domingo, 6 de setembro de 2009

A volta de um Portinari



Em 1952, o então presidente brasileiro, Getúlio Vargas, encomendou ao pintor Cândido Portinari , um painel para presentear em nome do Brasil, as Nações Unidas. Foram pintados dois painéis gigantes de 14m de altura por 10 m de largura, pesando 700 kg. O díptico Guerra e Paz foi considerado por seu criador como sua obra mais importante. Há 53 anos, quando ficou pronta, uma multidão emocionada se aglomerou dentro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro para se despedir de Guerra e Paz , que partiria de navio em breve para seu destino final- A sede das Nações Unidas, em Nova York. A intelectualidade da época havia exigido que a obra fosse exposta ao menos uma vez antes de sair do país.
Os painéis decoram o hall de entrada da sede da ONU, mas, uma reforma no edifício de Manhattan abriu a brecha para que os painéis voltassem ao Brasil. "Pela primeira vez desde 1956, as obras sairão de Nova York", conforme João Cândido, filho e diretor-geral do projeto Portinari que cuida da memória do pintor. Está sendo ali, elaborado um plano que deverá, a partir do ano que vem, levar Guerra e Paz a São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Paris. Antes de excursionar, os painéis deverão ser restaurados, pelo acordo celebrado com a ONU, e isso será feito no Rio de Janeiro. Depois disso, o díptico deverá seguir para Paris, para ser exposto no Grand Palais. Em 2011, quando findar a Exposição francesa, voltará mais uma vez ao país para, aí sim, começar o tour brasileiro.
Além de sua paixão pela pintura, Portinari era comprometido com o tema da paz. Essa militância já lhe havia rendido premiações e convites para integrar conferências sobre o assunto. Sentiu-se, então, obrigado a pintar os painéis. Em 1952 quando recebeu a proposta para a pintura, Portinari já sabia que sua saúde estava comprometida pela intoxicação causada pelo uso de tintas que continham chumbo.Mesmo proibido pelos médicos, não quis deixar de produzir o que seria o maior trabalho de sua vida. A doença acabou levando-o à morte em 1962.
Seus painéis foram considerados pela crítica americana como "os primeiros trabalhos de expressão realmente artística a entrar na ONU".
Guerra e Paz é considerada uma espécie de apoteose da utopia portinariana. É como se os principais temas de sua visão de mundo, depois de um longo exílio, voltassem para casa. Curiosidade: Por ter o visto negado, Portinari não participou da inauguração de seu painel na sede da ONU!!!
Provavelmente no Brasil, esta obra poderá ser apreciada em breve!!!
(Fonte: Revista Época).

3 comentários:

  1. Cara Vera:

    Obrigado por seu interesse pela obra e memória de meu pai.

    Entretanto, pelo texto da Revista Época, fica-se com a impressão que Portinari foi comissionado pelo Presidente Getúlio Vargas para pintar "Guerra" e "Paz".

    Julguei oportuno transcrever o texto de Antonio Bento (do livro PORTINARI, Léo Christiano Editorial) que narra o sucedido.

    Antonio Bento foi colega de Portinari na Escola Nacional de Belas Artes e tendo-se tornado um dos principais críticos e historiadores de arte brasileiros, acompanhou durante toda a sua vida a trajetória de Portinari. Aos 80 anos, com a ajuda do Prof. Israel Pedrosa, ex-aluno e amigo de Portinari, selecionou, dentre todo o material que possuía, o texto deste livro.

    Vejamos o que Antonio Bento nos conta a respeito de "Guerra" e "Paz":

    Em abril de 1950, o primeiro Secretário-Geral das Nações Unidas, Trygve Lie, declarou que acreditava existir um sentimento geral de que algo da cultura de cada uma das Nações-Membro deveria de alguma forma ser incorporado ao edifício-sede da ONU, em construção. Nessa ocasião ele anexou ao convite uma lista de sugestões para orientar os governos das nações interessadas em fazer doações representativas de suas culturas.
    Os dois painéis, "Guerra" e "Paz", foram encomendados no final de 1952. A direção da ONU manifestou ao nosso representante diplomático nos EUA, embaixador João Carlos Muniz, o desejo de que o Brasil doasse uma obra de arte para o seu novo edifício. O diplomata comunicou o pedido ao nosso governo. O embaixador Jayme de Barros chefiava na época a Divisão de Atos Internacionais do Itamaraty, além da Comissão de Organismos Internacionais. Cabia-lhe, assim, submeter o assunto ao nosso chanceler. Jayme de barros explicou-lhe que a decoração poderia ser uma escultura ou uma pintura. Adotada a primeira hipótese, a encomenda deveria ser feita a Brecheret, escultor de grande prestígio e um dos pioneiros da arte moderna no Brasil. Optando-se por uma pintura, o nome só poderia ser o de Portinari, pelas suas habilitações já comprovadas.
    O Ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura, inclinou-se para a segunda escolha, pedindo a Jayme de Barros que tratasse do assunto com o pintor.
    O embaixador João Carlos Muniz, cientificado da decisão, comunicou ao Itamaraty que o Secretário-Geral da ONU destinara à decoração as duas paredes que se defrontam no hall de entrada dos delegados. Era uma superfície considerável, de 280 metros quadrados, espaço maior do que o do Juízo Final, de Miguel Angelo, na Capela Sistina.

    Como se depreende deste histórico, não foi o Presidente Getúlio Vargas quem escolheu Portinari, mas sim o Ministro João Neves da Fontoura, instruído pelo embaixador Jayme de Barros...

    Cordialmente,

    João Candido Portinari
    Diretor-Geral
    Projeto Portinari
    Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
    portinari@portinari.org.br

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Caro Senhor!
    Agradeço-lhe pelos esclarecimentos enviados. Informo-lhe, porém que em nenhum momento pensei, através da leitura da revista Época, ter sido este um trabalho comissionado. deixa claro, isto sim, ter sido o trabalho, uma encomenda do próprio presidente Getúlio Vargas e não do Ministro João Neves da Fontoura, instruído pelo Embaixador Jayme de Barros.Mais uma vez, obrigada pelos subsídios valiosos!

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