terça-feira, 20 de abril de 2010

Os celtas - Parte II - "os druidas e o misterioso Merlin"

Caracterizados por filmes e histórias em quadrinhos como uma espécie antiga de magos, os druidas são muito mais do que simples sacerdotes. Todos já ouviram falar de bardos ou dos druidas, porém pouco se ouviu falar dos vates, a terceira classe que pertencia à casta desta antiga sociedade. Esses membros eram versados em adivinhação e medicina, dominavam a escrita (ao contrário dos bardos) e sabiam interpretar os sinais que a natureza lhes enviava. Segundo alguns relatos, eram capazes de diagnosticar doenças apenas ao observar a fumaça que saía da chaminé da casa do seu paciente. Eram jovens estudantes, no primeiro nível da formação de um druida. Ao contrário dos druidas e dos bardos, tinham sua própria vestimenta, o verde, ligados às cores da natureza.
A sociedade Celta considerava os druidas como pessoas que possuíam laços estreitos com o poder. Enquanto a autoridade do rei era concedida numa base que possuía uma origem divina (mesmo quando os soberanos eram politeístas), a autoridade do druida era essencial também para aprovar os suseranos. Que o diga o "Rei Arthur", que, na maioria das versões da lenda, necessita da aprovação de Merlin para assumir o cargo de rei da Inglaterra.
Também é desnecessário dizer que a figura de Merlin impregnou de tal forma os relatos de contos e lendas na Idade Média que, por muito tempo, o mago e o druida se tornaram um só. Mas, quem era ele? Os pesquisadores até hoje tentam desvendar este mistério. Para muitos, o mago seria mesmo um último druida que teria exercido seu poder na Grã-Bretanha já invadida pelo pensamento cristão. Há outros que preferem ver em Merlin uma alegoria de outras figuras históricas. Para o britânico John Matthews, especialista no chamado "ciclo arturiano", depois de estudar por 30 anos, afirma que Merlin foi um personagem real. Foi um líder "Picts", uma tribo que habitou as terras da atual Escócia.
Ainda segundo a lenda, Merlin era conselheiro do mítico Rei Arthur, que incitou a resistência dos Celtas à conquista anglo-saxã entre os séculos V e VI e cujas aventuras deram origem aos romances do "ciclo arturiano". O mago, confessor de Arthur e de seu pai, Uther Pendragon, aconselha Uther a fundar a "Ordem da Távola Redonda" e idealiza o conhecido teste da espada "Excalibur", cravada em uma pedra para demonstrar o direito de Arthur ocupar o trono da Bretanha.
Seja como for, "o Mago de Arthur" é um exemplo do quanto a figura do druida ficou presa à imaginação medieval. Não importa se ele foi uma pessoa real ou não.
Embora sejam frequentemente associados aos Celtas, muitos pesquisadores afirmam que é um erro associá-los somente com aquele povo. Um site de druidismo na Internet afirma que "dissociar os Celtas dos druidas é o mesmo que dissociar os pajés dos índios nativos de nossas terras. Ou, a grosso modo, dissociar os padres do catolicismo".
Isso vem de um ponto de partida simples: nem toda tribo Celta possuía um druida ou mesmo seguia o druidismo como religião. A maioria das tribos que se localizavam em regiões como as da Gália, Grã-Bretanha e Irlanda com certeza possuíam druidas. Importante ressaltar que as versões modernas não possuem necessariamente etnias Celtas, da mesma maneira como não é necessário ser hebreu para seguir o judaísmo.
O ponto mais polêmico: os druidas "não construiram Stonehenge". Embora lá seja o lugar onde determinados rituais e cerimônias, aconteçam até hoje, quando descobriram seu alinhamento com o nascer do sol no Solstício de inverno, não há nada do ponto de vista histórico que confirme que o famoso círculo de pedras foi erguido por esta casta sacerdotal. Inclusive, análises feitas por Carbono-14, não confirma a data de chegada dos Celtas, com a construção do monumento.
O processo de conversão à civilização romana e depois ao cristianismo fez com que a natureza oral de seus ensinamentos não fosse suficiente para garantir a conservação de seus ensinamentos. Desde então, o druidismo se tornou o tema central de apaixonados por certo romantismo literário. Ainda hoje, há muitos grupos que se dizem guardiões dessas tradições.
(Revista Leituras da História) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário