segregação racial. Nela está descrita a missão de preservar as diferenças "naturais" entre as raças. Este é o ponto considerado crucial - a raiz do "apartheid". (cont.)
Fonte: R.Aventuras na História

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