quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Vasto Mundo Árabe - parte II





Os árabes da África representam 64% da população árabe, e seus sub-grupos incluem os países do Nilo e do Magrebe. Somente o grupo do Nilo, formado pelo Egito e Sudão, representa um terço da população árabe. O Egito (77 milhões) ocupa um lugar particular no Mundo Árabe, um Mundo Árabe em si, algo como o lugar do Brasil na América do Sul. No nordeste da África, onde esta encontra a Ásia (no canal de Suez, como em Istambul, atravessando uma ponte, passa-se de um continente ao outro), o Egito é o berço de uma das mais importantes e enigmáticas civilizações da Antiguidade.
O Cairo, uma das maiores aglomerações do mundo, parece não dormir jamais. Alexandria, no Mediterrãneo, dá a impressão de uma eterna dolce vita. Porém o Egito é antes de tudo, o país do Nilo: 90% da sua população - a segunda da África - vive no delta. Mas, o Nilo, tanto o Azul como o Branco, vem do Sudão (38 milhões), literalmente em árabe "o país dos negros". É o maior país da África e onde as paisagens evoluem do deserto ao norte até as florestas tropicais ao sul, recém saído de uma guerra civil que durou 30 anos e fez aproximadamente 2 milhões de mortos na disputa entre o governo central dominado pelos árabes e as populações negras cristãs ou animistas.
O Magrebe Árabe (80 milhões), literalmente o poente, é também uma região à parte. Correspondendo à África do Norte, mais próxima do sul da Europa, é constituído de dois grandes países, Marrocos e Argélia (30 milhões cada uma), seguidos da Tunísia (10 milhões). A 15 km da Espanha, banhado pelo Atlântico e pelo Mediterrâneo, o Marrocos é um local de passagem obrigatória da imigração para a Europa. As cidades imperiais do interior - Marrakech, Fez e Mekhnès correspondem os berberes 30% da população - Saara ocidental.
A Argélia - outro país petrolífero - é o segundo maior da África. Conheceu uma colonização francesa durante 150 anos que uma longa guerra de libertação pôs fim. Aqui, os berberes de Kabylie representam cerca de um quarto da população. A Tunísia, terra da antiga Cartago, conseguiu o feito de de ser ao mesmo tempo, no Mundo Árabe, o país onde as mulheres têm mais direitos e provavelmente onde o poder é mais repressor.
A Líbia, salva da pobreza graças ao petróleo, faz a transição entre o Egito e o Magrebe. Finalmente, há a Mauritânia, literalmente a terra dos mouros, um país de transição entre o Magrebe e a África negra. Resta ainda a Somália, que faz fronteira com a Etiópia e recebeu o triste título de "Haiti do Mundo Árabe". Esses 22 países são membros da Liga dos Estados Árabes, criada em 1945, cuja sede é o Cairo. É comumente aceito que a situação do Mundo Árabe conheceu, tanto no nível político como no cultural, uma profunda regressão desde o fim da segunda Guerra. Nesta época, ao menos uma parte desses países - tanto do Magrebe como no Machreque - pareciam repletos de promessas futuras.
A razão dessa estagnação, conforme Samir Kassir, escritor do Machreque, não podem ser reduzidas a um único fator. A dimensão dos fatores exógenos e endógenos no que se convencionou chamar a nova decadência ou, para utilizar uma palavra que os árabes criaram para definir o período que se seguiu à idade de ouro do império otomano, o novo inhitat. A criação do Estado de Israel em 1948 e, paralelamente, a desagregação da Palestina, como negativo de um mesmo filme, marcou profundamente o Mundo Árabe, em particular o Egito e os países do Machreque que recebiam seus lotes de refugiados palestinos. O plano de divisão da Palestina adotado pela ONU foi uma das raras decisões tomadas pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial antes de iniciarem a Guerra Fria, determinante na história da região. Em suas memórias, o líder pan-arabista, Gamal Abdel Nasser escreveu que a desordem no manejo da guerra perdida em 1948 foi o adubo sobre o qual germinou sua revolta.

Depois da colonização, a independência...Queda da monarquia no Egito... Parte III

Nenhum comentário:

Postar um comentário