quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Vasto Mundo Árabe - Parte III


Com excessão do Egito  e do Iraque, que já haviam conquistado, e da Árábia Saudita, que não conheceu a colonização, esse período foi, antes de tudo, o das independências: nos anos 40, para os países do Machreque; em 1956, para o Sudão; nos anos 50 e 60, para os países do Magrebe; e nos anos 60 e 70, para os países da península e do golfo. Salvo o caso da Argélia, onde encontrariam refúgio muitos militantes sul-americanos durante os anos da ditadura, a independência não foi duramente conquistada; nos países do golfo, foi implantada frequentemente pelas companhias de petróleo.
Mas este período foi também o de Gamal Abdel Nasser, provavelmente o único líder pan-arabista. Derrubou a monarquia no Egito em 1952 através de um golpe de estado, executado com o auxílio de seus "oficiais livres" e depois nacionalizou o Canal de Suez. Seu discurso "nacionalista árabe" transmitia às massas um imenso sentimento de orgulho; suas motivações e seu público assemelhavam-no a um Vargas ou Perón, e se tornaria um dos líderes dos não-alinhados.
Abdel Nasser mostrou o caminho: as repúblicas militares floresceram e os oficiais dirigentes - frequentemente de origem camponesa como nos regimes baasistas do Iraque e da Síria - substituíram os notáveis das cidades ou os proprietários de terras. Às vezes, como ocorreu no Iraque em 1958 ou na Líbia em 1969, as monarquias caíram. O modelo do golpe de Estado espalhou-se por toda parte. Exceto no Líbano, por razões que dizem respeito à sua estrutura em puzzle, na Jordânia, no Marrocos e na península, as monarquias se fundaram sobre pactos tribais e sobre uma legitimidade religiosa.
Estabeleceram-se, então, dois tipos de regimes, ambos autoritários, que reproduziram as divisões do mundo da Guerra Fria: as monarquias tradicionais contra as repúblicas militares, muitas vezes chamadas de "progressistas". A falência dos regimes "progressistas" árabes no conflito árabe-israelense abriu caminho para a ascensão da resistência palestina que, desde 1967, mobilizou o imaginário das massas. Mas a revolução palestina não soube conviver com a razão de Estado dos outros: sua direção expulsa da Jordânia em 1970, instalou-se então em território libanês, onde serviu de estopim para a guerra civil que estourou em 1975, antes de alcançar a Tunísia na sequência da ocupação israelense do Líbano em 1982. Foi de lá que Yasser Arafat entrou nos territórios ocupados da Cisjordânia e de Gaza em seguida ao acordo de Oslo.
Em 1973, os regimes militares fizeram um papel menos feio que nas guerras árabe-israelenses percedentes e as monarquias tradicionais decretaram um embargo sobre o fornecimento de petróleo, provocando a primeira crise do óleo. A partir daí, a distinção tradicional entre as repúblicas militares e as monarquias tribais tenderiam a esmaecer: era como se as repúblicas se tornassem tribais enquanto as monarquias se militarizavam. A seu modo, e bem antes do resto do mundo, o Mundo Árabe decretou o fim de sua bipolaridade. Se Yasser Arafat ocupou então o lugar de Abdel Nasser no coração das massas, foi a Arábia Saudita que tomou de fato o lugar do Egito como líder regional. Por não tê-lo compreendido, Saddam Hussein, que ocupou o Kuwait em 1990, se viu em quarentena e seu povo, submetido ao embargo, caracterizando um novo sistema árabe, espécie de "despotismo asiático", onde não existia alternância, nem mesmo alteração no âmbito do mesmo sistema: os homens fortes criaram um vazio em torno deles e até golpes de Estado tornaram-se um gênero extremamente raro. Quanto à sociedade, os opositores foram implacavelmente cercados. Era o momento para a abertura econômica que chamaram de infitah desenhou o quadro geral no qual a corrupção se generalizou. Foi uma era de glaciação, ou melhor dizendo, de desertificação da política.
Na falta de alternativa, o jogo político não-democrático, às vezes violento, se reduziu aos regimes locais e a seus opositores islamitas. Os primeiros difundiram sua imagem na televisão, os segundos tomaram o controle das mesquitas. Quando estes ameaçaram chegar ao poder através do jogo democrático, como ocorreu na Argélia em 1991, foram afogados em sangue.
O Ocidente sabe pouco sobre a luta anticolonial no Oriente Médio e as dificuldades para implementar políticamente o Estado-nação na virada para o século XX. Os relatos, guerras, intervenções de outros países, etc, que acompanhamos via imprensa, dá uma ideia muito vaga sobre o que parece ser "um Mundo à parte"!!!
Guerra Fria... IV e última parte.

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